Contador que simulou morte para fugir da polícia, abriu empresas de “laranjas”
Ele é apontado como especialista em criação de empresas de fachada
Além de ficarem na mesma rua, as empresas de fachada em Campo Grade que “lavaram” R$ 50 milhões do tráfico têm outra coincidência: foram abertas por intermédio do contador Tércio Moacir Brandino, 59 anos. Ele foi preso em 6 de abril deste ano e tem no histórico passagens como simular a própria morte.
De acordo com o Dracco (Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado), o contador “se especializou e se dedicava à criação de empresas de fachada, mediante emprego de falsidades documentais diversas, para lastrear os recursos monetários auferidos com as atividades criminosas”.
Ontem, a operação Tríade, liderada pela Polícia Civil do Rio Grande do Sul, foi à duas empresas de fachada, na Rua Serra dos Apiacás, no Bairro São Jorge da Lagoa.
A maior movimentação, R$ 35 milhões, foi de empresa em nome de servidor da prefeitura de Campo Grande. No papel, consta que atua no ramo de informática, mas, na prática, é um depósito.
Já outros R$ 15 milhões correspondem à movimentação financeira da empresa que tem como proprietária uma faxineira. No local, a polícia encontrou uma casa abandonada.
A partir de apreensão de cocaína no Rio Grande do Sul, a operação Tríade traçou a rota do dinheiro.
“Durante as investigações, nós apreendemos centenas de comprovantes bancários. Os traficantes na região de Bagé compravam a droga e a organização criminosa mandava fazer depósito do dinheiro do tráfico em contas bancárias espalhada por todo Brasil. Algumas dessas contas eram de empresas do Mato Grosso do Sul, onde cumprimos os mandados de buscas”, afirma o delegado Cristiano Ritta, titular da Draco (Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas) de Bagé.
O contador - Tércio foi alvo de outras quatro operações policiais em Mato Grosso do Sul, incluindo a Lama Asfáltica. Em 2017, o contador deixou a prisão pela porta da frente, após conseguir alvará de soltura em um dos processos que responde, mesmo não podendo ser liberado por, na época, ainda ter dois mandados de prisão válidos.
Foragido, o contador também é acusado de tentar enganar as autoridades, desta vez, simulando a própria morte. Ele utilizou seus dados em substituição ao nome de paciente que morreu no HR (Hospital Regional) Rosa Pedrossian.
A fraude foi descoberta por meio do confronto das digitais. Ele mudava constantemente de endereço e usava nomes falsos.
“Jamais lavou dinheiro” – A defesa de Tércio Brandino informa que ele é contador há três décadas e não tem ligações com organização criminosa.
“Ele é contador e abre empresas, mas não tem responsabilidade sobre o que vai ser feito delas. O Tércio é ‘penalizado’ por conduta que jamais praticou. Não conhece nenhum traficante e jamais lavou dinheiro do tráfico" , afirma o advogado Marcos Ivan Silva.
De acordo com ele, não houve pedido de prisão ou mandado de busca e apreensão contra o contador, que está preso na penitenciária de regime fechado da Gameleira, conhecida como a “Supermáxima”.
Sobre a saída pela porta da frente do Instituto Penal, o advogado diz que o contador só deixou a unidade prisional, porque, durante a checagem de documentos, não foi identificado nenhum outro mandado de prisão em aberto. “Ele também não forjou a própria morte. Na realidade, não tem nada disso”.
A defesa maneja recursos na Justiça estadual e federal para que o preso responda ao processo em liberdade. “Para que possa provar a sua inocência em liberdade. O Tércio vem sofrendo ‘perseguição’ por conduta que não praticou”, diz Marcos Ivan.