Incêndio que começou na terça espalha focos pela Serra de Maracaju
Fogo começou em barracos e é acusado de ser criminoso
Um incêndio que começou em um acampamento de famílias sem-terra, a cerca de 26 km de Campo Grande, na região de Rochedinho, na terça-feira (12) por volta das 7h30, espalhou focos por cerca de 5 quilômetros ao longo da MS-010, na Serra de Maracaju. Cerca de 50 barracos foram destruídos na terça-feira, e uma propriedade rural da região teve 100 hectares atingidos.
Na tarde desta sexta-feira (15), famílias do quilombo Furnas do Dionísio ainda apagavam focos do incêndio e perderam equipamentos de irrigação, que foram queimados e renderam prejuízo de cerca de R$ 3 mil. Além da terra quilombola e do acampamento, propriedades rurais ao longo da rodovia ainda exibiam fumaça e pequenos focos.
Confira as imagens da Serra nesta sexta-feira:
"Faz quase uma semana que estamos tentando apagar os focos", comentou o morador de Furnas e produtor de hortaliças, Julio Batista Gomes, 57. Ele vive no local há 30 anos. Julio afirma que apenas viu o Corpo de Bombeiros passar pela região, mas não tem informações sobre a ação de controle do incêndio.
Valdir Benitez, 43, é funcionário da Fazenda Barreiro, que possui 3,5 mil hectares. Ele conta que o incêndio só foi controlado na madrugada de quarta-feira (13). Conforme explicou, um corredor de fogo se espalhou por 100 hectares da propriedade, local que era usado como pastagem para o gado.
Para controlar o fogo, funcionários das fazendas da região fizeram uma força-tarefa durante toda terça até a madrugada de quarta-feira.
"Pegou fogo na parte de lavoura de pecuária. Os vizinhos fizeram uma força-tarefa e cercamos o fogo. A gente deixou dentro do mato, como estamos na Serra, lá tem uma estrada antiga, a gente fez um fogo contrário e conseguimos levar até essa estrada", contou ele.
As chamas também atingiram a propriedade arrendada por André Myska, 46. O local é utilizado para a prática esportiva de rampa de voo livre há 3 anos. André contou que o incêndio atingiu algumas pastagens e a parte inferior da Serra de Maracaju, que integra a propriedade. Algumas árvores foram queimadas, segundo o arrendatário.
"É um processo natural do cerrado, lidar com o fogo, as próprias árvores já tem a casca preparada. Não é bom para a terra, claro, mas é um processo do cerrado. Mas essa seca está durando mais do que o normal", comentou.
Incêndio pode ser criminoso
O local onde o fogo começou integra um processo de reforma agrária junto ao Incra (Instituto nacional de colonização e reforma agrária) de Mato Grosso do Sul, conforme relatou uma das lideranças do acampamento, Almir Machado Guimarães, da UGT (União Geral do Trabalhador). No momento do incêndio não havia pessoas nos barracos, onde vivem 180 famílias, conforme explicou.
Almir relata que o local tem sido alvo de furtos, e o último teria ocorrido no dia 10, segundo ele. A área em questão irá abranger um assentamento com 1200 famílias. Conforme explicou, 5 fazendas dos dois lados da MS-010 serão compradas e loteadas. Cada família deverá ser contemplada com um lote de 18 hectares.