Mandantes da execução de delegado seguem impunes seis meses depois
Possível vítima de suas investigações e denúncias, o advogado e delegado aposentado Paulo Magalhães de Araújo, 57 anos, foi executado no dia 25 de junho deste ano, em Campo Grande. O crime causou revolta de familiares, amigos e alunos da vítima, que ainda exercia a função de professor universitário. Seis meses após o fato, dois culpados foram denunciados. No entanto, os “mandantes” continuam impunes.
"Esta foi e é uma investigação complexa. O crime ocorreu praticamente no centro de Campo Grande, na porta de uma escola e que teve como vítima um professor, ex-delegado, advogado e pai de família, por isso tamanha repercussão social. Para nós, no entanto, a investigação de um homicídio é sempre a mesma, envolvendo certo risco", afirma o delegado Alberto Vieira Rossi, um dos responsáveis pela investigação.
Dias antes, Magalhães estava envolvido nas manifestações populares ocorridas na Capital, para pedir a aprovação da PEC 37, que limitaria o poder de investigação do Ministério Público. A vítima ainda finalizava a divulgação do seu livro “Conspiração Federal”, inclusive com a disponibilização gratuita pela internet. Ele, porém, logo depois recebeu a notícia de proibição dos downloads pela 15ª Vara Cível.
O teor de todas as denúncias jamais foi divulgado. Sabe-se somente que ele expõe irregularidades na Penitenciária Federal de Campo Grande, citando a instalação de câmeras clandestinas e o comportamento de agentes diante o fato. Por todo esse trabalho, considerado “perigoso” por muitos, Magalhães confessou, pouco antes da sua morte, que respondia a 21 ações criminais e oito cíveis por calúnia e difamação.
Em pouco tempo de investigação policial, houve a suspeita de que este crime pode ter envolvimento com outros ocorridos na cidade, como por exemplo, o assassinato do policial aposentado e ex-dono do jornal eletrônico UH News, Eduardo Carvalho, 51 anos, em 21 de novembro do ano passado. Ambos foram mortos de maneira semelhante, próximo de casa e por pistoleiros em uma motocicleta.
Inquérito - A elucidação do caso ainda envolve policiais da DEH (Delegacia Especializada em Repressão a Homicídios), 1ª Delegacia de Polícia e o Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Bancos, Assaltos e Sequestros). Após diligências e ligações anônimas que apontavam os executores, foram presos o guarda municipal José Moreira Freires, 40 anos, o Zezinho, e o segurança Antônio Benitez Cristaldo, 37.
A dupla ainda contou com a ajuda de um terceiro elemento, identificado como Rafael Leonardo dos Santos, 29 anos. Este último foi morto e teve parte do corpo dilacerado, sendo que José e Antônio teriam o matado para não serem denunciados à Polícia. Além deles, policiais e até pessoas com envolvimento no jogo do bicho foram investigados. Esta, inclusive, é uma das vertentes policiais para chegar aos “mandantes” do crime.
No dia 21 de novembro, na 1ª audiência, 20 das 52 testemunhas convocadas foram ouvidas. Mais outras duas ocorreram e o caso agora conta com o apoio do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado). O reforço é por conta da suspeita de mais quatro pessoas envolvidas no homicídio e a suposta ligação com o crime organizado ou o jogo do bicho.
À queima roupa – No dia do crime, por volta das 17h40, Paulo aguardava na fila para buscar a filha na escola, a duas quadras da sua casa, na rua Alagoas, bairro Jardim dos Estados. Chovia e ele estava dentro do seu carro, quando o bandido chegou a porta e atirou ao menos seis vezes.
As balas quebraram o vidro do jipe do delegado e acertaram o tórax e a cabeça de Paulo Magalhães. Uma das balas entrou pelo pescoço e saiu pelo crânio, matando a vitima instantaneamente.