Posto da PM da Vila Margarida já tem 60% do valor para obra que começa dia 3
Verba e materiais vem de parceiros. Em contrapartida, moradores ficam responsáveis pela mão-de-obra. Posto deve ser entregue até o Natal.
Arregaçar as mangas. É esse o sentimento e a vontade dos moradores da Vila Margarida e dos arredores, para começar o mais rápido possível a reforma do posto da Polícia Militar, fechado há mais de 20 dias por conta da precariedade na estrutura.
Construído pela própria comunidade há duas décadas é com a mesma vontade que a nova geração de moradores se junta para reforçar a estrutura do prédio, que pertence ao Centro Comunitário da Vila Margarida.
O sentimento de insegurança desde que a Polícia Comunitária do 2° pelotão do 9° Batalhão foi transferido, da Vila Margarida, para o Parque das Nações Indígenas trouxe à tona a disposição nos moradores de erguer uma nova unidade.
“Nós construímos este posto há mais de 20 anos, todo esse terreno e nós queremos que volte a funcionar, não como estava, mas bem melhor”, defende a moradora Lindete Silva, de 57 anos.
Baiana, mas sul-mato-grossense de coração, ela está há 36 anos no bairro.
“Quando eu cheguei não tinha nada aqui, foi a luta para ter água, luz, nossa maior conquista foi o asfalto. E era tudo nós mesmos correndo atrás e não vai ser diferente agora”, completa.
Hoje, no comecinho da noite, moradores estavam reunidos aguardando para discutir o que vai ser feito já para a próxima semana, de reforma. A reunião foi entre parlamentares, Comando do 9° Batalhão da PM e quem faz o dia-a-dia do bairro.
Antes de começar, a revolta de uma moradora chamou atenção. Enquanto esperava para ver no que podia ajudar, dona Ilda Melo Vieira, de 60 anos, disse em uma só frase o que resumia a história toda de um posto policial erguido pela própria população.
“Eu tenho vergonha dos policiais trabalharem para nós nesse posto. Nós temos a maior confiança neles e fico bem feliz de ver que vão voltar. Eles estão para cuidar da gente e eu quero o prédio muito bonito, não essa estrutura feia. Nós temos que dar coisa boa para quem cuida da gente”, desabafa.
Ela conta que já se sentia tranquila só de passar e ver as portas abertas. “Sou acostumada a ver eles, quando não vi aí, eu liguei no 190 para saber o que tinha acontecido”, conta.
A preocupação é também com o final de ano chegando. A maioria quer ver o posto pronto até o Natal, compromisso firmado entre vereadores que buscaram parceiros para conseguir materiais e começar a reforma.
O Comandante do 9° Batalhão da PM, coronel Haroldo Luiz Estevão, fez questão de frisar que a Polícia não tem a menor intenção de tirar o posto e que mesmo fechado, desde segunda-feira à noite, uma base móvel foi instalada no local.
“Não tem como manter 24 horas, mas estamos buscando atender as solicitações”, explica.
Na semana passada os vereadores Paulo Siufi (PMDB), Carlão (PSB) e Jamal (PR) se reuniram com a população e a Polícia, pegaram o projeto de reforma e foram em busca de parceiros.
Conversando com empresários e os próprios moradores dos bairros vizinhos, Giocondo Orsi e Autonomista, que são cobertos pelo policiamento deste pelotão, a comunidade já conseguiu 60% dos R$ 17 mil necessários apenas para a compra dos materiais.
A contrapartida vai ser da própria população, que deve contribuir com a mão-de-obra para a realização do trabalho.
Após apresentado o resultado dos materiais já conseguidos, o que se viu na reunião foram moradores levantando as mãos, dispostos a ajudar financeiramente e com os braços também.
“Nós temos um grupo de idosos e já posso colocar aqui, que vamos ajudar”, levantou Lindete, personagem já citado no começo da reportagem.
“Eu sou comerciante aqui do bairro, da padaria lá de cima e também vou ajudar”, disse Ademir Fantinato, vítima de dois assaltos ao comércio há pouco tempo e que teve a casa invadida por ladrões na última terça-feira, às 21h.
O que se viu em seguida foram várias mãos se erguendo, com o sentimento de ajudar, até pelo próprio benefício.
O prédio pertence à Associação de Moradores e há 20 dias estava de portas fechadas. Para muitos o local pode não ter um significado tão grande quanto para àquelas pessoas, que viram pais ou até eles mesmos, erguendo tijolo após tijolo.
O que a população vive com os policiais deste pelotão é uma cumplicidade e confiança sem tamanho. A proximidade entre vizinhança e PM é tanta que em algumas casas existe até o número do sargento grudado na geladeira.
“Eles sempre passavam aqui perguntando se estava tudo bem e que se precisássemos de alguma coisa, era só ligar no pelotão”, disse ao Campo Grande News em entrevista na semana passada, a comerciante Irene Moreira Cardoso, de 67 anos.
A proximidade é recíproca, ao final da reunião, quem ainda não tinha, pode anotar o telefone celular funcional e pessoal dos comandantes coronel Estevão, do 9° Batalhão e tenente Muzili, do 2° pelotão do 9° Batalhão.
“Eu estou dando a minha confiança à vocês, podem ligar a qualquer hora”, disse o coronel Estevão.
Uma comissão formada pelos próprios moradores vai gerir todo o processo da reforma. Um comprovante fiscal vai ser entregue à cada pessoa que fizer a doação. Quem puder contribuir com a população da Vila Margarida, pode procurar pela presidente da comissão, Elizabeth Prestes Gelatti, pelo telefone 9985-3766.
“Qualquer entrega de material vai ser documentado em nome da comissão”, reforça Elizabeth.
Se depender da disposição dos moradores, a obra será concluída até o Natal, como foi garantido pelos vereadores.
Falta de estrutura - As portas fechadas, inclusive sem maçaneta, o vidro da janela da fachada parece estar quebrado e até a placa com o nome do 9° Batalhão está com as letras apagadas. O aspecto de abandono é claro, por ali já não existe Polícia mais.
As adequações na tentativa de atender a demanda transformaram o local em diversos “puxadinhos”.
Durante reportagem na semana passada, o Campo Grande News pôde constatar que nem cortinas havia na unidade. As janelas eram pintadas de azul, não uma alusão às cores da Polícia Militar do Estado, mas para tentar amenizar a entrada solar.
Os pisos são desiguais e mostram o desgaste do tempo. O banheiro está em condições precárias e segundo relatos quando acionada a descarga, a água saía toda para fora.