Genro de vendedor de queijos é protagonista em teia de empresas investigadas
Para MP, Edcarlos Jesus Silva é sócio oculto do sogro, apontado como "laranja" na empreiteira JR
A Operação Cascalhos de Areia, realizada na última quinta-feira (dia 15), mostra uma teia de empresas, donas de contrato de R$ 326 milhões com a Prefeitura de Campo Grande desde 2017, a partir de Edcarlos Jesus Silva, 42 anos.
De acordo com a investigação, ele é genro de Adir Paulino Fernandes, 65 anos, único dono da JR Comércios e Serviços Ltda desde 2018. Apesar de a empresa ter capital social de R$ 500 mil e contratos de R$ 224 milhões para locar maquinários e caminhões à Prefeitura de Campo Grande, Adir disse que tem renda de R$ 2.500 com a venda de queijos.
A suspeita do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) é de que Edcarlos seja sócio oculto da JR Comércios e Serviços. Inclusive, em 19 de abril de 2019, Adir outorgou procuração para o genro. O documento, sem prazo de validade, concedia amplos e irrestritos poderes a Edcarlos.
“Verifica-se que Edcarlos figurou, desde o ano de 2018, como procurador da empresa JR Comércio, inferindo-se que Adir Paulino Fernandes atue como sócio meramente figurativo (laranja)”, aponta o Ministério Público.
Com plenos poderes sobre a JR Comércios, Edcarlos também é sócio majoritário de outras duas empresas investigadas na Cascalhos de Areia por contratos com a Sisep (Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos): Engenex Construções e MS Brasil Serviços e Comércios Eireli.
Edcarlos Jesus Silva já responde a ação por improbidade administrativa por venda de kits de materiais escolares à Prefeitura de Paranhos em 2015, alvo da Operação Toque de Midas, realizada pela PF (Polícia Federal).
MS Brasil – Em segundo lugar no ranking de valores de contratos, a MS Brasil Comércios e Serviços foi contratada pela Prefeitura de Campo Grande para a locação de maquinário e caminhões.
Tanto na Receita Federal quanto nos documentos da prefeitura, a empresa tem o mesmo endereço: Rua Quintino Bocaiúva, Jardim Paulista. No local, cercado por residências, a reportagem encontrou a MS Brasil de portas abertas na última segunda-feira (dia 19).
O Campo Grande News questionou o fato de uma empresa que loca maquinários e veículos não ter pátio. A informação foi de que os equipamentos são locados ao município e ficam em prédios públicos. Na ocasião, Edcarlos Jesus Silva não estava no local.
Engenex - Na Receita Federal, os donos da Engenex são Edcarlos Jesus Silva e Paulo Henrique Silva Maciel (sobrinho de Edcarlos). A empresa foi aberta em 2011 por Mamed Dib Rahim, 52 anos, e o pai, que deixou a sociedade em 2016. No ano de 2021, houve mudança no quadro societário, com a transferência para Edcarlos e Paulo Henrique.
Mamed também foi alvo da Operação Cascalhos de Areia na semana passada. A Engenex tem capital social de R$ 950 mil e foi contratada pela prefeitura para conservação de ruas sem asfalto.
“Quanto ao processo de transferência da empresa Engenex, chamou atenção o fato de que a transferência/venda ocorreu ao tempo em que ela possuía contratos (milionários) vigentes com a Prefeitura de Campo Grande”, cita o Ministério Público. O saldo remanescente dos contratos em 2021 era de R$ 10,1 milhões.
Operação Penúria - Os nomes de Mamed Dib Rahim e Edcarlos Jesus Silva já haviam se cruzado na Operação Penúria, em que o Ministério Público investigou superfaturamento de R$ 2 milhões em contrato de compra de cesta básica pela Sedhast (Secretaria Estadual de Direitos Humanos, Assistência Social e Trabalho).
Na análise dos dados telemáticos de Mamed, apurou-se que Edcarlos figura também como responsável direto pela empresa JR Comércios e Serviços.
O endereço informado à Receita Federal pela Engenex é Rua Fernando Rei, Jardim Monte Alegre, mesma rua onde fica a JR Comércio.
Recursos humanos e materiais - A investigação aponta que as empresas Engenex, MS Brasil e JR Comércios não possuíam estrutura (veículos e funcionários) para executar os contratos com a administração municipal.
"Existindo a comprovação e/ou indícios que podem remeter, no caso das empresas Engenex e MS Brasil, a utilização da estrutura da empresa A.L. dos Santos para execução dos contratos pactuados nos anos de 2017 e 2018, contratos estes ainda em pleno andamento".
Oficial - A Prefeitura de Campo Grande divulgou manifestação sobre a Operação Cascalhos de Areia. “O Município permanece à disposição para qualquer esclarecimento ou fornecimento de informações necessárias aos entes do processo”. A reportagem não conseguiu contato com a defesa dos demais citados.
Matéria editada às 15h20 para retirada de citação à empresa RR Nogueira, que não é representada por Edcarlos, cujo nome aparece erroneamente em publicação referente ao processo TC/12420/2021 do Tribunal de Contas de Mato Grosso do Sul.