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Capital

Sem vagas, pacientes agonizam e até morrem na fila à espera de UTI

Lidiane Kober | 02/01/2014 10:35
Crise na rede pública tem se agravado e causado até morte na Capital (Foto: Arquivo)
Crise na rede pública tem se agravado e causado até morte na Capital (Foto: Arquivo)

Com déficit de cerca de 30%, pacientes agonizam e até morrem à espera de UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) em Campo Grande. No total, são 159 leitos para quase 800 mil habitantes, sem contar pessoas de todo o Estado que vem à Capital em busca de atendimento mais qualificado. Para piorar, nos últimos cinco anos, as vagas diminuíram e profissionais da saúde preveem um colapso no sistema.

Segundo o presidente do Sindicato dos Médicos de Campo Grande, Marcos Antônio Leite, de 2007 para 2012, o número de leitos baixou de 453 mil para 448 mil no país. “O déficit beira em torno a 30%”, acrescentou. “Chega ao ponto de a gente precisar escolher quem vai para a UTI”, emendou.

O drama é tanto que pessoas chegam a morrer, sem a chance de um tratamento mais avançado. “Em estado grave, horas, minutos são de extrema importância e quanto maior à espera, menos é a chance de sobrevida”, frisou Leite.

Na Capital, a principal referência é a Santa Casa por ter 59 UTIs do tipo III, o mais completo. Do total, 57 atendem pelo SUS (Sistema Único de Saúde). O Hospital Geral El Kadri tem outras 12 particulares. O HU (Hospital Universitário) e o HR (Hospital Regional) têm, respectivamente, 17 e 29 leitos do tipo II, menos avançado.

Diretor técnico da Santa Casa, Luiz Alberto Hiroki Kanamura admite que, diante do déficit, pacientes chegam a ficar no centro cirúrgico à espera de uma vaga. “Até o ano passado, acontecia de a pessoa ficar quatro, cinco dias nas 75 salas do centro cirúrgico”, relatou.

Ele, no entanto, avalia que o déficit de UTIs não chega a causar mortes. A opinião leva em consideração o entendimento de que na hora de salvar vidas o atendimento de urgência e emergência é o mais necessário. “A Unidade de Tratamento Intensivo é mais para tratar sequelas”, acrescentou.

Classificação – Mesmo assim, Kanamura reconhece o drama e, cansado de conviver com a dificuldade, ele desenvolveu na Santa Casa um sistema de classificação para decidir quem chegará à UTI. “Temos uma fila permanente de pelo menos cinco pacientes”, informou. “E a classificação é ética e não tem o controle de quem solicita. Isso faz com que os pacientes mais graves tenham acesso mais rápido”, completou sobre o sistema desenvolvido no hospital.

De acordo com o médico, a classificação, inclusive, virou modelo. “O Ministério da Saúde utilizou-se de nossa classificação e implantou na rede SOS”, destacou. “Este ano não fiquei mais de um leito do centro cirúrgico 24 horas ocupado, porque é classificado, o paciente da sala é mais grave, ganha mais pontos e passa na frente, isso se chama gestão clínica”, emendou.

Futuro preocupante – Apesar de amenizar o problema, o futuro preocupa profissionais da saúde. “A população está envelhecendo, o trauma está aumentando, o cliente está aumentando”, alertou Kanamura.

Para a médica Maria Augusta, que também atende na Santa Casa, os “hospitais não foram programados para receber o alto índice de acidentes de trânsito”. “80% dos pacientes de urgência e emergência são provenientes do politrauma”, informou.

Coordenador do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), Luiz Antonio Tonhão convive diariamente com o drama de não ter onde levar os pacientes. “Se é trauma, a única referência é a Santa Casa que vive lotada”, comentou. “Então, o grande problema é que não temos onde levar as pessoas”, finalizou.

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