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Capital

"Rapaz já caiu morto no quintal", lembra moradora ao comemorar mudança em região

Alguns podem até reclamar, mas quem vive no Corredor do Nova Lima diz que é hora de derrubar má fama

Aletheya Alves | 25/06/2021 11:13
Rua Marquês de Herval, conhecida como "Corredor do Nova Lima" em Campo Grande. (Foto: Paulo Francis)
Rua Marquês de Herval, conhecida como "Corredor do Nova Lima" em Campo Grande. (Foto: Paulo Francis)

Há décadas conhecida como "Corredor do Nova Lima", a Rua Marquês de Herval, em Campo Grande (MS), carrega consigo histórico de desova de corpos, fama por tráfico e brigas de gangues. Enquanto relembram o passado, moradores explicam que a realidade de hoje não é mais reflexo do que foi vivido desde que asfalto e polícia chegaram.

“Quando cheguei aqui, mataram um rapaz. Ele correu e caiu no nosso quintal já morto. Isso acabou, não tem mais”. Há duas décadas morando no "corredor", Lucia Jesus, de 49 anos, construiu sua vida a partir do zero na Marquês de Herval. Em conjunto com o desenvolvimento do bairro, conta que viu sua história também mudar.

Comerciante, ela relata que começar a viver no Nova Lima não foi fácil, ainda mais com o morto caindo do muro e histórias sobre violência serem constantes.

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Tinha muito essa coisa de briga de gangue, mortos. Mas até o esgoto está chegando agora, o asfalto está aí tem cerca de dez anos, só coisas boas estão vindo. As ruins ficaram para trás, comemora Lucia.

Puxando lembranças da memória, ela explica que viu não apenas a violência diminuir no bairro, mas também empreendimentos darem certo. “Aqui a gente construiu do zero a partir do lote. Quase não tinha casas, era mais mato, terra e areia. Levantamos aqui o mercado e deu certo. Eu não tinha nada, hoje tenho meu comércio, minha casa, uma vida melhor”.

Jilciley Felix Pereira, de 36 anos, conta que cresceu no Corredor do Nova Lima e viu mudanças acontecerem. (Foto: Paulo Francis)
Jilciley Felix Pereira, de 36 anos, conta que cresceu no Corredor do Nova Lima e viu mudanças acontecerem. (Foto: Paulo Francis)

Para exemplificar a quebra da violência, o comerciante Jilciley Felix Pereira, de 36 anos, conta que chegou ao bairro há 30 anos e já viu familiar sendo vítima da fama carregada pela rua. “Sempre conto que há uns dez anos um parente meu veio do Interior para cá. Descendo o "corredor", pegaram ele, levaram para uma área mais afastada e deixaram sem nada”, narra.

Enquanto a filha de 11 anos brincava na mesma rua, ele explicou que hoje não acredita que o mesmo aconteceria. “Tem toda uma estrutura agora. Asfalto veio, a polícia está presente nas ruas, estamos com obra de esgoto. Algumas coisas continuam como em qualquer bairro, não acho que seja algo só daqui”.

Crianças brincando durante a tarde na rua Marquês de Herval. (Foto: Paulo Francis)
Crianças brincando durante a tarde na rua Marquês de Herval. (Foto: Paulo Francis)

Responsável pela base da Polícia Militar no bairro, o tenente-coronel Edgar Almada explica que o policiamento fixo está na região há mais de 15 anos. Sobre o funcionamento das equipes, ele conta que há cerca de um ano houve aumento da presença policial nas ruas e, consequentemente, maior visibilidade.

“Temos feito várias operações com fechamento de bocas de fumo, prisão de pessoas foragidas e abordagens a suspeitos. Cada vez mais a polícia tem intensificado os trabalhos. Hoje o Nova Lima é uma nova realidade, um bairro muito mais seguro”, o tenente-coronel explica.

Maquinária e obras de infraestrutura sendo executadas no "Corredor". (Foto: Paulo Francis)
Maquinária e obras de infraestrutura sendo executadas no "Corredor". (Foto: Paulo Francis)

Outro quadro - Dona de salão de beleza, Adelina Souza, de 59 anos, explica que hoje vê como problema o preconceito gerado por quem não vive na região. “Não é aquela coisa do jeito que pintam. O povo fala muito. Quando você está no centro da cidade e fala que é do Nova Lima, as pessoas até se encolhem”, lamenta.

Compartilhando da experiência, a vendedora Suely Rodrigues, de 41 anos, se considera defensora do bairro. “Quando alguém fala mal eu já pergunto se a pessoa conhece. Aqui tem estrutura, é um bairro calmo. Os vizinhos se ajudam, todo mundo cuida do outro”, explica.

Suely Rodrigues, de 41 anos, conta que costuma defender o bairro contra preconceitos. (Foto: Paulo Francis)
Suely Rodrigues, de 41 anos, conta que costuma defender o bairro contra preconceitos. (Foto: Paulo Francis)

Pensando em épocas passadas, a vendedora diz que também já teve medo de morar no local, mas há décadas. “As pessoas falavam que você entrava em uma casa num dia e no mesmo os ladrões já levavam tudo. Ainda existe esse estigma por causa do "corredor", parece que é um terror, mas não é mais”.

Morador antigo, Mario Paim, de 59 anos, resume o contado pelos vizinhos: “As pessoas falavam que o "corredor" era perigoso, que eu ia morrer. Tô aqui até hoje, e aí?”. Para ele, não há nada que o tire do bairro em que vive há mais de 30 anos.

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Mudou, acabou aquele Nova Lima, não tem mais o antigo. Conheci aqui quando era estrada de chão e é outra coisa agora. Não tenho vontade de sair, podem arrumar uma casa para mim no Alphaville que não vou, Mario completa.

Histórico - Conectando passado e presente, a atmosfera de ocorrências policiais continua existente no Corredor do Nova Lima. Em novembro de 2020, um homem foi encontrado morto em varanda de bar. Conforme relatado por moradores, ele era um andarilho e os socorristas não encontraram sinais de violência.

Chamando mais atenção e se distanciando da área de moradias, a continuação da rua Marquês de Herval também é lembrada pelos crimes de João Leonel da Silva, conhecido como "Maníaco do Segredo". Em 2016, Diego de Sá Barreto, de 28 anos, estava em seu carro com uma mulher, quando foi assassinado com tiros no peito e na cabeça.

Corpo de andarilho encontrado em varanda de bar na rua Marquês de Herval. (Foto: Arquivo/Nova Lima)
Corpo de andarilho encontrado em varanda de bar na rua Marquês de Herval. (Foto: Arquivo/Nova Lima)


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