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Capital

Com 2 "Grazis" mortas, feminicídios de janeiro a maio igualam total de 2019

No ano passado, foram 5 casos nos 365 dias do ano. Este ano, nos 121 dias até primeiro de maio, já houve o mesmo número

Marta Ferreira e Gabriel Neris | 01/05/2020 17:27
Equipe recolhe o corpo de Graziele Quele, mais uma vítima de feminicídio em Campo Grande, segundo o que já se sabe do assassinato. (Foto: Henrique Kawaminami)
Equipe recolhe o corpo de Graziele Quele, mais uma vítima de feminicídio em Campo Grande, segundo o que já se sabe do assassinato. (Foto: Henrique Kawaminami)

Os 121 dias 2020 até este 1º de Maio já têm tantos casos de feminicídio em Campo Grande quanto em todos os 365 dias do ano passado. São cinco. No mesmo período de 2019, haviam sido  2.  No Estado todo, são 12 registros neste ano, o mesmo total até o começo de maio do ano passado. Em 2019 inteiro, foram 30 mulheres vítimas de feminicidas nas 79 cidades sul-mato-grossenses.

O intervalo de tempo entre uma vítima e outra é duas vezes menor em Campo Grande neste ano. Em 2019, a cidade via uma delas “tombar” pela mão de homens a cada 73 dias. Este ano, a cada 24 dias, houve um novo caso de assassinato com características de violência de gênero.

O aumento está evidenciado pelos números. Chama atenção. Assim como salta aos olhos a triste coincidência dos nomes das mulheres. Em uma semana, duas Grazieles foram achadas sem vida, uma delas abandonada, só de camiseta, no meio do mato, à beira da rodovia, aos 21 anos. A outra, de 39 anos, foi executada e teve o corpo enterrado em uma fossa desativada.

Há ainda uma terceira "Grazi", que não se sabe se foi ou não vítima da violência que atinge especificamente as mulheres. Aos 36 anos, ela está desaparecida desde o dia 7 de abril.Confira abaixo a cronologia, do mais recente para o mais antigo, dos casos registrados este ano.

Confira abaixo a cronologia, do mais recente para o mais antigo, dos casos registrados este ano.

Enterrada no quintal – Inicialmente identificada apenas como Graziele, mulher foi encontrada morta dentro de fossa de 1,5 metro no Bairro Morada Verde, em Campo Grande, nesta sexta-feira (1º). A Polícia Militar chegou ao local depois de denúncia de moradores e prendeu um casal, identificado pelos apelidos de “Gilsão” e “Alemão”.

Nas fotos de cima, as vítimas Maxelline (à esquerda) e Regiane (à direita). Nas duas de baixo, Maria Graziele, achada morta à beira de rodoivia (à esquerda) e Graziela, que está sumida (à direita). (Montagem: Ricardo Oliveira)
Nas fotos de cima, as vítimas Maxelline (à esquerda) e Regiane (à direita). Nas duas de baixo, Maria Graziele, achada morta à beira de rodoivia (à esquerda) e Graziela, que está sumida (à direita). (Montagem: Ricardo Oliveira)

A vítima, depois identificada como Graziele Quele Ferreira Gomes, de 39 anos, foi achada pelos bombeiros enrolada por lençol, jogada no buraco. O corpo estava coberto por aproximadamente um metro de terra, há pelo menos um dia. O ex-marido, conhecido como "Hulk", é o principal suspeito pelo crime. Vizinhos relatam histórico de agressões.

Abandonada no mato - No dia 19 de abril, a polícia encontrou o corpo da estudante Maria Graziele Elias de Souza, de 21 anos, à beira da BR-262. Lucas Pergentino Câmara, de 26 anos, ex-marido dela, foi preso seis dias depois.

Em depoimento, disse que matou a jovem com uma gravata. Maria Graziele foi vista no dia14 de abril depois de sair do trabalho. Foi à casa do ex-marido e nunca mais foi vista.

Assassinada pelo filho - No dia 9 de abril, Adão Alves de Sales, de 45 anos, matou a própria mãe, Antônia Sales, de 72 anos, a golpes de facão no Conjunto Habitacional Universitário, região sul da Capital. À polícia, disse que sofreu um “apagão” e que se recorda apenas do vizinho entrando na casa da idosa e depois de ter tentado cortar o próprio pescoço.

A idosa foi atingida no pescoço e não resistiu aos ferimentos. O filho diz se lembrar que estava embaixo de uma mangueira à beira do córrego em frente da mãe, quando o vizinho entrou na residência.

Duplo homicídio -  No dia 5 de março, foi preso o guarda municipal Valtenir Pereira da Silva, de 35 anos. Ele estava foragido desde 29 de fevereiro por matar a ex-mulher Maxelline da Silva dos Santos, 28 anos, e o amigo dela, Steferson Batista de Souza. A esposa de Steferson também foi baleada.

O guarda foi até uma residência no Jardim Noroeste, onde Maxelline participava de um churrasco. Houve discussão e Valtenir atirou na cabeça da ex-mulher, e atingiu ainda amiga dela, Camila Telis Bispo, e Steferson. Maxelline e Steferson morreram a caminho do hospital.

Baleada no trabalho - Em janeiro, dia 18, a florista Regiane Fernandes de Farias, de 39 anos, morreu na mesa de cirurgia.

A mulher foi baleada no tórax pelo ex-namorado, Suetônio Pereira Ferreira, de 57anos, quando chegada ao estabelecimento onde trabalhava, no Bairro Carandá Bosque, logo pela manhã.

“Incorfomado” com o término do namoro, dois meses antes, ele atirou na florista e depois em si próprio. Ficou internado, mas sobreviveu.

Sumida desde abril – Em relação à terceira Grazi citada nessa matéria, o feminicídio é uma das linhas de investigação, mas ela ainda é tratada como desaparecida. O sumiço de Graziela Pinheiro Rubiano, de 36 anos, foi registrado no dia 7 de abril pelas colegas de faculdade. Sem familiares em Campo Grande, as ligações da mulher com a cidade são com o ex-marido e as colegas que registraram o boletim de ocorrência.

No dia 5 de abril, um domingo, Graziela parou de responder as mensagens no WhatsApp, não foi ao trabalho e também não apareceu para apresentação de trabalho acadêmico. As colegas, o marido falou que ela havia viajado. O relacionamento era turbulento.

Dos casos citados, os cinco feminicídios estão a cargo da Deam (Delegacia de Atendimento à Mulher), localizada na Casa da Mulher Brasileira. O desaparecimento é investigado pela DEH (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídio). Denúncias pode ser feitas para as duas unidades sobre as apurações em aberto.

Serviço: O telefone da Deam é o 2020-1300. Na DEH o número é 3319-9026 e atende pelo WhatsApp.

Neto de mulher assassinada pelo filho chora, amparado por uma familiar, logo após o crime. (Foto: Kísie Ainoã)
Neto de mulher assassinada pelo filho chora, amparado por uma familiar, logo após o crime. (Foto: Kísie Ainoã)


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