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Modelo de crescimento

Por Benedicto Ismael Camargo Dutra (*) | 22/03/2014 08:00

Não apenas o Brasil, mas o mundo todo precisa rever seu modelo de crescimento. Esse foi um dos argumentos defendidos pelo economista André Lara Resende em recente entrevista concedida para o jornal O Estado de S.Paulo. Na sua avaliação, já não faz mais sentido associar desenvolvimento exclusivamente ao crescimento e ao aumento do consumo material. “A partir de certo nível de renda, onde com certeza já nos encontramos, a qualidade de vida não está mais necessariamente associada ao consumo material. O problema da grande desigualdade persiste, é claro, e é urgente ter uma resposta efetiva, mas se o crescimento material não o resolveu, até hoje, em parte alguma do mundo, é porque por si só não vai resolvê-lo”, complementou.

A famosa banda brasileira de rock Titãs diz algo semelhante na música Comida: “A gente não quer só comida. A gente quer comida, diversão e arte. A gente quer saída para qualquer parte...”

Os recursos são fornecidos pela natureza. Aqueles que se movimentam e se esforçam em atividades úteis deveriam ter ao seu alcance uma existência condigna, sem precisar enfrentar a miséria e a aspereza. Mas a natureza deve ser respeitada para que as condições de vida sejam preservadas. Isso tudo também deveria fazer parte do estudo da Economia.

A globalização afetou os países diferentemente. Nas regiões mais atrasadas, a desigualdade fez seus estragos, aumentando a miséria. Há que se fazer tentativas de corrigir e evitar calamidades sociais. A distribuição de dinheiro aos mais pobres atenua no imediato, mas pode atrair consequências nefastas. O homem precisa se movimentar e ter a possibilidade de auferir ganho com trabalho sério e benéfico, de forma a assegurar sua subsistência. Mas isso é dificultado devido à insensibilidade e à velocidade em que a globalização está se processando.

Muitas coisas mudaram. A produção e o comércio ficaram muito concentrados. A massa de liquidez também. Isso tem um peso enorme nas decisões, maior do que dos Estados. Para uma existência em paz e com progresso se faz necessária uma participação da ética. Mas a educação tem se voltado para a conquista de resultados financeiros imediatistas a qualquer custo, o que acirra a competitividade desleal.

Diariamente, as pessoas recebem informações de atos corruptos envolvendo dinheiro, tanto na esfera governamental como na empresarial. Então muitos se perguntam: por que agir com honestidade se existem oportunidades de ganho fácil? Por que dar uma de trouxa? Tudo precisa ser conferido incansavelmente? A palavra perdeu o valor. Contratos assinados são rasgados e deixam de ser cumpridos. O que se passa? É o tecido social que está corrompido? Perdemos a confiabilidade como seres humanos?

O economista Ludwig von Mises disse em uma de suas lições que na Inglaterra do século 18 as condições eram bem piores que na Índia de hoje e em outros países em desenvolvimento, e que o capitalismo adveio para, através da produção em massa, suprir as necessidades das massas. A Inglaterra não conseguia suprir a totalidade de sua população. O padrão de vida dos trabalhadores era extremamente baixo. As condições de vida nos primórdios do capitalismo eram absolutamente escandalosas. Mas as pessoas contratadas pelas fábricas já subsistiam antes em condições praticamente sub-humanas.

Atualmente, apesar dos muitos benefícios obtidos com o sistema capitalista de produção, a tendência para a concentração da renda e o achatamento da qualidade de vida entre as classes sociais se fortaleceu após a eclosão das crises financeiras. Se as condições de vida têm sido insatisfatórias é porque desde longa data tem faltado planejamento sério feito com justiça para melhorar as condições gerais de vida, pois a riqueza real vem da natureza, não do acúmulo financeiro, sendo que deste advém a concentração do poder nas relações humanas, e por isso tudo o mais é desprezado.

Em meio a tantos conflitos o mundo precisa de líderes conciliadores que possam dirimir os conflitos gerados pela concentração da renda e pela limitação dos recursos da natureza. No entanto a vida não está fácil para aqueles que amam a paz, pois a conciliação não deveria ser um jogo de aposta com o uso do trunfo do dinheiro e do poder, mas ter como meta o bem comum da humanidade.

Estamos diante de uma forte onda de desânimo e pessimismo. Esperemos que o bom senso prevaleça, pois a vida vai prosseguindo, dependendo de como a humanidade a encaminhar - para cima ou para baixo. As empresas precisam produzir e a população trabalhar, consumir e evoluir. As novas gerações devem receber o adequado preparo para a vida, senão a evolução humana trava, retrocede. A quem isso beneficia? Sem um ideal de evolução continuada, para que servem os modelos de crescimento econômico? Qual seria o sentido da vida?

(*) Benedicto Ismael Camargo Dutra é graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP, e associado ao Rotary Club São Paulo. Realiza palestras sobre temas ligados à qualidade de vida. É também coordenador dos sites www.vidaeaprendizado.com.br e www.library.com.br, e autor dos livros “ Conversando com o homem sábio”, “Nola – o manuscrito que abalou o mundo”, “O segredo de Darwin”, e “2012...e depois?”. E-mail: bicdutra@library.com.br; Twitter: @bidutra7

 

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