Grupo do MP que investiga polícia vai apurar se Deam falhou com Vanessa
Alvo de outros órgãos, Delegacia da Mulher também terá de responder a inquérito do Gacep
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O Gacep (Grupo de Atuação Especial de Controle Externo da Atividade Policial) vai investigar o atendimento dispensado à Vanessa Ricarte, a jornalista de 42 anos vítima de feminicídio na semana passada hora minutos depois de deixar a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher. O time de promotores de Justiça que investiga a polícia e policiais também fará apuração mais aprofundada sobre o trabalho da Deam de Campo Grande, que passou a sofrer críticas depois que áudio de Vanessa reclamando do atendimento veio à tona.
RESUMO
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O Gacep investiga o atendimento dado a Vanessa Ricarte, vítima de feminicídio, na Deam de Campo Grande. Vanessa, de 42 anos, foi morta pelo ex-companheiro Caio César após deixar a delegacia. O Gacep abrirá dois procedimentos: um para analisar o atendimento específico a Vanessa e outro para avaliar o funcionamento geral da Deam. Vanessa havia denunciado violência e conseguido medida protetiva, mas foi morta ao voltar para casa sem escolta. O caso ganhou repercussão nacional, levando à revisão de protocolos e investigações na Corregedoria da Polícia Civil.
“Enquanto órgão de controle externo da atividade policial, vamos apurar as circunstâncias em que se deu o atendimento à vítima Vanessa, uma vez que, em face dos dados noticiados, há ao menos o risco ou a possibilidade de que tenha havido deficiência nesse serviço”, afirma o promotor Douglas Oldegardo Cavalheiro dos Santos, chefe do Gacep. “Já instaurei um procedimento para aferir as circunstâncias em que se deu o atendimento para que a gente possa ter uma visão clara de como tudo ocorreu e ponderar sobre os fatos com todos os dados na mão”, completa.
O coordenador do grupo explica que um segundo procedimento foi aberto para coletar dados gerais sobre o atendimento na Deam. “Enquanto órgão de tutela da segurança pública, vamos aferir a efetividade do fluxo atual de todo funcionamento da Deam, desde o atendimento que a vítima recebe na recepção quando do acolhimento inicial, tempo (e condições) de espera, profundidade (e padrão) de atendimento, até as medidas efetivas de proteção ordinariamente adotadas, passando inclusive pelo passivo de ocorrências acumuladas sem a deflagração de procedimentos formais”.
Não há prazo para que as investigações sejam concluídas. “O primeiro [procedimento], tem mais urgência. O segundo, tem mais efetividade a longo prazo”, explicou.
De qualquer maneira, o chefe do Gacep afirma que dará prioridade às duas investigações. “Minha intenção, apesar de ser árduo isso, é tratar ambos com a mesma intensidade e com prioridade zero, para que possamos levar à população, em um tempo razoável, o menor possível, uma perspectiva proativa, concreta e, sobretudo, honesta do que se identificou de melhorias ou falhas”.
A morte de Vanessa ganhou repercussão nacional e trouxe à Campo Grande equipe do Ministério das Mulheres. Além disso, o Governo de Mato Grosso do Sul admitiu falha a mandou que o protocolo de atendimento na Casa da Mulher Brasileira seja revisto, além de abertura de investigação na Corregedoria da Polícia Civil contra os profissionais pelas quais a jornalista passou.
O crime – No depoimento dado à Deam, ao qual o Campo Grande News teve acesso, Vanessa Ricarte afirmou que estava morando com o músico Caio César Nascimento Pereira desde agosto do ano passado e que ele era dependente químico, além de beber todos os dias e ficar embriagado com frequência.
Os dois tinham casamento marcado para o dia 14 deste mês, mas a jornalista havia terminado a relação dias antes. A caminho da delegacia, ela relatou a uma amiga que passou “cinco dias de terror” com Caio dentro de casa. Bebendo e usando cocaína sem parar, ele recusava-se a sair do imóvel, dizendo que só deixaria com o local “com a polícia”.
O músico também ameaçou a ex de morte. Na terça-feira (11), por volta das 12h – ou seja, pouco mais de 24 horas antes de matar Vanessa –, num momento em que estava “chapado” (drogado), Caio pegou uma faca e a ameaçou, dizendo: “eu vou me matar, mas você vai junto”.
Na noite daquele dia, ele publicou fotos íntimas de Vanessa em rede social com link para site de vídeos pornográficos. Este foi o estopim para que ela fosse à polícia.
Vanessa procurou a Deam, conseguiu medida protetiva, mas voltou para casa sem escolta policial, na companhia de um amigo. Na delegacia, conforme relata a vítima no áudio gravado a caminho “da morte”, ela diz que foi orientada a avisar o ex que estava a caminho da residência e pedir que ele saísse.
No fim da tarde da quarta-feira (12), quando Vanessa chegou em casa para pegar roupas e pertences, Caio a atacou e matou com três facadas na altura do coração. Ele foi preso flagrante.
O músico já possui pelo menos 11 registros de violência doméstica, incluindo um contra a própria mãe e irmã.
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