Ex-procurador sob suspeita no acordo da JBS negociou delação de Delcídio
Marcello Miller ganhou projeção na PGR ao conduzir denúncias do ex-senador
Sob suspeita de ter atuado em favor de interesses da JBS enquanto ainda era procurador, Marcello Miller ganhou projeção na Procuradoria-Geral da República ao negociar o acordo de delação premiada com o ex-senador Delcídio Amaral.
Preso em 2015 acusado de tentar obstruir a operação Lava Jato, o ex-parlamentar fez denúncias que, desde a semana passada, são questionadas pelo MPF (Ministério Público Federal), que aponta mentiras na delação.
Conforme o jornal El País, advogados revisam toda a atuação de Miller em delações premiadas. Ainda segundo a reportagem, durante gravação de um dos depoimentos, Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras, disse que recebeu uma “doutrinação” de Miller sobre como seria uma delação premiada.
Antes disso, no mesmo depoimento, Cerveró tinha falado que um procurador “orientou” seu filho Bernardo antes de fazer as gravações de conversas com o ex-senador Delcídio do Amaral.
Em novembro de 2015, ele chegou a ser preso após ser gravado em seu gabinete por Bernardo Cerveró, filho de Nestor. No áudio, o então senador sugere um plano de fuga para o ex-diretor, em troca de silêncio.
Na semana passada, o MPF pediu à Justiça Federal a suspensão dos benefícios concedidos com base na delação premiada do ex-parlamentar.
“No entanto, atribuiu falsamente a Lula a ordem para a prática do crime, e falsamente à família Bumlai [ligada a Lula] o pagamento da quarta e quinta entregas de valores para comprar o silêncio de Cerveró. Assim agindo, escondeu do Ministério Público Federal sua real função de chefe no esquema referido, angariando benefícios que não receberia se a verdade prevalecesse”, afirma o procurador Ivan Cláudio Marx.
No sábado, em entrevista à revista Veja, Delcídio afirmou que mentir na delação seria uma insensatez e tem provas concretas. Em caso de anulação, ele pode ter que cumprir pena por obstrução de Justiça e responder por falsa imputação de crime. O Campo Grande News não conseguiu contato com o ex-senador nesta quarta-feira (dia 6).
Incendiária – Depois de implodir o cenário político, com tentáculos que alcançaram até o presidente Michel Temer (PMDB), a delação de Wesley e Joesley Batista, donos da holding J&F, teve mais um capítulo incendiário na segunda-feira (dia 4).
A poucos dias de deixar o cargo, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, informou que abriu procedimento de revisão da delação premiada do grupo. No material entregue, há diálogo entre dois colaboradores, Joesley e Ricardo Saud, sobre suposta atuação de Marcello Miller.
Da conversa, depreende-se que ele estaria auxiliando na confecção de propostas de colaboração para serem fechadas com a Procuradoria-Geral da República. A conduta configuraria, em tese, crime e ato de improbidade administrativa.
Conforme o despacho de Janot, Marcello Miller foi exonerado, a pedido, em 5 de abril de 2017. No mesmo mês, se apresentou ao MPF como sócio do escritório contratado pela J&F, cujo umas das empresas é a JBS, para a negociação do acordo de leniência, que permite benefícios para quem colabora com investigações.
A data provável da conversa dos colaboradores é 17 de março, quando a JBS ainda não havia procurado formalmente a PGR. Em alguns trechos, Saud afirma que já estaria “ajeitando” a situação do grupo com o então procurador Marcello Miller.