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Cidades

Falta estrutura para atendimento a obesos, alertam associações médicas

No MS, mais de 71% das pessoas atendidas na Atenção Primária à Saúde estavam com excesso de peso em 2023

Por Kamila Alcântara | 26/10/2024 08:49
Paciente internado no HRMS que precisou usar lençol no lugar da fralda, durante a pandemia (Foto: Arquivo Coren-MS)
Paciente internado no HRMS que precisou usar lençol no lugar da fralda, durante a pandemia (Foto: Arquivo Coren-MS)

Adequações na estrutura hospitalar e nos atendimentos a pacientes obesos se tornou uma questão emergencial em todo país, alerta a Abramede (Associação Brasileira de Medicina de Emergência) e da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica). Durante a pandemia, a falta de equipamentos necessários para esse público ficou mais evidente em Mato Grosso do Sul, segundo o Coren (Conselho Regional de Enfermagem).

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A falta de equipamentos para atender pacientes obesos em hospitais de Mato Grosso do Sul se tornou um problema crítico durante a pandemia, com a equipe médica tendo que improvisar, usando lençóis como fraldas, e mobilizando vários profissionais para virar um único paciente. O Conselho Regional de Enfermagem (Coren-MS) destaca a dificuldade em prestar cuidados adequados a esses pacientes, especialmente em situações que exigem rápida intervenção, como a intubação. Para tentar resolver essa situação, o estado implementou a "Linha de Cuidado das Pessoas Com Sobrepeso e Obesidade", com quatro hospitais habilitados para assistência especializada, investindo em equipamentos e treinamento para o atendimento inclusivo e humanizado de pacientes obesos.

Segundo o documento divulgado pelas associações, o aumento da obesidade na população brasileira trouxe à tona importantes desafios para os profissionais de saúde, especialmente nos departamentos de emergência. “A falta de preparação adequada em muitas unidades pode resultar em atrasos críticos ao tratamento, agravando condições que exigem intervenção rápida”, diz o aviso assinado pela Abramede e Abeso.

De acordo com o presidente do Coren-MS, Leandro Rabelo Dias, durante a pandemia a obesidade foi a comorbidade que mais complicou os casos de covid e levou os pacientes a óbito. "A equipe de enfermagem que trabalha com assistência, principalmente a pacientes obesos, teve muita dificuldade de fazer o decúbito, seja dorsal, lateral ou pronado, que foi uma das técnicas usadas para descompressão pulmonar em pacientes entubados durante a covid", lembra.

Ele completou dizendo que "em alguns casos, a equipe toda se movimentava para pronar um único paciente, e dependendo da prescrição, era preciso trocar ele de posição várias vezes ao dia para evitar úlceras por compressão".

O técnico de enfermagem Anderson Pereira trabalhava no HRMS (Hospital Regional de Mato Grosso do Sul) naquele período e conta que a situação foi sensível, onde as fraldas descartáveis não cabiam em alguns dos pacientes, por exemplo. "Diante de todo o cenário vivido naquela época, nossa maior intenção era salvar vidas e para cuidar de um paciente obeso você não tinha de ter um funcionário, mas de três ou quatro", relata.

Anderson se lembra que ele e os colegas passaram a usar lençóis para proteção das partes íntimas de algumas pessoas. Para ele, a desumanidade de algumas situações deixou marcas. "Precisamos lutar contra essa situação que só quem passa sabe o quanto é dolorido. Não podemos culpar somente os nossos governantes, mas precisávamos que os hospitais pensassem que essas pessoas existem. É preciso ter material reforçado, equipamento apropriado para a locomoção", completa.

Em 2024, a SES (Secretaria de Estado da Saúde de Mato Grosso do Sul) lançou a "Linha de Cuidado das Pessoas Com Sobrepeso e Obesidade". Com informações do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional, o setor público mostra que  71,54% das pessoas atendidas na Atenção Primária à Saúde, em Mato Grosso do Sul, estavam com excesso de peso em 2023, sendo que a média nacional é 67,96%.

Uma estratégia foi montada para ser adotada pelos setores de saúde e, hoje, quatro hospitais estão habilitados para a assistência de alta complexidade ao indivíduo com obesidade no Estado: o Humap-UFMS (Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian), o HRMS, a Santa Casa de Campo Grande e o Hospital Regional de Três Lagoas.

À reportagem, o Hospital Universitário afirmou que está "comprometido com um atendimento inclusivo e humanizado para todos os pacientes, incluindo aqueles com obesidade". "Nosso hospital implementou diversas adaptações estruturais e capacitações para garantir um cuidado de qualidade, respeitoso e seguro", completa a nota.

Por lá, foram adquiridas oito cadeiras de rodas reforçadas, com capacidade para até 200 kg, além de um sistema de pesagem inovador com balança que permite pesar os pacientes diretamente no leito. Também há quartos adaptados e roupas para pacientes de tamanhos GG e EX.

Já o HRMS disse que conta com equipe multiprofissional responsável pelo acompanhamento integral desses pacientes, que são submetidos a cirurgias bariátricas. "Sensível à demanda, o hospital tem constantemente adequado sua estrutura para garantir um atendimento de excelência. Uma das iniciativas foi a manutenção de leitos da Unidade de Terapia Intensiva no térreo, facilitando o acesso de pacientes obesos e assegurando a assistência médica necessária", reforçou.

Os hospitais da rede privada, Cassems e Unimed também se pronunciaram. Ambos disseram ter investido em macas preparadas para pessoas com mais de 100 kg, balanças e os profissionais passam por cursos que preparam para atendimentos mais humanizados.

A Santa Casa de Campo Grande foi o único hospital que não respondeu sobre o tema.

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