Defesa pede liberdade de ex-secretário e diz que nem sonha com delação
André Luiz Cance, apontado como o gerenciador das propinas, foi preso na quinta-feira
A defesa de André Luiz Cance já ingressou com o pedido de habeas corpus em favor do ex-secretário-adjunto de Estado de Fazenda, preso na 4ª fase da Operação Lama Asfáltica. O pedido foi feito ao TRF3 (Tribunal Regional Federal) da 3ª Região nesta segunda-feira (15).
Em entrevista ao Campo Grande News, José Wanderley Bezerra, advogado de Cance, descartou qualquer possibilidade de Cance fazer uma delação premiada. “Jamais”, respondeu ao ser questionado sobre a possibilidade da defesa estar negociando um acordo com o MPF (Ministério Público Federal).
“Isso nunca passou pela cabeça dele [o cliente]. Para se ter uma ideia, eu nunca nem sonhei com isso”, reforçou.
O desembargador federal Paulo Fontes julgará o pedido de liberdade provisória de Cance. Embora o habeas corpus tenha chegado às mãos do julgador às 11h de desta segunda-feira, conforme consta no sistema de consulta processual on-line do TRF, o advogado diz não acredita que alguma decisão seja dada ainda hoje. “Geralmente se leva até três dias para um julgamento destes”.
André Cance é apontado pelos investigadores como o gerenciador do esquema de cobrança e pagamento de propina. Para pedir a prisão do ex-secretário, o MPF sustentou que ele é “possivelmente uma das pessoas que mais enriqueceu com as práticas criminosas contra o erário sob investigação”.
Outro preso – Além de Cance, o dono da Editora e Gráfica Alvorada, Mirched Jafar Júnior, também foi preso na quinta-feira (11). O pedido de liberdade dele ainda não foi feito, pelo menos ao TRF3.
Paulo Kalif, defensor do empresário, não foi encontrado pela reportagem. A última vez que o advogado atendeu às ligações disse que o MPF alegou que os pedidos de prisão eram necessários para a garantia da ordem pública, o que para ele, é um conceito muito vago.
É justamente este argumento que será combatido no pedido de liberdade que o defensor fará em favor do cliente.
Operação – Antes das 6h do dia 11 de maio, a Polícia Federal saiu às ruas de Campo Grande e mais cinco cidades para prender três pessoas, levar outras nove para depor e vasculhar 32 endereços em busca de provas contra organização criminosa investigada por desvio de dinheiro público.
No Estado, naquele dia, equipes comandadas pela força-tarefa cumpriram dois dos três mandados de prisão e um dos alvos, Jodascil da Silva Lopes, era considerado foragido.
Dentre os alvos de mandados de condução coercitiva – quando a pessoa é obrigada a ir até a sede da PF para depor – estavam o ex-governador e o filho dele, André Puccinelli Junior.
A Lama Asfáltica, deflagrada em 2015 com base em investigações que começaram em 2013 e sobre o período de 2011 a 2014, apurou que a organização criminosa causou prejuízo de aproximadamente R$ 150 milhões aos cofres públicos, por meio de fraudes de licitações, desvio e lavagem de dinheiro.
Os investigadores – da PF, CGU (Controladoria-Geral da União) e da Receita Federal – estão em busca, justamente, do rastro do montante milionário que teriam sido desviados.
A quarta etapa da operação foi batizada de Máquinas de Lama porque investigadores apuraram que parte dos pagamentos de propina era feitos por meio do aluguel de maquinário. Outras fases foram nomeadas Fazendas de Lama e Aviões da Lama.