Exoneração em massa de "diretoras" de Cras acirra a crise na Câmara
A exoneração de 14 coordenadoras dos Cras (Centro de Referência de Assistência Social) da Capital, publicadas no Diogrande (Diário Oficial de Campo Grande) de hoje, provocou revolta geral entre os vereadores na sessão desta quinta-feira (5) na Câmara Municipal. A medida foi considerada “imoral” e de “coronelismo” pelos parlamentares, que convocaram de imediato a secretária Marcela Rodrigues Carneiro para explicar os motivos da demissão em massa.
Na Capital existem 19 Cras, apenas cinco coordenadoras permaneceram nos cargos. Também foram exonerados os coordenadores do Cecapro (Centro de Capacitação e Formação Profissional), no Bairro Parque do Sol, e do Creas-Sul (Centro de Referência Especial da Assistência Social) no Jardim Aero Rancho.
Os órgãos são responsáveis pela oferta de serviços continuados de proteção social básica, com atendimento às famílias e indivíduos em situação de vulnerabilidade social em seu contexto comunitário, visando a orientação e o fortalecimento do convívio familiar. Os Creas são mais abrangentes, cuidando das pessoas por ocorrência, de abandono, violência física ou psicológica, abuso ou exploração sexual, cumprimento de medidas sócio-educativas, situação de rua, trabalho infantil.
O caso foi denunciado pelo vereador Chiquinho Teles (PSD), que considerou uma medida exagerada do prefeito Alcides Bernal (PP), uma vez que são pessoas capacitadas e especializadas no atendimento à comunidade. “Será que é alguma perseguição. Será mesmo que todas são incompetentes”, questionou o parlamentar, lembrando que a demissão das coordenadores pode provocar revolta e manifestação nas regiões em que os Cras atendem.
O presidente da Câmara, Flávio César, pediu aos vereadores ligados ao prefeito que intercedessem junto a Bernal para evitar essa exoneração em massa. “É algo muito preocupante do ponto de vista das pessoas atendidas nesses centros em razão do trabalho especializado que é oferecido”, comentou citando o vereador do partido do prefeito, Derly dos Reis de Oliveira, o Cazuza.
Paulo Siufi (PMDB) foi mais agressivo nas críticas e declarou estar muito triste com tal medida “descabida” do chefe do Executivo. “Triste deve ficar o médico psiquiatra que atende o prefeito quando ele toma essas decisões”, declarou, acrescentando que o Bernal “é bipolar. Digo mais é quadripolar. Tem mania de perseguição”, reclamou o vereador.
A vereador Marcos Alex (PT) disse que, apesar de o prefeito ter o poder da caneta, a medida pode até ser legal, mas era “imoral. Não podemos voltar ao coronelismo, como questionávamos algumas medidas na época do prefeito André Puccinelli”, lembrou.
Para Alex, se for para substituir essas coordenadoras por pessoas ligadas ao PP ou algo partidário não poderá aceitar. “Não podemos aceitar apaniguados ou filiados ao partido do prefeito nesses cargos”, declarou.
A vereadora Thais Helena, (PT), também demonstrou sua preocupação com a medida de Bernal. Segundo ela, essas substituições devem ser trabalhadas com muita antecendência, considerando que são funções especializadas. “São pessoas que atuam há muitos anos e de atuação direta na comunidade em que trabalham. Estamos no momento mais difícil de trocar as coordenadoras”, alertou ela, explicando que no final do ano são elaborados os relatórios dos atendimentos para o planejamento de recursos federais do ano seguinte.
Thais Helena, que foi secretária de Assistência Social na primeira parte do mandato de Alcides Bernal disse que as coordenadores já estavam a frente dos Centros quando ela assumiu a secretaria. A política de assistência social tem passado por uma evolução na Capital e isso representa um retrocesso.
No final da sessão, os vereadores aprovaram um requerimento de autoria da vereadora, que é a presidente da Comissão de Assistência Social da Câmara, covocando a secretária Marcela Carneiro para reunião com os vereadores nesta sexta-feira, a partir das 14 horas, para que ela possa explicar as exonerações.
Procurada para esclarecer a demissão em massa na Secretaria de Assistência, a assessoria da prefeitura ficou de enviar uma resposta no período da tarde. A secretária Marcela Carneiro não atendeu ao celular.