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Os riscos de uma reforma na educação que só busca resultados

Por Samy Pinto (*) | 15/03/2017 13:18

Recentemente, fortes críticas vem caindo sobre a reforma do ensino médio brasileiro, projeto anunciado pelo Ministério da Educação do governo Michel Temer. Apesar das divergências apresentadas pelos críticos, é importante salientar o ponto positivo de se conversar sobre o tema no país, porque é a educação, sem dúvida nenhuma, o melhor investimento de verbas públicas que pode haver em uma nação. Uma população bem estudada trará sempre benefícios para o Estado. O que preocupa, de fato, é o desenho que está se formando com a reestruturação nas disciplinas da escola no Brasil.

Sob o ponto de vista do ministro da Educação, José Mendonça Bezerra Filho, a juventude precisa e deseja esta reforma, que visa um aumento de horas anuais para o ensino médio, além de alteração na grade curricular, que permitirá que o aluno escolha, a partir de determinado ponto, uma área de especialização. Outro passo do projeto é a possibilidade de contratar professores sem curso, e sim por notório saber, para atender cursos técnicos. Essa escola que está sendo desenhada hoje é pequena, que busca atender apenas a indústria do resultado.

O que a juventude precisa e busca, e se vê isso nos protestos que acontecem no país, é uma boa escola, com bons professores. O problema da qualidade das instituições e da falta de interesse dos estudantes na aprendizagem não é consequência do número excessivo de disciplinas, como argumenta o ministro Mendonça Filho e sua equipe.

O motivo da educação não estar interessante no ensino médio não é a física, química, história e geografia, que deixa pesado a grade curricular do estudante, o que pesa é a mediocridade dos cursos e a falta de preparo do docente, que muitas vezes não tem o apoio necessário para desempenhar seu papel em sala de aula.

Diminuir as matérias que os alunos precisam estudar e deixar que eles decidam a própria grade curricular, baseados na escolha profissional, é ceder ao jogo do imediatismo, ao jogo do mercado. Ao chegar no final do ensino médio, o estudante ainda tem que passar pela graduação, que deve durar entre quatro e cinco anos, o que torna a pedir para a escola prepará-los para o campo profissional de uma urgência pequena.

A função da escola não é educar para o mercado, mas sim para a vida. Tem o papel de ser um espaço que fará o estudante se encontrar e situar-se no mundo. Eis a importância da filosofia, da sociologia, da história e geografia, como também conhecer a física, química e biologia, além de português e matemática. E com todas essas disciplinas, discutir sobre a realidade, aprender e refletir.

Então o cerne da questão se volta para o professor, e não para o modelo, e tão pouco para o currículo atual das escolas. Este, personagem central neste trama, é o responsável por tornar os conhecimentos atrativos. O saudoso Rubem Alves foi muito feliz em criar um paralelo entre a educação e a gastronomia, pois não se come ferro e proteínas, mas se come uma boa carne temperada, um bom feijão gostoso e apetitoso. Atrás dos pratos vem os componentes nutricionais. Atualmente, o saber não está saboroso, o que devia encantar os estudantes está insosso e desinteressante. E é neste ponto, de diagnosticar qual é o real motivo do desânimo do aluno, que o projeto falha.

Investir de forma concreta e segura na formação dos professores, e na mudança de status para esse profissional, é uma das soluções coerentes para o ensino médio brasileiro. Se os educadores tivessem mais qualificações, todas as matérias seriam saborosas, todos os estudantes estariam extremamente envolvidos, e talvez estariam com a deliciosa dúvida de qual carreira seguir. Porque o mestre de matemática encantou ele, o de química também, mas o de literatura foi fascinante. O de filosofia ajudou ele a pensar, e o de educação física fez com que ele cuidasse do corpo.

Criar um projeto que valorize o profissional da educação é uma questão muito séria e precisa ser discutida, ainda mais quando se pensa no futuro. O mercado atual desfavorece a qualificação do educador, a posição é daquele que não conseguiu dar certo na economia, na engenharia, etc, o que leva a necessidade de colocar um notório saber, o que não é uma boa ideia para ensino médio. Então, não se resolve o cerne da questão. O professor precisa ser uma das profissões mais bem valorizadas da sociedade, porque se não for assim, as melhores mentes das poltronas escolares e acadêmicas, não quererão lecionar. E nas mãos de quem ficará as crianças que estão por vir?

Finalizando, muito se tem escrito sobre a forma arbitrária em que se traz uma medida provisória às devidas reformas do ensino médio. Não deve ser esse o ponto em questão, até mesmo porque, se o governo assume pelas vias legais o poder, ele tem a responsabilidade de reunir técnicos para provocar mudanças que visam o bem estar e uma melhoria de qualidade de todos os serviços no país. Então, não é despótico quando um técnico traz uma proposta para beneficiar os cidadãos. Entretanto, esta reforma não parece benéfica. A conclusão é que o professor é quem de fato tem as respostas para a melhoria da educação no Brasil.

(*) Samy Pinto é rabino, formado em Ciências Econômicas, se especializou em educação em Israel, na Universidade Bar-llan, e fez mestrado e doutorado em Letras e Filosofia, pela Universidade de São Paulo (USP). 

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