Com apoio de ruralista, deputados vão criar a CPI do Genocídio indígena
A bancada do PT conseguiu a assinatura de oito parlamentares para criar a CPI do Genocídio aos Povos Indígenas do Estado. A principal surpresa foi o apoio do deputado Zé Teixeira (DEM), um dos representantes da ala ruralista. O requerimento já foi entregue a presidência da Assembleia e só falta a criação oficial da nova comissão parlamentar.
Assinaram o requerimento os deputados da bancada do PT: João Grandão, Pedro Kemp, Amarildo Cruz e Cabo Almi, além de Zé Teixeira (DEM), Lídio Lopes (PEN), Maurício Picarelli (PMDB) e Beto Pereira (PDT). A deputada Mara Caseiro (PT do B), presidente da CPI do Cimi, também avisou que vai assinar o documento.
O deputado Pedro Kemp (PT), proponente da investigação, ressaltou que esta CPI vai apurar a omissão do Estado nos casos de violência praticados contra os povos indígenas. “Vamos saber porque os crimes contra indígenas não tem uma apuração das autoridades, a investigação não caminha, não anda, existem milícias armadas para o confronto pela terra, mas nada é apurado”.
A investigação vai se concentrar no assassinatos e crimes contra os indígenas no período de 2000 até 2015. “Na nossa avaliação existe um genocídio dos povos indígenas, e lembramos vários casos de mortes que não foram entre índios, os últimos de Oziel na fazenda em Sidrolândia e Simeão neste ano, as mortes não são esclarecidas, a justiça é cruel com os pobres e vagarosa para os ricos, ninguém até hoje foi punido”.
Mara Caseiro ainda apresentou um relatório da Sisp (Superintendência de Inteligência de Segurança Pública), que aponta que nos homicídios dolosos, com vítimas indígenas, de 2008 até 2015, foram registrados 229 inquéritos, sendo que 155 foram descobertos a autoria do crime sendo índios, e apenas 9 não índios. Entre as motivações 88 dos casos por bebidas e drogas, 44 desentendimento interpessoal e quatro de vingança.
Apoio – Um grupo de 200 pessoas esteve na Assembleia para apoiar a criação da CPI do Genocídio Indígena, entre eles representantes de comunidades indígenas e de movimentos sociais, como CUT (Central Única do Trabalhador) e Fetems (Federação dos Trabalhadores em Educação de MS).
“Se faz de um lado, pode fazer do outro, são 390 vidas em 12 anos, a Fetems tem um artigo no seu regimento que visa defender e apoiar as minorias, tem que investigar estes casos de assassinatos”, disse o presidente da entidade, Roberto Botarelli.
Já Genilson Duarte, presidente estadual da CUT, disse que o grupo apoia esta nova CPI, em solidariedade aos povos indígenas que já presenciaram muitos assassinatos, sem solução. “Ao invés de investigar esta situação, preferem criminalizar os movimentos sociais”.
Antes de entrar na Assembleia, o grupo teve uma reunião onde se pediu aos integrantes que não houvessem ofensas aos parlamentares, em especial a Mara Caseiro, para evitar a confusão que ocorreu na semana passada, que terminou com agressões e depoimentos na delegacia.