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Cidades

Após 30 anos, marido é preso por submeter esposa a rituais de tortura

Agressões tiveram fim quando vítima procurou Delegacia da Mulher e registrou ocorrência; hoje ela frequenta Centro Especializado de Atendimento à Mulher, do Governo do Estado.

Danúbia Burema | 06/03/2018 11:55
Sede do Ceam, em Campo Grande (Foto: Edemir Rodrigues)
Sede do Ceam, em Campo Grande (Foto: Edemir Rodrigues)

Com 30 anos de casada, a monitora de alunos R.M.A, de 54 anos, passou a viver um pesadelo dentro de casa. Foram cinco anos de tortura pelo ex-companheiro, que hoje está preso pelo crime. Um ano e meio após o término das agressões, ela comemora a reconstrução de sua vida com o apoio do Ceam (Centro Especializado de Atendimento à Mulher), do Governo do Estado.

E as mudanças são visíveis também por fora. “Eu não tinha mais cabelo porque ele arrancou quase tudo de tanto me arrastar pela casa. Hoje tenho prazer em comprar roupas novas, quero andar arrumada, olha como meu cabelo já está bonito”, diz ela em mais um dia de terapia.

Questionada sobre o motivo de aceitar a situação, ela revela o que era seu maior temor: “Ele dizia que se eu contasse para alguém, descontaria nas minhas filhas e netas. Ele sabia do meu amor por elas, que eu não deixaria elas correrem esse risco”, explica. As duas filhas são do casal, que possui seis netas.

Tortura - As sessões de tortura vividas por R.M.A parecem saídas de um filme. Todos os dias ao chegar em casa, ela tinha que se despir, ajoelhar sobre um tapete cheio de cascalhos e equilibrar na cabeça uma bacia cheia de tijolos. “Era isso diariamente. Quando eu chegava do trabalho ele dizia: vai para a pedreira. E ali eu ficava até o outro dia”, conta.

Somente quando o marido saía para trabalhar é que ela era liberada do castigo. “Enquanto eu estava ali naquela situação, ele assistia filmes de terror e também me questionava sobre um namorado que tive antes dele”, relembra.

A situação chegou ao extremo em junho de 2016, quando durante a sessão de tortura ele tentou enforcá-la e ela correu para a rua. “Ele dizia se eu não te matar de um jeito, mato de outro”, afirma.

Ela procurou uma amiga que a levou à Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), na Casa da Mulher Brasileira. Enquanto registrava a ocorrência, o marido esteve na frente do prédio. “Eu queria me esconder debaixo da mesa de tanto medo”, detalha.

Mesmo após o registro da ocorrência, ela lembra que ele a procurou no trabalho e disse que a chefe a estava escondendo. Também foi à casa da filha, que gravou as ameaças e usou no processo. Hoje, ele está preso pelos crimes, condenado a cinco anos. “Estou reforçando a segurança na minha casa. Hoje ainda tenho medo, mas é melhor porque antes era pavor”, destaca.

Proteção - Com a aprovação da Lei Maria da Penha, as mulheres passaram a ter asseguradas pela Justiça medidas protetivas de urgência como forma de garantir sua integridade. Além da prisão do agressor pelos crimes de violência, as vítimas podem ser protegidas por meio de medidas protetivas, encaminhamento a programas de proteção, recebimento de pensão, além de ações para inibir a ação do agressor como a suspensão do porte de armas.

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