"Não manda na minha vida", protesta Name contra próprio advogado em audiência
“Você é meu advogado mas não manda na minha vida”, afirmou nesta tarde o réu na operação Omertà Jamil Name, 81 anos, durante audiência para ouvir testemunhas de defesa em ação penal envolvendo a execução do chefe de segurança da Assembleia Legislativa, Ilson Figueiredo, em 2018. O motivo da frase foi a insistência de Jamil de conversar com o juiz do caso, Aluízio Pereira dos Santos, da 2ª Vara do Tribunal do Júri, no começo da sessão.
Jamil Name participa da audiência por vídeo, direto do Presídio Federal de Mossoró (RN), onde está preso. Em Campo Grande, em cela do Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco, Assaltos e Sequestros), também participa da videoaudiência o compadre de Name, Fahd Jamil, acusado junto com ele de orquestrar a morte de Figueiredo. Antes chamado de "Rei da Fronteira", Fahd está preso há um mês, quando desistiu da fuga de 10 meses e se apresentou.
Como o procedimento é para ouvir depoentes, e não os réus, o advogado de Jamil Name, Tiago Bunning, ao perceber o pedido dele para falar com o juiz, alertou que a vez do cliente se manifestar é no interrogatório e não hoje.
Antes disso, Name já havia protestado em voz e em gestos, pela vontade de conversar com o magistrado. “Eu quero falar com o juiz, por um minuto”, declarou.
Prontamente, o advogado entrou em cena, para tentar convencer o cliente de que a oportunidade dele de ser ouvido será no dia 27 de maio, quando está marcado o interrogatório dos réus.
O apelo do réu acabou fazendo a audiência começar em tom polêmico. Ao pedir a palavra, o promotor do caso, Douglas Oldegardo dos Santos, foi interpelado pelo defensor de Name, que chamou de “desarrazoada” sua fala, antes mesmo da conclusão.
Alegou existirem incidentes de insanidade mental quanto a Jamil Name, e que acusação, exercida por Douglas, estaria se aproveitando da situação, ao se valer de um “evidente prejuízo na capacidade de cognição”.
Douglas, notadamente irritado, citou a necessidade de “figalguia” entre as partes, dizendo que foi interrompido antes mesmo de desenvolver o raciocínio. Ao argumentar, defendeu que o cliente tem direito à “autodefesa”, ou seja, a se manifestar.
“Há uma desconexão, desacerto entre autodefesa e defesa técnica”, opinou o promotor.
“Se estão colidindo, a minha sugestão é que se decida em favor da autodefesa”, completou.
O advogado, então, pediu para que se essa for a decisão do magistrado, que ele pudesse conversar com o cliente antes de ele se manifestar.
Receio - Em audiência anterior, no ano passado, Jamil Name chegou a oferecer propina milionária ao magistrado em outra audiência. O caso se transformou em mais uma apuração contra ele.
Depois disso, foram apresentados os incidentes de insanidade mental, para que ele seja considerado incapaz de gerir a própria vida e seja nomeado um tutor.
Diante do impasse, a autoridade do judiciário decidiu que a audiência de hoje ocorreria normalmente, e no final vai conversar com o réu, em separado, além de permitir a conversa com o defensor.
Palavra do defensor - "A situação ocorrida na audiência de hoje aumenta ainda mais a preocupação da defesa com a saúde de Jamil Name. É mais um dos atos que evidenciam que além dos diversos problemas físicos de saúde atualmente lhe falta plena faculdade mental, ao ponto de sequer compreender o procedimento de um processo penal que guarda para o réu o momento de ser interrogado apenas ao final de todos os depoimentos, o que já foi lhe explicado diversas vezes", afirmou o defensor, Tiago Bunning,
Segundo o advogado, Jamil Name não compreende em quantos processos é acusado e quantas prisões preventivas existem em seu desfavor, sequer tem conhecimento de qual fato é apurado em cada uma das mais de 30 audiências a que já foi submetido.
"Ele apenas delira e vem repetindo que “vai morrer se permanecer preso em Mossoró”.
O advogado citou a fala de testemunhas que foram ouvidas na data de hoje, que estão presas em Mossoró, segundo as quais é fato notório no lugar que e Jamil Name é o mais idoso entre os presos. "Sequer consegue fazer sozinho as suas necessidades pessoais mais básicas, tais como tomar banho e cortas as unhas", afirma Bunning.
(Matéria editada às 18h para acréscimo do posicionamento do defensor de Jamil Name.