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Capital

Líder da “Família do Norte" se nega a falar sobre passado em audiência da Omertà

"João Branco", condenado por matar delegado, se negou a responder sobre crime, e juiz acatou queixa

Marta Ferreira | 21/05/2021 16:35
"João Branco", que testemunhou ontem em processo derivado da Omertà, durante escolta por policiais federais. (Foto: G1/Amazonas)
"João Branco", que testemunhou ontem em processo derivado da Omertà, durante escolta por policiais federais. (Foto: G1/Amazonas)

Produziu tensão entre as partes, para dizer o mínimo, a participação do traficante amazonense “João Branco”, apontado como líder de facção criminosa do Amazonas, em audiência de processo por execução ocorrida há 3 anos em Campo Grande, investigada pela operação Omertà. Testemunha de defesa em audiência nesta quinta-feira (18), João Pinto Carioca protestou contra pergunta sobre sua vida pregressa, e a reclamação acabou sendo aceita pela Justiça.

O episódio ocorreu depois de o promotor Douglas Oldegardo dos Santos indagar ao depoente se ele integra a FDN (Família do Norte), máfia violenta que já produziu matança em presídios do norte do País.

“Senhor?”, balbuciou o preso em tom de dúvida, para depois dizer “não”.

A afirmação vai contra a tudo que já foi afirmado sobre ele, sempre relacionado como liderança da FDN, à qual é atribuída rebelião com 55 mortes, a mais sangrenta dos últimos tempos no Brasil.

Quando a pergunta foi sobre suas condenações, João Branco citou apenas “tráfico”.

“O senhor não é condenado por matar um delegado”, questionou o promotor, em alusão à morte da autoridade de Oscar Cardoso, em março de 2014.

A autoridade policial foi atacada em uma banca de peixe, com 18 tiros.

A polêmica - Foi aí que o clima se tornou tenso. “João Branco” disse estar recorrendo dessa condenação, emendando com a declaração de que seu passado não era objeto do processo.

O advogado Tiago Bunning, defensor de Jamil Name, réu no caso, também reclamou. O juiz, Aluizio Pereira dos Santos, titular da 2ª Vara Criminal, acatou a queixa.

A autoridade disse que as perguntas deveriam se ater aos fatos da ação criminal, referente à execução do chefe de segurança da Assembleia Legislativa, Ilson Martins de Figueiredo, 62 anos, fuzilado em 11 de junho de 2018, na Avenida Guaicurus, em Campo Grande.

Visivelmente incomodado, o promotor manifestou-se de forma acalorada. Argumentou ter feito indagações à testemunha como forma de demonstrar se ela tem ou não credibilidade.

Diante dessa alegação, foi dito pelo juiz e pelo advogado que a informação sobre o passado criminal de "João Branco" poderiam constar das peças por escrito dentro do processo, sem precisar perguntar à testemunha, pois são informações disponíveis em documentos públicos.

No fim das contas, o entendimento aplicado foi de que a pergunta “não valeu”, em razão do protesto da defesa.

O que disse? – Testemunha de Jamil Name Filho na ação, João Pinto Carioca falou, essencialmente, sobre seu conhecimento a respeito da apreensão de bilhete no presídio de Mossoró, material usado como prova de orquestração de atentado a autoridades de Mato Grosso do Sul,  atribuído aos Name, com a ajuda do ex-guarda civil metropolitano Marcelo Rios. Todos estão presos em Mossoró, onde o amazonense está há mais de três anos.

No depoimento, o foco foi outro preso, Kauê Vitor Santos da Silva, responsável por entregar o papel à direção do presídio federal, dando início à investigação sobre o plano de atentado. Essa descoberta foi alvo de fase da Omerá,  fato citado no processo pela morte de Ilson como indicativo do perigo representado pelos réus.

"João Branco", à esquereda na foto, e "Orlando de Curicica", durane audiência nesta quinta-feira (20)
"João Branco", à esquereda na foto, e "Orlando de Curicica", durane audiência nesta quinta-feira (20)

Miliciano – Na sessão de ontem, também foi ouvido como testemunha de defesa o ex-policial Orlando de Oliveira Araújo, o “Orlando de Curirica”, indicado como chefe de milícia no Rio de Janeiro e preso pelo envolvimento no assassinato da vereadora Marielly Franco, em 2017.

Curicica também falou sobre o bilhete já citado. Assim como “João Branco”, o tom de suas afirmações foi de desqualificação do preso Kauê e o que vier dele como informação.

Ambos os depoentes colocaram a direção do presídio de Mossoró sob suspeita de beneficiar o criminoso.

A audiência durou das 13h30 até às 17h40. No termo de assentada, espécie de relatório da procedimento, o juiz  solicitou ao presídio de Mossoró informações sobre a permanência de Kauê, que foi transferido para Campo Grande no ano passado.

Na semana que vem, continuam os depoimentos de testemunhas de defesa. No dia 24, está prevista a fala de Toni Angelo, outro detento e integrante de milícia no Rio de Janeiro.

Também são acusados nesta ação,  Fahd Jamil, preso há um mês em Campo Grande, e o filho dele, Flavio Jamil Georges, foragido desde junho do ano passado. A motivação do assassinato do ex-chefe de segurança da Assembleia seria a vingança por outra morte, a do filho do "Rei da Fronteira", como Fahd foi conhecido durante décadas.


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