Crise no Paraguai com acordo de Itaipu não atingirá ponte em MS, diz Marun
Protestos pelo país vizinho veem prejuízo em negócio com o Brasil; conselheiro afirma que obra em Murtinho não integra acordo
A tensão política no Paraguai em protestos ao acordo firmado pelo país com o governo brasileiro envolvendo a negociação de energia de Itaipu –e que já culminou nas demissões do embaixador paraguaio no Brasil e de José Alberto Alderete Rodriguez da direção da empresa energética, entre outros– não deve atingir os acordos para construção das pontes ligando os dois países, em Foz do Iguaçu (PR) e em Porto Murtinho (a 431 km de Campo Grande).
A avaliação é do conselheiro da Itaipu Binacional, Carlos Marun, que confirmou acompanhar os desdobramentos da crise que atinge o governo do mandatário do Paraguai, Mario Abdo Benítez, motivada pelo argumento de que o acordo chancelado em 24 de maio com o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, gerou prejuízo financeiro para o país vizinho.
“Isto não modifica o acordado entre os presidentes Temer e Mario Benitez, ratificado pelo presidente Bolsonaro e aprovado pelo Conselho de Administração. Itaipu Binacional vai pagara a construção das duas pontes entre os dois países”, afirmou, referindo-se ao entendimento entre o ex-presidente Michel Temer –de quem Marun foi ministro-chefe da Casa Civil– e Benítez.
O conselheiro lamentou, porém, a saída de Alderete da direção da Itaipu Paraguai, creditando a ele todos os avanços envolvendo a construção das pontes, em especial da estrutura em Murtinho –integrante da rota bioceânica.
“O afastamento do sr. Alderete e de sua equipe não deixam de se constituir em uma perda, haja vista a sua dedicação intensa e pessoal ao processo de construção, principalmente, da nossa ponte bioceânica. Foi com ele quem tratei pela primeira vez e posso afirmar que, sem o seu empenho pessoal, o objetivo de celebrarmos o acordo não teria sido alcançado”, destacou Marun. “Sem desfazer dos outros protagonistas, afirmo que Mato Grosso do Sul, o Paraguai e o Brasil devem muito a este homem público”.
Alderete esteve em maio deste ano em Porto Murtinho, onde se reuniu com o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) e discutiu detalhes da ponte que ligará o município a Carmelo Peralta, do lado paraguaio, de onde se estenderão rotas rodoviárias rumo a Argentina e Chile e, dali, aos mercados asiáticos por meio de portos no Oceano Pacífico.
A Itaipu Paraguai concordou em construir a ponte ao custo de US$ 75 milhões, como reiterado há duas semanas após encontro entre Reinaldo e Benítez, que em 20 de julho lançou a licitação da ponte estaiada de 260 metros, com previsão de conclusão em abril de 2023.
Crise – Nesta segunda-feira, em meio ao aumento dos questionamentos sobre o acordo Paraguai-Brasil –que envolveram inclusive protestos em frente ao Congresso paraguaio–, o ministro das Relações Exteriores, Luis Castiglioni, o chefe da Anda (Administração Nacional de Eletricidade), Alcides Jiménez, o embaixador paraguaio no Brasil, Hugo Saguier Caballero, e José Alderete colocaram seus cargos à disposição do presidente Benítez, que aceitou as demissões.
Tratado como “pacto secreto” pela mídia paraguaia, o acordo bilateral é apontado como prejudicial aos interesses do país vizinho. Ele prevê a compra de energia de Itaipu pelo Brasil até 2022, um ano antes da renegociação do tratado para criação de Itaipu.
A opinião pública e a oposição apontam que o documento foi assinado sem consulta pública prévia. Os quatro demissionários prestariam depoimento nesta segunda-feira ao Senado do Paraguai, que os desconvocou. Sindicatos e a população foram às ruas protestar contra o acordo, inclusive na porta do Senado.
O problema principal no acordo reside na forma de venda da energia produzida na Itaipu Binacional. Conforme o ABC Color, há dois tipos produzidos: a garantida, mais cara, e a adicional, um excedente que é mais barato. Desde 2007, o Paraguai se beneficia da energia adicional em maior quantidade, em acordo firmado com o Brasil que envolveu a instalação de duas novas turbinas.
No novo entendimento, o Paraguai teria renunciado ao benefício de usar a energia adicional e aceitou usar a garantida em igual proporção. Isso geraria um gasto extra de até US$ 350 milhões para a Ande.
O Governo Benítez argumenta que o acordo foi benéfico para o Paraguai. Antes de renunciar, porém, Castiglioni admitiu pedir ao Brasil que revisse os termos.