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Capital

Ao júri, legista explica morte de adolescente com mangueira introduzida no ânus

Thiago Giovanni e William Henrique estão sendo julgados pela morte de Wesner Moreira, ocorrida em 2017

Silvia Frias e Bruna Marques | 30/03/2023 10:07
Legista vai a julgamento de Thiago Giovanni (xadrez) e William Enrique (azul) para prestar depoimento. (Foto: Marcos Maluf)
Legista vai a julgamento de Thiago Giovanni (xadrez) e William Enrique (azul) para prestar depoimento. (Foto: Marcos Maluf)

Há 6 anos, Wesner Moreira da Silva morreu aos 17 anos, depois de ter mangueira de compressão de ar introduzida no ânus. O que foi justificado como brincadeira por dois colegas de trabalho, foi relatado em termos mais técnicos pelo médico legista Marco Antônio Araújo de Melo, durante o julgamento realizado hoje, em Campo Grande.

“O ar entrou pelo ânus, então, a mangueira em contato íntimo com ânus com 90 psi de pressão tem energia muito alta; essa pressão causou esta catástrofe nos órgãos do Wesner”, descreveu o legista, que presta depoimento no julgamento realizado na 1ª Vara do Tribunal do Júri, sob titularidade do juiz Carlos Alberto Garcete.

Réus escutam explicação de legislta, durante julgamento. (Foto: Marcos Maluf)
Réus escutam explicação de legislta, durante julgamento. (Foto: Marcos Maluf)

No banco dos réus, a explicação é ouvida pelos réus: o aviador civil Thiago Giovanni Demarço Sena, 26 anos, e lavador de carros William Enrique Larrea, 36 anos.

O caso aconteceu no dia 3 de fevereiro de 2017, em um lava a jato na Vila Morumbi. Os dois eram colegas de trabalho de Wesner. William teria imobilizado o adolescente enquanto o colega introduzia a mangueira de compressão de ar no ânus da vítima. O rapaz passou mal, vomitou, foi levado para posto de saúde, sendo transferido para a Santa Casa e morreu no dia 14 de fevereiro.

“Não foi a mangueira no ânus que matou, foi o barotrauma”, disse o legista. “Não se atente a lesão da mangueira e o efeito final de uma pressão que causou o óbito”, continuou.

De acordo com o legista, o ar atingiu intestino grosso, pulmões e provocou lesões na região torácica e próxima ao coração. "Quando o rapaz começou se alimentar, a passagem do alimento forçou a parede do esôfago e causou o rompimento, provocados por barotrauma", explicou o legista.

Marisilva (óculos, ao centro), acompanha o julgamento, em Campo Grande. (Foto: Marcos Maluf)
Marisilva (óculos, ao centro), acompanha o julgamento, em Campo Grande. (Foto: Marcos Maluf)

Barotrauma é reação provocada por mudanças na pressão atmosférica (barométrica), que podem afetar várias estruturas do corpo. Esse tipo de lesão pode ocorrer nos pulmões, no trato gastrintestinal, nos dentes, nos olhos e na face.

O médico se recordou que teve contato com Wesner quando o rapaz ainda estava sendo atendido na Santa Casa, quando foi acionado pela Polícia Civil. “Me deparo com cena extremamente triste, catastrófica, ele estava vomitando sangue e toda equipe em volta na tentativa de sanar a situação”.

Melo não tinha perspectiva de evolução positiva para o quadro. “Ruptura de esôfago é praticamente decreto de morte (...) fiz o exame, coloquei toda aquela situação, encaminhei ao delegado e antecipei, falando que ele viria a óbito nas próximas horas; foi o que ocorreu”.

No laudo, consta que Wesner morreu por ruptura espontânea do esôfago, sofrendo choque hipovolêmico por hemorragia torácica aguda maciça.

Melo foi taxativo em dizer que a mangueira foi colocada em contato direto com o corpo da vítima. “Se ele tivesse de roupa, o ar bateria nas vestes e se desviaria”. Questionado pela promotoria, condenou a ação. “Em hipótese alguma se direciona mangueira compressora ligada a um indivíduo, jamais, por menor que seja a distância. Compressor de ar ligado é muita energia, muita força, muita pressão, o ar mata, não é brinquedo”.

A explicação é acompanhada também pela família de Wesner, que acompanha o julgamento: a mãe do rapaz, Marisilva Moreira da Silva, 50 anos, tios e primos estão no plenário.

Na casa da família, a homenagem ao adolescente morto em 2017. (Foto: Marcos Maluf)
Na casa da família, a homenagem ao adolescente morto em 2017. (Foto: Marcos Maluf)

Acusação – Thiago Giovanni e William Enrique estão sendo julgados por homicídio qualificado por dificultar a defesa da vítima.

No detalhamento da denúncia, consta que tudo começou com uma brincadeira: segundo MPMS, Wesner pediu, em tom de brincadeira, que William comprasse Coca-Cola. “De novo? Agora toda hora é Coca-Cola!, respondeu, pegando pano em seguida para limpar carros e passou a bater na vítima, também de brincadeira.

Em certo momento, Wesner pediu para que o colega parasse, mas não foi atendido. O rapaz correu, mas William foi atrás dele e o imobilizou, agarrando-o pela frente e segurando braços e tórax. Logo em seguida, carregou o adolescente até onde estava Thiago, outro funcionário.

Conforme denúncia, Thiago pegou a mangueira de ar, utilizada para limpeza de carros, retirou a bermuda e a cueca de Wesner, ligou compressor e o introduziu no ânus do adolescente.

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