Polícia estuda desarquivar inquérito sobre casal sumido há 12 anos no Nova Lima
João Leonel da Silva, preso desde 2016, chegou a ficar preso por envolvimento no caso em 2009
O desarquivamento de caso policial que é mistério há 12 anos em Campo Grande está sendo avaliado pela Depca (Delegacia Especializada de Proteção à Infância e Adolescência). Trata-se do sumiço de Naiara Ribeiro Lucas, 17 anos, e de Wellington Afonso dos Santos Aguero, 14 anos. O casal de namorados nunca mais foi visto, desde 8 de fevereiro de 2009, quando saiu para encontro às escondidas na madrugada, em frente da residência dela, num ponto de ônibus da Rua Nefe Pael, no Bairro Nova Lima.
A titular da unidade policial, a delegada de Polícia Civil Marília de Brito, confirmou à reportagem que está “sendo construído caminho para o pedido de reabertura do caso”.
Legalmente, a investigação pode ser retomada por haver indícios fortes de duplo homicídio, crime com prazo de prescrição de 20 anos. Ocorrida há 12 anos, a provável morte violenta dos jovens tem até 2029 para responsabilização do culpado.
Quem decide se cabe ou não voltar a apurar a situação é o juiz responsável, com base em novos elementos de convencimento para isso, ou seja, tem de haver motivo claro. Marília de Brito não detalha quais são esses elementos, para não atrapalhar o andamento.
Suspeito - Reportagens do Campo Grande News dos últimos dias mostram que João Leonel da Silva, o homem conhecido como “Maníaco do Segredo”, chegou a ser preso como suspeito por envolvimento no sumiço do casal de adolescentes. No quintal da casa dele, na Avenida Cândido Garcia Lima, no Nova Lima, foram encontrados enterrados os celulares das vítimas.
Com 28 anos na época, ele alegou ter recebido os aparelhos como pagamento de dívida de apostas em jogos de vídeo-game, durante reuniões com esse intuito que promovia. Os indícios contra João Leonel foram considerados insuficientes para uma acusação. Outras cinco pessoas, entre elas um traficante da região, chegaram a ser indiciadas pelo crime, mas não foram denunciadas à Justiça.
João Leonel cumpre pena por estupro e roubo, além de tentativa de latrocínio, em ataques a casais parados veículos em locais ermos, sempre à noite. Está na ala dos criminosos sexuais do IPCG (Instituto Penal de Campo Grande).
Pelo menos sete ataques, de 2011 a 2016, são atribuídos a ele, dado o padrão semelhante e o reconhecimento por vítimas. O perfil traçado é de criminoso em série, espécie de perpetrador minucioso, inteligente, que dificultava o máximo o trabalho da polícia, agindo para apagar os vestígios. Usava luvas, conforme os relatos, e fazia as mulheres estupradas andarem a esmo e entrar na água para eliminar sinais de esperma, além de utilizar preservativos durante a violência sexual.
Na última das investidas criminosas, em agosto de 2016, matou um homem e estuprou a namorada dele, segundo a denúncia. Foi condenado a 28 anos de reclusão, por esse crime e mais um roubo acompanhado de estupro.
Essas investigações correram em paralelo na Deam (Delegacia de Atendimento à Mulher), onde a delegada Marília de Brito trabalhava, e na Derf (Delegacia Especializada de Roubos e Furtos.)
Indícios – A reportagem teve acesso ao conteúdo investigatório sobre o desaparecimento de Wellington e Naiara, tratado em sigilo, por se tratarem de adolescentes. Os autos estão arquivados desde 2015, sem apontar responsáveis.
Conforme identificado pelo Campo Grande News, João Leonel chegou a ficar preso 50 dias por envolvimento no crime.
Foi para a cadeia em 29 de maio de 2009 e saiu em 17 agosto. Seguiu a vida até voltar a ser personagem policial, em menos de dois anos, e não mais deixar essa condição.
Quanto a Naiara e Wellington, duas famílias, os amigos e uma comunidade inteira seguem se perguntando o que foi feito deles.