ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
NOVEMBRO, SEXTA  22    CAMPO GRANDE 28º

Meio Ambiente

Fogo por manutenção nos trilhos já foi alvo de ação contra empresa em MS

Rumo Logística assumiu ônus de incêndio ocorrido em 2007 e contesta sentença que obriga plantio de mudas

Por Silvia Frias | 02/09/2024 11:48
Dormentes de madeira ao logo da via, material que deveria ter sido retirando, segundo Ibama (Foto/Divulgação/Ibama)
Dormentes de madeira ao logo da via, material que deveria ter sido retirando, segundo Ibama (Foto/Divulgação/Ibama)

Não é de hoje que o fogo cruza os trilhos da Rumo Logística, atual concessionária da Malha Oeste. Mais recentemente, a destruição de 17.817 hectares resultou em multa de R$ 57 milhões depois que a manutenção dos dormentes provocou a faísca que fez o incêndio se alastrar, segundo o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).

O fogo aconteceu no dia 16 de agosto deste ano, na região de Porto Esperança, em Corumbá, a 428 quilômetros de Campo Grande. O fogo demorou seis dias para ser controlado e atingiu 12 imóveis rurais na região.

Em entrevista ao site Repórter Brasil, a analista ambiental do Ibama, Ana Cacilda Rezende diz que havia vegetação seca ao redor da linha, porque a Rumo não estava fazendo a limpeza. Qualquer faísca seria temerária. Segundo ela, a situação se enquadra como “imperícia, imprudência e negligência”. Dormentes de madeira usados nos trilhos estavam largados ao longo da via, material ajudou a agravar o incêndio, de acordo com a fiscalização.

Faísca de equipamento usado na manutenção de trilho em Corumbá (Foto/Divulgação/Ibama)
Faísca de equipamento usado na manutenção de trilho em Corumbá (Foto/Divulgação/Ibama)

Histórico - A Rumo Logística deve arcar com o ônus de problema semelhante, ocorrido em 2007, quando a malha ferroviária ainda pertencia à ALL (América Latina Logística Malha Norte S/A). Naquele ano, o uso de maçarico provocou incêndio que atingiu 359.970 hectares em Miranda, a 208 quilômetros de Campo Grande.

O fogo consumiu grande parte da RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural), além de 160 hectares da Fazenda Capão do Pires, também em Miranda.

Perícia do Ibama constatou que o incêndio foi causado pelo uso de maçarico de corte durante a manutenção da linha férrea. O equipamento lançou partículas incandescentes nas imediações, iniciando o fogo. A situação ainda agravou por conta das condições climáticas, de calor e baixa umidade.

Com a compra da ALL pela Rumo Logística, em abril de 2014, a penalidade judicial recaiu sobre a empresa: em março de 2023, a 1ª Vara de Miranda determinou que a companhia ferroviária faça o plantio de 5.299.558 mudas de 1,50 metros de altura na região da Bacia do Alto Paraguai em prazo de cinco anos.

A empresa apresentou contestações, a mais recente, em novembro de 2023. A Rumo Logística diz que o cumprimento do “gigantesco plantio” em prazo exíguo de cinco anos a obriga a desembolsar valores relevantes e mobilizar muitos colaboradores, sob o risco de, ainda assim, ser condenada a pagar a multa diária por não conseguir efetivar a meta. A multa em caso de descumprimento é de R$ 2 mil limitada a R$ 200 mil.

A Rumo ainda diz que a condenação é exagerada e carece de fundamento técnico e que há risco de danos irreparáveis à empresa, por conta do capital a ser investido na empreitada.

Em fevereiro de 2024, o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) apresentou contestação (contrarrazões de apelação) para que a sentença seja mantida na íntegra.

Diz que, à época, a ALL usou maçarico para corte, “ao invés de valer-se de disco policorte ou furadeira, instrumentos que não são capazes de propagarem faíscas”. Porém, uma decisão intermediária deste caso, em 2008, havia parágrafo que tratava do uso desses equipamentos, o que foi indeferido pela Justiça, pois também produziriam grande quantidade de faísca.

Neste processo, a empresa anexou o testemunho de técnico, encarregado das manutenções, dizendo que atualmente não se usa geradores de faísca, como maçaricos, para o serviço na linha férrea. “(...) a tecnologia atual inclui técnicas de imediato resfriamento do local de manutenção, exatamente para evitar qualquer intercorrência como incêndios”.

A reportagem entrou em contato com a Rumo Logística para questionar qual procedimento é utilizado para evitar propagação de faíscas e aguarda retorno.

Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.

Nos siga no Google Notícias