Crise na OAB continua e opositores a Júlio discutem até boicote eleitoral
A decisão de ontem à noite do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de manter Júlio Cesar Souza Rodrigues à frente da seccional de Mato Grosso do Sul e convocar eleição suplementar para quatro cargos vagos da Diretoria da OAB-MS apenas prolonga a crise e faz surgir propostas variadas, como a judicialização do problema e até mesmo boicote eleitoral.
Ex-presidente da OAB-MS e ex-conselheiro federal, o advogado Carlos Marques considera que a decisão do Conselho Federal criou um “frankstein” e foi tomada por quem não quer resolver problemas. “Foi um remendo de decisão, uma anomalia jurídica”, definiu Marques, justificando que não existe no Estatuto da OAB a previsão de “eleição parcial”, mas apenas de chapa completa.
O grupo de Carlos Marques, que inclui os 81 diretores e conselheiros que renunciaram aos cargos na entidade e outros ex-presidentes da OAB, como Carmelino Resende e Leonardo Duarte, se reúne esta noite, a partir das 18 horas, para discutir as medidas a serem tomadas diante da decisão do Conselho Federal de não intervir na seccional de MS e convocar eleição, para daqui a 60 dias, apenas para os cargos de vice-presidente, tesoureiro, secretário-geral e secretário-adjunto.
Uma das propostas que será analisada será a de “boicotar” a eleição parcial convocada pelo Conselho Federal para a OAB-MS. “Já me ligaram falando sobre isso. Temos de analisar. Não parei para pensar nisso ainda. Penso que não tem previsão estatutária do que aconteceria em caso da maioria dos advogados votarem em nulo ou em branco. Também não sabemos o que aconteceria com a chapa que o Júlio pretende montar”, afirmou Marques.
O certo mesmo, segundo Carlos Marques, é que vai ficar muito difícil para os renunciantes se candidatarem nessa eleição suplementar. “Se renuncio é porque não aceito ficar com ele (Júlio Cesar). Ser eleito de novo para que?”, questionou o advogado. “Para brigar com ele de novo”, respondeu ele mesmo
Na opinião dele, o Conselho Federal da OAB fez ontem, em Brasília, a “coisa mais louca do mundo” ao manter Júlio Cesar no cargo. “Foi decisão de quem não quer por a mão na ferida. Aqui nós cortamos a própria carne, lá não quiseram mexer no problema. Por isso a Ordem está cada vez mais desgastada. Esse é o mal de não ter eleição direta para presidente do Conselho Federal. O candidato a presidente faz mil compromissos e acordos para a eleição e vai se afastando cada vez mais da advocacia”, desabafou o ex-presidente. “O Conselho Federal está vivendo outro mundo”, acrescentou.
Desagradando a todos - Para o ex-secretário-geral adjunto Jully Heyder, o Conselho Federal “arrumou um jeito de contornar o problema para manter o Júlio”, acabou perpetuando a crise na OAB-MS e desagradando a todos. “Manter o Júlio na OAB não podemos admitir”, afirmou.
Para Heyder, até mesmo Júlio Cesar ficou descontente com o resultado. “O Júlio saiu de lá baqueado. Não queria essa eleição”, argumentou. “A tese defendida por ele era de que Conselho Federal pudesse nomear os conselheiros seccionais e ele fazer eleição indireta aqui para os quatro diretores”, emendou.
Considera que o Conselho Federal da OAB arrumou uma maneira de o problema persistir no Estado e isso foi um “desrespeito com a advocacia de Mato Grosso do Sul”.
Apoio à oposição - Diante da dificuldade de os dissidentes lançarem candidatos para disputar com Júlio Cesar os quatro cargos da Diretoria da OAB-MS e o conselho, Carlos Marques admite como alternativa apoiar a oposição. “Não descartarmos essa possibilidade, para que a oposição tenha maioria no Conselho do Júlio”, disse.
Indagado se a situação de ingovernabilidade da OAB-MS não ficaria muito pior, já que estariam juntos na mesma diretoria posições políticas acentuadamente divergentes, Marques concordou. “Ficaria muito pior, porque esse pessoal não vai ter compromisso nenhum com ele”, apontou. “Mas é isso que fez o Conselho Federal”, lamentou.
Outra alternativa, de acordo com Marques, é buscar o socorro na Justiça para tentar acabar com a crise na OAB-MS. “Vamos ver se vamos judicializar ou não na reunião de hoje”, declarou o advogado, que não escondeu todo a sua decepção com a decisão de ontem. “O Conselho Federal ignorou tudo que o Júlio fez, e ficou tratando tudo de tecnicamente. A essência foi deixada de lado”, testemunhou.