Antes de morrer, “Alemão” espalhou pelo bairro que pertencia a facção carioca
Plano para matá-lo envolveu até mesmo a simulação de uma negociação de drogas no meio de uma praça
Antes de ser julgado e executado pelo PCC (Primeiro Comando da Capital), Sandro Lucas de Oliveira, vulgo “Alemão” de 24 anos, espalhou que pertencia ao Comando Vermelho, a principal rival da facção paulista. O plano para matá-lo envolveu até mesmo a simulação de uma negociação de drogas no meio de uma praça do Bairro Nova Campo Grande.
Quatro dias antes do corpo de Sandro Lucas ser encontrado, um adolescente de 17 anos, apontado pela polícia como o responsável por “entregar” o rapaz ao PCC, foi inocentado da participação no crime pelo juiz Mauro Nering Karloh, da Vara da Infância e da Adolescência. A reportagem teve acesso a decisão e com isso, a detalhes do caso investigado desde dezembro do ano passado pela DEH (Delegacia Especializada de Repressão aos Crime de Homicídio).
A denúncia feita a justiça aponta que mais de uma testemunha confirmou a polícia que “Alemãozinho”, como era conhecido na região, espalhou que pertencia a facção carioca Comando Vermelho e por isso, entrou na “lista de inimigos” do PCC.
O julgamento do rapaz no “Tribunal do Crime” foi planejado. Em um primeiro momento, a polícia identificou o adolescente de 17 anos como o responsável por entregar a vítima aos criminosos. Duas versões sobre como o sequestro aconteceu foram relatadas a justiça.
Na primeira, Sandro Lucas foi atraído para a praça do Bairro Nova Campo Grande para uma falsa negociação de droga. Por mensagem no Facebook, combinou de se encontrar com um desconhecido na tarde do dia 8 de dezembro. No local marcado, encontrou outro envolvido no crime: Rafael Aquino de Queiroz, vulgo Professor, considerado uma das lideranças no bairro.
“Alemãozinho” não sabia, mas Rafael estava instruído a distrair ele até que os comparsas responsáveis pelo sequestro chegassem, o que aconteceu pouco depois. Sandro Lucas então foi levado em um carro preto até a casa que serviu de cativeiro, conhecida no mundo do crime como cantoneira, onde foi julgado por videoconferência e condenado a morte.
Sidney Jesus Rerostuk, conhecido como “Caveirinha” ou “Kapetinha” de 27 anos, preso na noite desta terça-feira (28) e um segundo suspeito, não identificado, foram os responsáveis pela execução. Sandro Lucas foi decapitado e enterrado em região de mata da Chácara dos Poderes, local descoberto pela polícia após oito meses de apuração.
A segunda versão contada, coloca o adolescente no local do crime. O jovem não apenas entregou o amigo, como o levou até a praça para encontrar com Rafael e os outros integrantes da facção.
Em entrevista ao Campo Grande News, Otoni Cesar Coelho de Sousa, advogado do adolescente, explicou que o cliente na verdade era amigo da vítima, que eles estavam juntos no dia do crime e por isso acabou envolvido na situação, sem entender a gravidade do que acontecia. “Ele toma remédio controlado, é muito ingênuo, tem uma idade mental menor do que a que realmente tem. Não tinha real dimensão do que estava acontecendo”.
A contradição das testemunhas também foi levada em consideração pela defesa, que pediu presunção da inocência por falta de provas. Após as audiências de instrução e julgamento, o juiz Mauro Nering Karloh considerou não haver indícios suficientes para comprovar a participação do adolescente na morte do amigo e por isso o impronunciou dos atos infracionais equiparados a homicídio qualificado, sequestro e cárcere de privado e organização criminosa.
Outros três homens foram presos por envolvimento no crime: Adson Vítor da Silva, o “Ítalo”, Eliezer Nunes Romero, o “Maldade”, e Eder de Barros Vieira, o “Mistério”. Segundo as investigações, Eder foi o mentor do crime, a ponte entre as lideranças da facção e os integrantes que participaram do assassinato de Sandro Lucas.