Padaria que completa 60 anos no Centro resistiu a incêndio e abre até no feriado
Na Rui Barbosa, a Padaria Jandaia é uma das poucas ainda em funcionamento no Centro de Campo Grande. No mesmo prédio que abriu as portas há 60 anos, algumas receitas ainda são bem tradicionais, bom para a freguesia que é antiga tanto quanto o espaço.
O lugar já teve muitos donos. Surgiu na década de 60 e agora está sob o comando de Paulo Lira, que preserva o clássico pão saindo do forno para o café da manhã de muita gente. Com jeitão gaúcho na fala, ele diz com gosto sobre acordar cedo para chegar às 5h30 no trabalho e abrir as portas da Jandaia.
Há sete anos ele comprou o lugar do irmão, que ficou ali por mais de uma década. Antes disso, desconhece a história do endereço. "Sei que já passaram alguns por aqui", afirma.
A diferença do lugar é que, apesar de passar de mão de mão, as tradições ficaram. Tanto que Paulo não perdoa nem feriado. A padaria está de portas abertas até em Natal e Ano Novo. "Não tem como fechar, virou tradição. Tem gente que chega cedo para trabalhar e aqueles que vão pra casa depois do serviço no período noturno. Todos já sabem que a gente é a única padaria do Centro que abre em qualquer feriado".
Nem uma crise apaga o esforço do dono. Em 2012, cerca de 80m² da padaria foram destruídos pelo fogo, além de todos os equipamentos para a produção de pães, que ficavam nos fundos da Jandaia. Depois que as chamas foram controlados pelo Corpo de Bombeiros, Paulo e a família voltaram aos trabalhos no mesmo dia.
Ele diz que a paixão pelo comércio sempre falou mais alto. Já foi dono de restaurante e lanchonete no Centro, até que surgiu a oportunidade de comprar a padaria do irmão. "É uma das poucas que continua fazendo pão e muitos moradores antigos estão acostumados com a gente", justifica.
Seu Omar de Almeida, de 93 anos, confirma a longevidade. É um dos fregueses mais antigos e feliz com a tradição do lugar. "Aqui, eu sou muito bem recebido, ela [atendente] já sabe o que eu quero".
Todos os dias ele sai da residência em que mora no Bairro Amambaí e vai até a padaria de ônibus tomar um pingado e comer a broa de milho. É freguês há pelo menos 30 anos. Nascido e criado em Campo Grande, viu por muito tempo o local sempre cheio e hoje nem tanto, diz. "As pessoas passam muito rápido na padaria. Antigamente, a gente ficava mais tempo pra um dedo de prosa e todo mundo se conhecia", ri.
O mesmo faz Manoel de Souza, de 69 anos, que há uma década toma café da manhã todos os dias por ali. Ele se recorda da padaria ainda na infância, quando começou a trabalhar como engraxate na Afonso Pena. "Eu não lembro quem era o dono, mas a gente sabia de tudo aqui no Centro, muito morador vinha de longe pra tomar café na Jandaia. O nome ainda ficava no chão".
A padaria serve chipa, enroladinho, sopa paraguaia e empadas. Mas não tem salgado que bata o pão com manteiga e café a R$ 2,75 todos os dias. "É o preferido dos clientes, não tem jeito", afirma o dono
Os pães são fresquinhos e só vão ao forno de manhã. O dono diz que a produção nunca caiu, mas admite que com tanta lanchonete não é todo mundo que come o francês.
Isabel Peres Guimarães, de 69 anos, mora há pouco tempo em um edifício antigo do Centro e só agora descobriu que a padaria existia. "Eu sentia falta de uma panificadora por aqui e comprava pão de forma em uma conveniência. Quando meu marido soube daqui, todo dia tem francês quentinho em casa. Minha netinha adora".
Além da panificação, o estabelecimento agora também trabalha com prato-feito a R$ 6,90 na hora do almoço, com arroz, feijão, carne e salada. O local funciona das 5h30 até às 19h. Domingos e feriados fica aberto até o meio dia.
O espaço é pequeno em vista de outros estabelecimentos da região e quem chega para o café da manhã pega um lugarzinho no balcão, que é o mesmo desde que foi inaugurado. Os pedidos são feitos a única atendente que serve o café, prepara o pão e entrega os salgados. Por isso, em alguns momentos o comércio é feito na base da confiança, onde o cliente diz quanto deve.
A Jandaia fica na Rui Barbosa, 2733, Centro.