Justiça manda a júri popular acusados de matar jovem em lava jato
"Meu coração hoje está feliz", disse Marisilva Moreira, mãe de Wesner, rapaz que morreu em 2017, após lesões sofridas no ânus
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Decisão do TJ-MS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) determina que Thiago Giovanni Demarco Sena, 23 anos, e William Henrique Larrea, 33 anos, sejam levados a júri popular pela morte de Wesner Moreira da Silva, violentado em um lava-jato em Campo Grande, em crime ocorrido em fevereiro de 2017.
O acórdão foi publicado na edição de hoje do Diário Oficial, alterando decisão de primeira instância, que havia avaliado que não cabia pronúncia por homicídio e que os acusados respondessem por outro crime. Por maioria, os desembargadores da 2ª Turma Criminal consideraram que, que havendo provas e indícios suficientes de autoria, os acusados devem ser pronunciados. Nesta fase, não cabe a “solução definitiva da controvérsia, sob pena de usurpação da competência constitucionalmente prevista ao Tribunal do Júri”.
A advogada Katarina de Carvalho Figueiredo Viana disse que o MPE e a assistência de acusação insistiram na tese de homicídio por acreditar que há prova de que Thiago e William possam ser condenados. Agora, cabe ao juiz da 1ª Vara do Tribuna do Júri, Carlos Alberto Garcete, determinar os termos dessa pronúncia (qualificadoras para o homicídio) e data do júri. Não há prazo para essa nova determinação.
Mudança - O crime aconteceu no dia 3 de fevereiro de 2017, quando uma mangueira de ar comprimido foi introduzida no ânus dele, no que seria uma “brincadeira” dos acusados. O rapaz foi socorrido, levado ao posto de saúde do Bairro Tiradentes e, posteriormente, à Santa Casa, onde morreu dia 14 daquele mês, por ruptura do esôfago e choque hipovolêmico por hemorragia toráxica aguda maciça.
Em maio de 2018, na sentença de pronúncia, o juiz Carlos Garcete desconsiderou a tese do MPE (Ministério Público Estadual) de homicídio qualificado, alegando que não há provas mínimas nos autos de que os acusados tinham consciência de que a conduta poderia provocar a morte da vítima.
As brincadeiras, apesar de “estúpidas”, conforma avaliação do magistrado, eram comuns entre os acusados e Wesner. Até a própria vítima também teria utilizado a mangueira para brincar com outro funcionário do lava-jato, segundo os autos.
Além disso, com base no próprio depoimento de Wesner, o juiz avaliou que há contradição sobre a possível introdução da mangueira no ânus de Wesner, que disse teria sido posicionada por cima da roupa. Porém, laudo mostra que é lesões encontradas são consistentes com contato com mangueira. Porém, a decisão de hoje do TJ-MS determina que ele leve os acusados à júri popular.
Alívio – “Meu coração tá feliz hoje, estou explodindo; dinheiro nenhum paga a felicidade que estou sentindo”. Assim a dona de casa Marisilva Moreira Silva, 47 anos, mãe de Wesner, recebeu a informação de que os dois vão ser levados a julgamento.
Marisilva lembrou a promessa que fez ao filho, quando ele estava no hospital. “Ele pedia, dizia que queria que eles pagassem o que fizeram com ele; eu falei que ia mover o mundo por ele”, disse.
A dona de casa ainda mora na mesma casa e contou que o quarto do filho está intacto, com todas as coisas. “Não tinha como”.
A justiça havia determinado que os acusados pagassem pensão de R$ 636 à família, mas os dois recorreram da decisão e não chegaram a depositar qualquer valor.