Capital viveu o horror dos tribunais do PCC e 6 foram mortos de forma brutal
Seis homens, de 18 a 41 anos, foram executados após passarem por julgamento do PCC (Primeiro Comando da Capital)
Em forma de guerra violenta, a demonstração de poder das facções criminosas no Brasil, nunca ficou tão evidente em Campo Grande como neste ano. Ao longo dos meses de 2017, seis execuções decididas no chamado ‘Tribunal do Crime’ foram registrados na Capital, casos permeados pelo tráfico de drogas e por regras impostas em um mundo paralelo de violência e morte.
A disputa sangrenta entre PCC (Primeiro Comando da Capital) e CV (Comando Vermelho) se intensificou em 2016 e, desde então, os grupos rivalizam para obter o controle da fronteira entre o Brasil e o Paraguai, local fundamental para o crime organizado.
Foi justamente a guerra entre elas que resultou na morte das seis vítimas: Rudnei da Silva Rocha, o “Babidi”, Leoni de Moura Custódio, José Carlos Louveira Figueiredo, Richard Alexandre Lianho, Fernando Nascimento dos Santos e Mauro Éder Araújo, o “Fininho”.
Seis vítimas, todas com uma única semelhança, o envolvimento com o Comando Vermelho. Na maioria das execuções, as investigações da polícia apontaram a mesma “motivação” para os crime, o tráfico de drogas com integrantes da facção rival do PCC.
Segundo o delegado Marcio Obara, titular da DEH (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídio), as vítimas passaram pelo tribunal do crime por negociarem com as duas facções, atitude vista pelo PCC como traição.
“Durante o julgamento temos outros motivos relevados, como no caso do Fininho que participou do homicídio de dois integrantes do PCC sem autorização. Aqui vemos pessoas que cometeram crimes de tráfico, homicídio, roubos e lacticínios, mas traficar com a facção rival é motivo de punição, motivo de morte”, explicou.
Tribunal e execução
Organizados previamente, as execuções vão muito além do momento em que os ‘traidores’ são decapitados e abandonados pelos assassinos. O crime começa desde a convocação da vítima, sequestro, torturas e por fim o homicídio, sempre de maneira brutal.
Conforme Obara, as vítimas são chamadas por pessoas conhecidas para “prestar explicações” a facção. “Todos sabem que vai ocorrer um julgamento e se condenados, a pena é de morte”, relatou. Submetidos ao julgamento do “Tribunal do Crime”, os condenados passam a ser reféns da facção.
E ai, segundo o delegado, que começa o crime de sequestro. “Dada a sentença, há mudança de local do cativeiro. Em um dos casos passaram em cinco casas, em outros três e em outro quatro locais”, explicou Obara. Em cada cativeiro, novos integrantes da facção participam do crime.
“Isso dificulta bastante o trabalho da polícia. Nem todos os envolvidos sabem quem participou”.
A execução em si, sempre acompanhada do esquartejamento e da decapitação, é na verdade um alerta. “É uma mensagem, tanto para os que estão atuando no Comando Vermelho, quanto para os integrantes do próprio PCC, é ainda um afronta ao Estado”.
Prisões e status
As investigações de três dos crimes já resultou na prisão de 18 pessoas. Autores que a todo momento ressaltaram a importância e o destaque que ganham dentro da facção ao participarem das execuções.
É justamente esse reconhecimento que atrai os suspeitos e preocupa a polícia. “Nas últimas execuções vem diminuindo a faixa etária dos autores, já temos apreensões de adolescentes”, revelou Obara.
Em agosto, três suspeitos foram presos por esquartejar Fernando Nascimento, todo o crime foi gravado e na delegacia os autores afirmaram que as imagens garantiam poder a eles quando chegassem ao presídio.
“O Comando Vermelho não tem vez com nós, não tem vez na Capital. O verdadeiro crime é o 15.3.3”, afirmou um dos presos para a imprensa, em alusão ao número que indica as iniciais do PCC. Outras duas mortes foram filmadas, a de Fininho e Richard, em fevereiro deste ano.
“Eles estão mais cuidadosos com vídeos, por conta da prova que geram contra eles mesmos”, explicou o delegado sobre os outros três casos.
Solução?
Em entrevista ao Campo Grande News, o delegado-geral da Polícia Civil, Marcelo Vargas, afirmou que ainda não há uma maneira de evitar as execuções, mas que o trabalho da polícia para prender e punir dos autores é intensa. “A prioridade da Polícia Civil são os crimes de homicídio, crimes contra a vida. Independente se são de facções”.
A polícia já identificou três facções criminosas atuantes em Mato Grosso do Sul: Comando Vermelho, Família do Norte e PCC, esse último maioria dentro dos estabelecimentos penais da Capital. “Temos presos da Família do Norte em Coxim, Sonora e Rio Verde, que não podem ser transferidos para Campo Grande por conta do risco de assassinato”, lembrou Vargas.
Execuções
Richard foi morto em fevereiro. Assumidamente do Comando Vermelho, foi condenado pela facção rival depois de se envolver com a mulher de um integrante do PCC, que cumpria pena na Máxima de Campo Grande. Por videoconferência, o rapaz teve o destino decidido por líderes de todo o país, foi levado para a cachoeira do Céuzinho e assassinado a tiros.
Já morto, os suspeitos do crime tentaram esquartejar o corpo. Em vídeo divulgado pelos próprios autores é possível ver o momento em que eles tentam decapitar Richard e também cortar seus braços.
Dois adolescentes e um jovem foram presos pelo homicídio e já passaram pela primeira audiência na 1ª Vara do Tribunal do Júri.
Mauro Éder Araújo foi julgado pelo PCC e condenado à morte após passar seis dias em cárcere privado. Ele teria traído a facção e repassado informações sobre transação de drogas ao Comando Vermelho. Assim como Richard, Fininho teve a execução filmada e as imagens divulgadas na internet. Fininho desapareceu em maio e seu corpo só foi encontrado 20 de julho. A investigação coordenada pela DEH (Delegacia de Repressão aos Crimes de Homicídio) prendeu 12 pessoas.
Fernando Nascimento foi esquartejado, teve o coração arrancado e foi abandonado na rua Engenheiro Paulo Frontim, 150 metros do anel viário, no Jardim Los Angeles, no dia 15 de agosto.Toda a morte foi gravada e divulgada. Três foram presos e afirmaram que mataram o rapaz por ele ser da facção rival.
Nos três casos filmados, as vítimas foram forçadas a gravar mensagens pedindo desculpa ao PCC e exaltando a organização criminosa.
No 30 de setembro, o corpo de Leoni de Moura Custódio, de 18 anos, foi encontrado decapitado e carbonizado no aterro sanitário de Campo Grande. O caso é investigado pela 3ª Delegacia de Polícia Civil, mas deve ser enviado a DEH.
Rudnei da Silva Rocha, o “Babidi”, foi encontrado decapitado em uma estrada vicinal do bairro Indubrasil em Campo Grande, na noite do dia 7 de outubro. A morte do rapaz de 22 anos é investigada pela delegacia de homicídio.
José Carlos Louveira Figueiredo, de 41 anos, foi encontrado morto decapitado com as mãos amarradas para trás, no fim da tarde do dia 28 de novembro, na Cachoeira do Céuzinho, na saída para Terenos, em Campo Grande. O homem foi sequestrado junto com o filho mais de velho, de 17 anos, julgado pela facção e morto.
O adolescente foi liberado e a polícia passou a procurar pelo corpo de José. Seis dias após a execução, a vítima foi encontrada na cachoeira do Céuzinho. O caso continua em investigação.