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Meio Ambiente

Aberta temporada de pesca em MS, comerciantes da Capital falam em cautela

Setor aposta na estruturação de acomodações e novos destinos no calendário da pesca esportiva

Cleber Gellio e Aline dos Santos | 01/03/2022 14:15
Procura por iscas vivas na Capital ainda é tímida, segundo comerciantes. (Foto: Paulo Francis)
Procura por iscas vivas na Capital ainda é tímida, segundo comerciantes. (Foto: Paulo Francis)

Está aberta a temporada de pesca em Mato Grosso do Sul. Com o fim da piracema, período de defeso reservado à reprodução dos peixes, nesta segunda-feira (dia 28), os setores de comércio e turismo de pesca aguardam com expectativa o retorno das atividades.

De acordo com o presidente da Fundação de Turismo, Bruno Wendling, “a expectativa para pesca esportiva este ano é positiva", uma vez que o setor tem investido na divulgação da prática no Estado de forma mais abrangente e novos destinos inseridos no calendário. “A gente tem conversado com empresários de Corumbá, que nos relataram que para os barcos-hotel, a expectativa é de alta ocupação para este ano, além de outros destinos como Águas de Miranda, que está fazendo a transição para a pesca esportiva, e Três Lagoas, que também tem despontado como novo destino para a prática.”

Wendling ressalta que o perfil dos turistas que buscam este tipo de lazer e visitam o Estado tem mudado e atraído cada vez mais famílias. O que eleva o gasto médio deixado na economia local. “A gente tem apoiando esses novos destinos com campanhas promocionais como a reabertura da temporada de pesca, com campanhas publicitárias, envolvendo divulgação. A modalidade pesca e solte continua crescendo e o perfil é cada vez mais familiar, o que aumenta o gasto médio. Os empresários estão se adaptando e estruturando e elevando o conforto em seus empreendimentos, como pousadas e pesqueiros, além de investimentos em gastronomia.”

Comerciante Eliene Vilela Rodrigues afirma que crise financeira é única. (Foto: Paulo Francis)
Comerciante Eliene Vilela Rodrigues afirma que crise financeira é única. (Foto: Paulo Francis)

Quem aguarda os resultados desses investimentos é o comerciante Eliene Vilela Rodrigues, 47 anos. Ele abriu a loja, especializada em artigos para pescaria bem antes do horário comercial e às 6h, já estava tudo pronto para receber o público que costuma acordar cedo. No entanto, o movimento pela manhã foi fraco. “Em pouco mais de duas horas de loja aberta, apenas um cliente passou aqui e levou isca viva”.

Há 15 anos, no mesmo ponto, na Avenida Salgado Filho, o ex-funcionário assumiu o negócio há cinco anos e afirma nunca ter passado por momento semelhante. Ele acredita que além da recessão econômica ocasionada, em boa parte, pela pandemia de covid, os preços altos das iscas, carro-chefe de seu comércio, têm influenciado nas vendas. “As secas no Pantanal nos últimos anos foram muito severas, o que reduz o volume de iscas e consequentemente eleva os preços. Antes, eu vendia cerca de 1.000 unidades de tuvira por semana, acredito que agora não passará de 300”. Ele ainda conta com iscas de mussum e curimba.

Hoje, a tuvira é uma das iscas vivas mais procuradas entre os pescadores, já que a minhocuçu está proibida, e custa em média R$ 60,00 a dúzia, tamanho médio e o maior é comercializado a R$ 100,00. Já o lambari sai bem mais em conta, R$ 12,00 a dúzia. No caso da tuvira, o preço de custo unitário saltou de R$ 1,00, antes da pandemia, para R$ 3,30. Esse agravante, segundo ele, deve-se à escassez de iscas no mercado de Mato Grosso do Sul e, por isso, tem que comprar do estado vizinho, que tem período de defeso diferente. “A isca chegou para mim ontem à noite, de Mato Grosso, que tem fecha e abre da piracema um mês antes. Por isso, também comercializam iscas antes.”

Carmem Acorci diz que momento é de estudo e cautela para o setor. (Foto: Paulo Francis)
Carmem Acorci diz que momento é de estudo e cautela para o setor. (Foto: Paulo Francis)

Há mais de 35 anos no ramo da piscicultura, Carmem Acorci, 57 anos, ao longo da carreira, mudou a trajetória dos negócios, uma vez que percebeu a relevância da preservação das espécies do Pantanal para a sustentabilidade do turismo de pesca. Ela alerta para a situação que o extrativismo de iscas pode provocar em toda a cadeia produtiva. Atualmente, a empresa que administra trabalha somente no atacado, com iscas de cativeiro. “Há três décadas, vivíamos uma outra realidade, tínhamos uma oferta abundante de espécies em inúmeras bacias no Estado. Por exemplo, era possível pegar isca dentro de Campo Grande. Hoje, a realidade é outra e se não atentarmos para isso, o setor sofrerá ainda mais”.

Ela lembra que lá no início, perseguia o trajeto que os cardumes faziam em busca de iscas. Começaram no município de Aquidauana, posteriormente em Corumbá e devido à inviabilidade do modelo predatório, migrou de atividade, porém no mesmo ramo. “Chegamos ao ponto de adquirir um barco para nos deslocarmos para as regiões onde pudéssemos encontrar iscas. E assim, foi ficando inviável a manutenção dentro daquele modelo de captura e passamos a criar e comercializar.”

Sobre as perspectivas para o setor, acredita ser ainda cedo para uma análise que projete o mercado. “Acho que será um ano de estudo, já que muitos contratos do setor turístico foram fechados antes da pandemia e os empresários terão que cumprir com custos mais elevados, reduzindo assim lucro e a capacidade de investimentos.”

Conscientização - A empresária acredita que o setor precisa rever o modelo adotado atualmente e começar a colocar em prática conceitos ambientais exigidos pelos clientes, cada vez mais conscientes sobre preservação. Ela encabeça uma parceria com os empresários do Estado para que os peixes servidos aos turistas a bordo das embarcações não sejam de captura nos rios locais. “Para o turista, é muito mais interessante pescar e soltar esse exemplar do que consumir. Isso só possível se preservamos nossos berçários”, finalizou.

Serviço – Para a pesca amadora, é preciso emitir a licença ambiental do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) e ficar atento às regras. Para a Licença Digital de Pesca, o interessado deve acessar o site do Imasul (www.ms.gov.br) ou por meio do aplicativo MS Digital, disponível nas lojas de Android e iOS.

As regras - Desde 2020, só é permitido ao pescador levar um exemplar de peixes de espécie nativa (por exemplo: pacu, pintado, cachara, jaú), além de cinco exemplares de piranhas, dentro das medidas mínima e máxima. Se a espécie pescada estiver fora dos tamanhos permitidos, deve ser solta imediatamente no local. Já a pesca do dourado segue proibida até 2024, conforme Lei nº 5.321, de 10 de janeiro de 2019.

Com relação às espécies consideradas exóticas, não há cota. O pescador pode levar qualquer quantidade que conseguir pescar. São consideradas exóticas (não pertencem à fauna local) as espécies apaiari, bagre africano, black bass, carpa, peixe-rei, sardinha-de-água-doce, tilápia, tucunaré, zoiudo, tambaqui.

Confira a tabela com as espécies e medidas permitidas:

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