Se ficar preso, agente penitenciário dividirá cela 17 com Giroto e Amorim
Adilson Aparecido Brum Weis, de 55 anos, foi preso preventivamente nesta terça-feira durante a Operação Paiol, contra o PCC; “cela dos famosos” recebe presos com direito a internação especial, caso de servidores da segurança pública
O agente penitenciário Adilson Aparecido Brum Weis, de 55 anos, preso nesta terça-feira (12) durante a Operação Paiol, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crima Organizado) contra o PCC (Primeiro Comando da Capital), deve ser levado para o Centro de Triagem Anízio Lima, em Campo Grande.
Na unidade, o servidor ocupará a mesma cela que o ex-deputado federal Edson Giroto (PR) e o empresário João Amorim, presos há um mês pela quarta vez em consequência da Operação Lama Asfáltica, da Polícia Federal.
Brum, como é conhecido, aguarda por audiência de custódia em uma cela da 3ª Delegacia de Polícia Civil. O Campo Grande News apurou, entretanto, que se ele tiver a prisão mantida nesta quinta-feira (14), o agente penitenciário deve ser transferido a partir de amanhã para a cela 17, conhecida por receber preso “famosos”, com direito a internação especial.
Companhia - É na cela 17 que Giroto e Amorim estão há 35 dias. Essa é a quarta vez que os dois investigados pela Polícia Federal passam pelo presídio desde 2015, quando a Lama Asfáltica foi desencadeada pela primeira vez.
O servidor estadual Wilson Roberto Mariano de Oliveira e empresário Flávio Henrique Scrocchio (cunhado de Giroto) também estão na unidade.
Além das personalidades políticas, o Centro de Triagem também já abrigou o procurador aposentado, Carlos Alberto Zeolla, que matou o sobrinho com o tiro na nuca, e o ex-prefeito Gilmar Olarte (PP).
Hoje, também estão no local os ex-diretores dos presídios de regime fechado e aberto de Corumbá, Ricardo Wagner Lima Nascimento e Douglas Novaes Vila, presos pelo Gaeco em janeiro do passado durante a Operação Xadrez. A dupla foi acusada por favorecimento de presos, corrupção e peculato, nos presídios da cidade a 419 quilômetros de Campo Grande.
A cela 17 tem hoje 20 presos. Considerados presos tranquilos, recebem dos visitantes cobertores, lençóis, itens permitidos aos demais internos.
Transferências - Segundo também apurou a reportagem com outros agentes, o servidor foi transferido três vezes de unidades penais do Estado em apenas um ano. Brum integra o quadro da Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário) há cerca de 30 anos e também já foi alvo de procedimentos administrativos.
Da Unidade Mista de Monitoramento Virtual do Estado, onde são controlados os presos com tornozeleira eletrônica, o agente foi transferido para a Casa do Albergado e por último para o Instituto Penal, na Capital.
Colegas do investigado afirmam que o número de transferência em curto espaço de tempo é incomum na carreira. Os motivos que podem levar a ação, conforme eles são apenas dois: desentendimento com outros agentes ou comportamento suspeito.
Ninguém soube dizer o motivo da prisão do agente, porém a operação mirava integrantes responsáveis em armar o PCC.
Segundo o Portal da Transparência do Governo do Estado, em abril o agente recebeu salário de R$ 6.637,57 mais R$ 1.370,00 em “remunerações eventuais” – pagamento de diárias, por exemplo. Com os descontos, o servidor teve depositado na conta o valor de R$ 6.433,76.
Também foram preso na Operação Paiol, Tânia Cristina Lima de Moura, 46 anos, era responsável pelas finanças do PCC (Primeiro Comando da Capital) e mulher de José Cláudio Arantes, o Tio Arantes, Elvis Alves Pereira, 25 anos, e André da Silva Frotis, 26 anos.
“Opressor e em expansão” – Os mesmos agentes que comentaram sobre Brum se dizem preocupados com o crescimento no “recrutamento” do PCC no Estado. Segundo eles, antes os membros da facção eram divididos em grupos e espalhados em quilômetros dentre as unidades penais para impedir que tivessem “muito poder”. Entretanto, já não é possível mais adotar a estratégia.
“O preso que acaba de chegar ao presídio geralmente não é de imediato ‘assistido’ pelo Estado. Ele é ‘presa fácil’ para a facção que coloca a disposição advogados, assistência social a família e até drogas, se o encarcerado for dependente, no caso”, detalham os agentes.
Porém, ao aceitar a “ajuda” da facção o preso contrai uma dívida muito difícil de ser quitada. “Ele se torna refém lá dentro e se vê obrigado a assumir culpa, por exemplo, se um celular é encontrado numa cela. É a facção mais opressora do país”, revelam.
Instituto Penal – Antes mais concentrada na Máxima, hoje alguns membros do PCC, conforme agentes, cumprem pena no Instituto Penal de Campo Grande. O problema, é que a unidade penal é a que mais oferece oportunidade de trabalho em troca da remissão de pena aos presos. “É preocupante, pois os presos que estão em dívida com a facção e foram selecionados para trabalhar acabam sendo obrigados a desistirem da oportunidade, dando assim lugar a um membro atuante da facção”.
O cenário ainda é “favorecido”, de acordo com agentes, pela falta de efetivo diante da superlotação das unidades penais, cenário recorrente em todo o Brasil. No Presídio de Segurança Máxima, conforme os servidores, as celas deveriam abrigar cerca de 700 presos, porém a unidade tem hoje aproximadamente 2.400. O número representa um aumento de 242%.
Nos últimos anos, o IPCG vem sendo alvo constante de operação. Em julho do ano passado, a Operação Chip resultou na prisão preventiva do então diretor Fúlvio Ramires da Silva. Na data, outros três agentes foram presos, além de internos que participam de um suspeito esquema de corrupção na unidade.
Em outubro de 2017, três internos do Instituto Penal também foram apontados como líderes da quadrilha especializada no golpe do falso frete em Campo Grande. A denúncia resultou em ação do Batalhão de Batalhão de Choque na unidade. Segundo a polícia, um dos suspeitos, identificado como Ricardo de Souza, o Cabelo, é um dos líderes do PCC (Primeiro Comando da Capital) em Mato Grosso do Sul.
Agepen – Por meio da assessoria, a Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário) informou que acompanha as investigações.
Além disso, esclareceu que “apoia qualquer ação que contribua para a idoneidade dos servidores da instituição e paralelamente às investigações será aberto um processo administrativo disciplinar”.
Sobre as transferências de unidades onde o agente atuava, a agência reforçou que informações como está devem ser obtidas Gaeco.
Sindicato – Ao , o presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários de Mato Grosso do Sul, André Santiago, disse que “o órgão é a favor que qualquer atitude suspeita seja investigada, desde que o servidor tenha direito de se defender no decorrer do processo. E se provado o envolvimento com o crime, que a lei seja aplicada”.
Matéria alterada às 10h51 do dia 15 de junho para correção de informação.