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Política

Vizinhos lamentam morte de deputado que passou a vida toda na periferia

Moradores relatam que Almi era humilde, nunca mudou de endereço e estava sempre de portas abertas

Ana Oshiro e Aletheya Alves | 25/05/2021 11:21
Casa do deputado, de muro cinza, estava sempre de portas abertas, contam os vizinhos (Foto: Marcos Maluf)
Casa do deputado, de muro cinza, estava sempre de portas abertas, contam os vizinhos (Foto: Marcos Maluf)

Na Avenida Paes Barreto, no bairro Alves Pereira, região do conjunto Cohab, os moradores começaram o dia triste, já com saudades de José Almi Pereira Moura, mais conhecido como "Cabo Almi".

Aos 58 anos, ele morreu na noite desta segunda-feira (24) por complicações da covid-19. No bairro, os vizinhos perderam um amigo que, apesar de político, de salário privilegiado, nunca mudou de endereço. Escolheu continuar na região que o elegeu pela primeira vez.

Nelson conta que era amigo de Almi e sempre tomava café juntos (Foto: Marcos Maluf)
Nelson conta que era amigo de Almi e sempre tomava café juntos (Foto: Marcos Maluf)

Para o aposentado Nélson Marcos, de 64 anos, que mora há duas quadras da casa de Almi, o político era um vizinho presente. "Ele era um companheiro, ia tomar café na minha casa e eu ia na casa dele. Sempre que a gente precisava, a porta dele estava aberta. A gente sabia que ele tinha oportunidade de sair do bairro, mas nunca saiu e era muito humilde. Agora vamos ficar sem o nosso representante, a gente sabia que com ele podíamos contar", lamentou Nélson, que ainda lembrou das festas de São João que José Almi preparava para todos do bairro.

Muito querido pelos vizinhos, antigamente Almi era conhecido como filho do açougueiro Finelon Pereira de Moura, conta a aposentada Doralice Esquiave, de 60 anos. "Ele vai deixar saudade, já conhecia ele desde quando era novinho, quando era só conhecido como 'filho do açougueiro'. A gente sempre via ele aqui pela rua, caminhando normalmente e fazendo compras aqui pelo bairro mesmo. Nunca foi mal educado e nem arrogante", lembrou a aposentada, que lamentou a morte do deputado estadual.

José Almi era cliente frequente em mercearia do bairro que morava (Foto: Marcos Maluf)
José Almi era cliente frequente em mercearia do bairro que morava (Foto: Marcos Maluf)

Para Moisés Simão, de 46 anos, comerciante e dono de uma mercearia, Almi era vizinho, colega e cliente fiel do estabelecimento. "O Almi sempre vinha e fazia as compras normalmente, sempre bem humilde. Antes dele ser deputado já representava nosso bairro sendo vereador. A gente costumava brincar muito com ele. Vou sentir falta, antes de ser político era um bom colega", disse Moisés.

Reforçando a humildade de José Almi, a aposentada Mercedes Ortiz, de 88 anos, também moradora do bairro e vizinha do deputado, chorou a morte do deputado na manhã desta terça-feira (25). "Fiquei sabendo da morte dele pelo rádio, na hora que ouvi, nem acreditei, até chorei, fiquei muito assutada. Ele sempre foi uma pessoa muito boa e atendia todo mundo que precisava. Se você chegasse na casa dele, ele atendia.", comentou Mercedes

Para a aposentada, a morte trouxe ainda uma reflexão. "Nem ele que tinha dinheiro pra se tratar, conseguiu se curar, a gente pensa nas pessoas mais pobres. Não é questão de dinheiro, né? A gente não entende mesmo, tô muito triste.", finalizou.

Mercedes chorou ao saber que José Almi faleceu nesta segunda-feira (Foto: Marcos Maluf)
Mercedes chorou ao saber que José Almi faleceu nesta segunda-feira (Foto: Marcos Maluf)

Trajetória - Natural do Paraná, José Almi Pereira Moura se mudou para Mato Grosso do Sul em 1963, em companhia da família. Policial militar, começou a trajetória política com a eleição para vereador. Após três mandatos na Câmara Municipal de Campo Grande, chegou à Assembleia Legislativa em 2011.

"Cabo Almi" ficou 17 dias internado lutando contra a covid-19, o quadro se tornou gravíssimo e ele não resistiu. Como tinha 58 anos, o deputado morreu prestes a entrar no calendário da vacinação contra a covid, que parou na faixa etária dos 59 anos. Ele também tinha diabetes como fator agravante, mas quando o calendário foi aberto para esse grupo de risco, Almi já estava internado.

Ele era casado há 34 anos com Irene Carolina de Oliveira, e deixa três filhos: Flávio, Fabrícia e Monique.

O velório do deputado Cabo Almi será das 14h30 às 16h30, no Cemitério Memorial Park, Rua Francisco dos Anjos, 422, Bairro Santa Branca, em  Campo Grande.

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