As férias chegaram. E agora, o que fazer com os filhos?
As férias escolares são, para algumas famílias, momentos de alegria, pois junto a ela vem a organização de passeios, que, às vezes, incluem programas culturais, como visitas a museus e idas a cinemas ou até viagens. Já para outros pais, o período é motivo de muita preocupação e incômodo, pois os filhos passam a maior parte do dia com eles e, algumas famílias, por falta de conhecimento, habilidade ou até mesmo de vontade, não sabem organizar uma nova rotina com tarefas e atividades com as crianças e os adolescentes.
Para ambos os tipos de pais eu tenho um recado: não precisamos ser recreadores e monitores dos nossos filhos, organizando brincadeiras e gincanas a toda hora! Portanto, vão aqui algumas dicas, ideias e sugestões para você aproveitar esse tempo com os filhos de maneira alegre e, com isso, fortalecer sua relação com seu bem mais precioso.
Para as crianças de dois a cinco anos, é um bom momento para pensar em estabelecer novos hábitos e ensinar habilidades. Exemplos: tirar a fralda, a chupeta, a mamadeira para os pequeninos que ainda fazem uso e até ensiná-las a dormirem corretamente em suas camas e quartos. Assim, os pais mostram aos filhos que eles estão acompanhando de perto o desenvolvimento dos hábitos novos. Lembrem-se: serão necessárias uma grande dose de paciência, de calma e de alegria, afinal, você estará ensinando hábitos importantes. Se realizados em momentos de estresse e tensão, certamente serão instalados inadequadamente e gerarão insegurança e medo. Além disso, terão reflexos na organização interna da criança, ou seja, nas suas emoções e sentimentos.
Para aquelas crianças entre quatro e seis anos, e que os pais percebem que já estão aptas a aprenderem a mergulhar e andar de bicicleta sem rodinhas, o momento das férias é apropriado, pois ambas as modalidades exigirão tempo para serem ensinadas. Também é necessária constância e vários dias repetitivos para começar as práticas de forma mais autônoma, mas com supervisão. Novamente, aqui vale um lembrete: estes momentos devem ser permeados de alegria e diversão, sem broncas ou pitos quando aparecerem sinais de medo, ou quando o pequeno errar.
Outras atividades que podem ser ensinadas para as crianças nesse período são tomar banho e alimentar-se corretamente. Você não precisa dizer para seu filho que ele tomará banho e comerá sozinho, mas sim, que você o ensinará a fazer isso adequadamente para uma criança da idade dele. Afinal, ele está crescendo e, a cada dia que passa, torna-se capaz de cuidar de si em vários aspectos. Além disso, arrumar a cama, cuidar do animal de estimação, fazer uma limpa nos armários de roupas e brinquedos dos filhos. Nesta última atividade, ainda podemos exercer e ensinar a virtude da generosidade: vocês podem doar aquelas roupas e brinquedos que a família não usa ou que as tem em excesso. Tudo isso, com você ensinando-os a fazer, dando oportunidade para que eles percebam que são capazes de aprenderem e sentindo-se realizados por terem feito. Aproveite esses dias para lançar a ideia de que ter uma casa organizada não serve apenas para agradar a mamãe e o papai, mas para manter a harmonia do lar, ao conservar o ambiente mais bonito e alegre. Ou seja, faz bem para todos que estão ali! Aqui, vale uma reflexão sobre a importância da beleza. Para o filósofo inglês Roger Scruton (1944 - 2020), a vida humana é formada por caos e sofrimento e a beleza é um importante remédio para nos livrar disto.
Para os adolescentes, esse período é ótimo para os pais se aproximarem ainda mais e ver como estão as amizades. Chame os colegas para irem em casa, para se conhecerem. Que tipo de programas ou séries estão assistindo na TV ou no celular? Quais são as pessoas que seguem nas redes sociais e quais conteúdos elas transferem para eles? Convide seu filho para ir ao cinema ou a um museu, para saírem para comer um lanche ou jantar, ocasiões em que vocês poderão conversar. Importante: deixem o celular de fora da programação! O momento é entre a família. Uma outra sugestão é programarem e organizarem, juntos, um roteiro de viagem.
Por falar em viagem, para as crianças mais velhas do que seis anos e adolescentes que forem viajar com as famílias, solicitem que eles mesmo preparem suas malas, pensando nos dias que ficarão fora e no clima do destino, entre outros fatores. É claro que depois damos aquela averiguada, para nos certificarmos de que está tudo certo e, caso necessário, os chamamos para reorganizar explicando os motivos.
Esse período de férias também poderá ajudá-los a resgatar a fé da família, fazendo orações juntos e indo às missas aos domingos. A educação religiosa, se bem apresentada, trará o ensinamento de várias virtudes e mostrará que aqueles que têm fé são capazes de enfrentar quaisquer desafios e sofrimentos na vida.
Cuidado: as sugestões acima não são para deixar o ambiente pesado, com uma lista de afazeres e compromissos, resultando em brigas. A intenção é que vocês se divirtam fazendo atividades juntos. Com isso, pai e mãe poderão ensinar aos filhos que é possível ser alegre se responsabilizando por tarefas, aprendendo a fazer coisas novas e superando fases, pois eles estão crescendo e futuramente serão homens e mulheres maduros. São em momentos da rotina que mostramos aos nossos filhos a importância do sacrifício!
Aproveitem os dias que passarão mais tempo juntos para aproximar-se dos filhos, de forma afetiva, mostrando seu interesse genuíno por eles, seus cuidados e o quanto para você é bom estarem juntos. Não desista nas primeiras dificuldades: mostre para eles que elas são normais e acontecem quando queremos melhorar, crescer e fazer o bem. Afinal de contas, tudo o que vale a pena na vida, conseguimos às custas de sacrifício, abnegação e superação!
Divirtam-se e sempre que necessário “recalcule as rotas” quando o assunto for educar bem os filhos. Contem comigo nesta maravilhosa (e por vezes difícil) jornada que é a de ser pai e mãe!
(*)Talita Martins é pedagoga e mestre pela UFMS em Saúde, Educação e Desenvolvimento. Diretora da Educação Infantil da Escola Harmonia.