Queimadas no Pantanal: estudo revela impactos severos na saúde humana
Internações por doenças respiratórias aumentam de 26% a 34% durante os meses de seca, quando ocorrem incêndios
Um estudo recém-publicado aponta os graves impactos das queimadas no Pantanal para a saúde humana, não apenas em nível local, mas também em várias outras regiões do Brasil.
RESUMO
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Um estudo revela o impacto devastador das queimadas no Pantanal na saúde humana, demonstrando um aumento de 26% a 34% nas internações por doenças respiratórias durante a seca, principalmente devido à inalação de material particulado fino. Grupos vulneráveis, como idosos e crianças, são ainda mais afetados, com taxas de internação significativamente mais altas. A fumaça gerada pelas queimadas se espalha por longas distâncias, afetando outras regiões do Brasil e causando problemas respiratórios em populações distantes do Pantanal, além de contribuir para a formação de chuva ácida com consequências adicionais para a saúde e o meio ambiente.
A pesquisa, realizada entre 2003 e 2019, analisou os dados de internações hospitalares em 17 municípios dos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, e concluiu que as internações por doenças respiratórias aumentam de 26% a 34% durante os meses de seca – entre julho e setembro – quando a maior parte dos incêndios ocorre.
A doutora Camila Lorenz, bióloga e integrante da equipe de pesquisa, explica que a principal causa desse aumento sazonal nas internações é a inalação de material particulado fino gerado pelas queimadas.
Esses particulados, especialmente os de 2,5 micrômetros de diâmetro, penetram profundamente nos pulmões, chegando até a corrente sanguínea, o que pode causar uma série de doenças a longo prazo, incluindo problemas respiratórios, cardiovasculares e até câncer.
Entenda - O estudo, intitulado "Historical association between respiratory diseases hospitalizations and fire occurrence in the Pantanal wetland, Brazil", foi publicado na revista científica Atmospheric Pollution Research e analisou uma série histórica de internações de 2003 a 2019, utilizando dados do Sistema de Informações de Agravos de Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde. A pesquisa envolveu municípios de Mato Grosso do Sul como Corumbá, Aquidauana e Miranda, e de Mato Grosso como Cáceres e Poconé.
Entre os resultados mais alarmantes, está o aumento acentuado nas internações por doenças respiratórias entre grupos vulneráveis. Idosos com mais de 60 anos apresentaram taxas de internação três vezes mais altas durante a seca, enquanto as crianças de 0 a 5 anos tiveram um aumento de quatro vezes nos índices de internação.
Os municípios com maior incidência de queimadas, como Corumbá, também foram os que registraram os maiores aumentos nas hospitalizações.
Material particulado - A pesquisa destaca que, durante os incêndios florestais no Pantanal, ocorre a chamada "combustão incompleta", que libera uma mistura de dióxido de carbono (CO2) e material particulado.
Esse material, especialmente o fino, que tem um diâmetro de apenas 2,5 micrômetros, representa um grave risco à saúde. Lorenz alerta que essas partículas entram no trato respiratório, chegam aos pulmões e, em seguida, passam para a corrente sanguínea, podendo afetar órgãos vitais como o coração, o cérebro e os rins.
A inalação constante de material particulado fino está associada ao aumento de doenças respiratórias como asma, bronquite, pneumonia e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), além de problemas cardiovasculares, como infarto e acidente vascular cerebral (AVC). Também existe uma relação com doenças neurológicas e até complicações no sistema reprodutivo, como o nascimento de bebês com baixo peso.
Estamos conectados - Embora os moradores do Pantanal sejam os mais afetados pelas queimadas, a fumaça gerada por esses incêndios se propaga por longas distâncias, afetando também outros estados. A
s chamadas "plumas de poluição" podem atingir vastas regiões do Brasil, como ocorreu no final de setembro de 2024, quando os incêndios no Pantanal, Amazônia, Cerrado e Bolívia resultaram em uma nuvem de poluição que cobriu mais de 80% do território nacional.
Essas plumas de fumaça se deslocam por meio de correntes de ar, conhecidas como "rios voadores", que normalmente transportam umidade, mas, durante a estação seca, também carregam fumaça. No final de setembro de 2024, a fumaça impactou diretamente a Região Sudeste, criando um cenário de névoa persistente, especialmente em São Paulo, onde a pluma de poluição ficou estacionada por vários dias.
A doutora Camila Lorenz compartilhou sua experiência, relatando que, em São Paulo, a fumaça gerada pelos incêndios provocou um aumento na procura por atendimento médico nas unidades de saúde, com muitos moradores sofrendo de irritação nas vias respiratórias e nos olhos.
Recomendações - Com a constante ameaça das queimadas e seus impactos na saúde pública, a Dra. Lorenz orienta a população sobre como reduzir a exposição à fumaça. "Nossa recomendação é fechar todas as janelas e portas de casa, evitar atividades ao ar livre e, caso precise sair, usar máscara, especialmente a N95, que foi amplamente utilizada durante a pandemia de COVID-19", disse.
Chuva ácida- Além dos impactos diretos da inalação de material particulado fino, a poluição do ar pode resultar na formação de chuva ácida, um fenômeno que já afetou várias cidades brasileiras, incluindo São Paulo, em 2024.
A chuva ácida ocorre quando compostos como dióxido de enxofre e óxidos de nitrogênio reagem com a água da chuva, formando ácidos que contaminam o solo e os corpos d'água, prejudicando a biodiversidade e a agricultura.
Lorenz alerta que, além da corrosão de monumentos e estruturas metálicas, a chuva ácida pode ter consequências ainda mais graves para a saúde humana. "Quando a chuva ácida carrega material particulado, há um risco significativo de aumento das internações hospitalares, e a longo prazo, o desenvolvimento de doenças graves", conclui.
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