ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
NOVEMBRO, SEXTA  22    CAMPO GRANDE 25º

Política

Crise no Paraguai com acordo de Itaipu não atingirá ponte em MS, diz Marun

Protestos pelo país vizinho veem prejuízo em negócio com o Brasil; conselheiro afirma que obra em Murtinho não integra acordo

Humberto Marques | 29/07/2019 17:00
Manifestantes se reuniram em frente ao Congresso paraguaio para protestar contra acordo de compra da energia de Itaipu. (Foto: ABC Color/Reprodução)
Manifestantes se reuniram em frente ao Congresso paraguaio para protestar contra acordo de compra da energia de Itaipu. (Foto: ABC Color/Reprodução)

A tensão política no Paraguai em protestos ao acordo firmado pelo país com o governo brasileiro envolvendo a negociação de energia de Itaipu –e que já culminou nas demissões do embaixador paraguaio no Brasil e de José Alberto Alderete Rodriguez da direção da empresa energética, entre outros– não deve atingir os acordos para construção das pontes ligando os dois países, em Foz do Iguaçu (PR) e em Porto Murtinho (a 431 km de Campo Grande).

A avaliação é do conselheiro da Itaipu Binacional, Carlos Marun, que confirmou acompanhar os desdobramentos da crise que atinge o governo do mandatário do Paraguai, Mario Abdo Benítez, motivada pelo argumento de que o acordo chancelado em 24 de maio com o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, gerou prejuízo financeiro para o país vizinho.

“Isto não modifica o acordado entre os presidentes Temer e Mario Benitez, ratificado pelo presidente Bolsonaro e aprovado pelo Conselho de Administração. Itaipu Binacional vai pagara a construção das duas pontes entre os dois países”, afirmou, referindo-se ao entendimento entre o ex-presidente Michel Temer –de quem Marun foi ministro-chefe da Casa Civil– e Benítez.

O conselheiro lamentou, porém, a saída de Alderete da direção da Itaipu Paraguai, creditando a ele todos os avanços envolvendo a construção das pontes, em especial da estrutura em Murtinho –integrante da rota bioceânica.

“O afastamento do sr. Alderete e de sua equipe não deixam de se constituir em uma perda, haja vista a sua dedicação intensa e pessoal ao processo de construção, principalmente, da nossa ponte bioceânica. Foi com ele quem tratei pela primeira vez e posso afirmar que, sem o seu empenho pessoal, o objetivo de celebrarmos o acordo não teria sido alcançado”, destacou Marun. “Sem desfazer dos outros protagonistas, afirmo que Mato Grosso do Sul, o Paraguai e o Brasil devem muito a este homem público”.

Senado paraguaio sabatinaria nesta segunda-feira os demissionários. (Foto: Senado do Paraguai/Reprodução)
Senado paraguaio sabatinaria nesta segunda-feira os demissionários. (Foto: Senado do Paraguai/Reprodução)

Alderete esteve em maio deste ano em Porto Murtinho, onde se reuniu com o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) e discutiu detalhes da ponte que ligará o município a Carmelo Peralta, do lado paraguaio, de onde se estenderão rotas rodoviárias rumo a Argentina e Chile e, dali, aos mercados asiáticos por meio de portos no Oceano Pacífico.

A Itaipu Paraguai concordou em construir a ponte ao custo de US$ 75 milhões, como reiterado há duas semanas após encontro entre Reinaldo e Benítez, que em 20 de julho lançou a licitação da ponte estaiada de 260 metros, com previsão de conclusão em abril de 2023.

Crise – Nesta segunda-feira, em meio ao aumento dos questionamentos sobre o acordo Paraguai-Brasil –que envolveram inclusive protestos em frente ao Congresso paraguaio–, o ministro das Relações Exteriores, Luis Castiglioni, o chefe da Anda (Administração Nacional de Eletricidade), Alcides Jiménez, o embaixador paraguaio no Brasil, Hugo Saguier Caballero, e José Alderete colocaram seus cargos à disposição do presidente Benítez, que aceitou as demissões.

Tratado como “pacto secreto” pela mídia paraguaia, o acordo bilateral é apontado como prejudicial aos interesses do país vizinho. Ele prevê a compra de energia de Itaipu pelo Brasil até 2022, um ano antes da renegociação do tratado para criação de Itaipu.
A opinião pública e a oposição apontam que o documento foi assinado sem consulta pública prévia. Os quatro demissionários prestariam depoimento nesta segunda-feira ao Senado do Paraguai, que os desconvocou. Sindicatos e a população foram às ruas protestar contra o acordo, inclusive na porta do Senado.

O problema principal no acordo reside na forma de venda da energia produzida na Itaipu Binacional. Conforme o ABC Color, há dois tipos produzidos: a garantida, mais cara, e a adicional, um excedente que é mais barato. Desde 2007, o Paraguai se beneficia da energia adicional em maior quantidade, em acordo firmado com o Brasil que envolveu a instalação de duas novas turbinas.

No novo entendimento, o Paraguai teria renunciado ao benefício de usar a energia adicional e aceitou usar a garantida em igual proporção. Isso geraria um gasto extra de até US$ 350 milhões para a Ande.

O Governo Benítez argumenta que o acordo foi benéfico para o Paraguai. Antes de renunciar, porém, Castiglioni admitiu pedir ao Brasil que revisse os termos.

Nos siga no Google Notícias