ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
DEZEMBRO, QUARTA  25    CAMPO GRANDE 22º

Capital

Sete meses após morte de Mayara, juiz manda Robinho a júri popular

No depoimento, Robinho descreveu todo o relacionamento com a namorada, desde o início até o dia do homicídio, de como saiu da casa onde ela foi morta e para onde foi após o crime

Gabriel Neris e Geisy Garnes | 16/04/2018 17:55
Robinho matou a namorada no mesmo dia que saiu da prisão (Foto: Fernando Antunes)
Robinho matou a namorada no mesmo dia que saiu da prisão (Foto: Fernando Antunes)

Roberson Batista da Silva, de 33 anos, o Robinho, assassino confesso de Mayara Fontoura Holsback, de 18 anos, vai a júri popular pelos crimes de homicídio qualificado por motivo torpe e feminicídio. O juiz Carlos Alberto Garcete de Almeida, da 1ª Vara do Tribunal do Júri, excluiu a terceira qualificadora do crime defendida pelo Ministério Público Estadual, que seria recurso que dificultou a defesa da vítima. A decisão foi tomada nesta segunda-feira (16) depois de ouvir Robinho por cerca de duas horas.

O juiz entendeu que não foram apresentadas provas suficientes para a terceira qualificadora, mas a defesa da vítima e o Ministério Público têm cinco dias para recorrer da decisão. O crime ocorreu setembro do ano passado. A defesa de Robinho informou que se manifestará somente ao fim do processo, mas adiantou que conversará amanhã com o réu para definir quais serão os próximos passos a ser tomados.

Também foram ouvidos o irmão e a mãe de Robinho na tarde desta segunda-feira. O réu foi questionado pelo juiz e pela promotora Lívia Carla Guadanhim Bariani. No depoimento, descreveu todo o relacionamento com a namorada, desde o início até o dia do homicídio, de como saiu da casa onde ela foi morta e para onde foi após o crime.

Robinho contou que que Mayara através de uma garota de programa no qual mantinha relações. Segundo ele, os dois mostraram interesse um no outro desde o primeiro momento em que se viram e ele se ofereceu para tirar a jovem “desta vida”. No dia seguinte ela já frequentava a casa dele e o rapaz comprou uma motocicleta de presente para ela. No terceiro dia em que se conheceram ela conheceu o pai de Robinho e dois dias depois tatuaram o nome um do outro no braço.

Ele contou que havia morado um ano e meio no Japão, período que juntou dinheiro e retornou para o Brasil para atuar como agiota. Robinho contou ao juiz que tinha muitas clientes mulheres e que Mayara tinha ciúmes e em 10 dias decidiu ir morar com ela nos altos da avenida Afonso Pena, em Campo Grande.

Moraram juntos por cerca de três meses e meio até que Robinho foi preso. Ele é condenado por tentativa de homicídio contra a ex-mulher, em 2013, e tinha que cumprir pena de 3 anos e 7 meses de prisão em regime aberto. Pouco tempo depois parou de cumprir a pena e foi considerado foragido. Foi recapturado e mandado para o regime fechado. Ficou mais alguns meses preso e voltou para o regime semiaberto na Gameleira. Robinho deixou de cumprir a pena novamente.

Quando voltava para casa, no dia 28 de outubro de 2015, foi flagrado em uma blitz e preso novamente, desta vez encaminhado para o Instituto Penal. Robinho contou que Mayara dizia querer continuar com ele. Ela tinha 16 anos quando conheceu o rapaz. Em uma conversa séria, ele questionou a menina se “ela não ia 'pilantrar' com ele enquanto estava preso”.

Robinho pediu para que ela fosse morar com a mãe dele neste período. Se tratava de uma estratégia para saber se poderia confiar nela. A convivência com a mãe não era boa e durou cerca de cinco meses. Mayara voltou a morar sozinha no condomínio da Afonso Pena.

Robinho conta nunca se separaram, mas ficou desconfiado de que ela nunca parou de fazer programa enquanto morava sozinha no condomínio. Relatou que no condomínio tinha câmeras, porteiros e outros funcionários que o informavam se ela estava em casa. “Comecei a pegar ela na mentira, percebi que estava mentindo para mim. Ela era assim, 'dinheirista' e interesseira”.

Argumentos – Robinho alega que oferecia uma vida de ostentação, sem dificuldades para a jovem. Até mesmo um carro foi entregue para Mayara. Afirmou que nunca bateu nela por dois motivos. “Primeiro porque gostava muito dela e segundo porque um dia ela me disse: 'Robinho, o dia que você fizer algo contra mim, você vai ser corno”.

No fim de 2016, Mayara decidiu ir morar com o irmão no bairro Universitário – região sul da Capital –, mas não contou para Robinho. Ele ainda monitorava o cartão de crédito e o aparelho celular utilizados pela jovem. Um dia ela chamou um táxi que costumavam usar e se mudou sem avisar o rapaz. Robinho ligou para o motorista perguntando onde havia levado a jovem, porém ouviu que Mayara havia pedido sigilo. O rapaz insistiu e ressaltou que ele pagava os serviços do taxista até que recebeu a informação de que a moça foi deixada em uma casa de esquina em frente a uma pizzaria.

Posteriormente, recebeu uma mensagem do banco de uma compra feita em uma casa de rações localizada na avenida Guaicurus, então Robinho descobriu que ela estava morando com o irmão.

O réu confesso contou que ficava com um iPhone dentro da prisão e monitorava o aparelho da mesma marca que entregou à Mayara. “Eu cuidava dela, as vezes ela falava que ia embora tarde. Eu ficava cuidando”, disse. O monitoramento durou até o dia que ela informou ter sido assaltada.

Ele disse que no dia que saiu da prisão ela estava feliz e pediu um Uber para ele. Os dois foram para a casa do irmão, onde Mayara estava morando. De lá foram beber e fumar na casa da mãe da Mayara. Ficaram por cerca de 2 horas e retornaram para a casa do irmão. Segundo o rapaz, os dois beberam, usaram cocaína, tiveram relações sexuais até que em determinado momento ele foi tomar banho e viu a namorada mexendo no celular na porta do banheiro. Robinho questionou e ela disse que estava sendo cobrada. Ele tentou pegar o celular, mas ela apagou a mensagem rapidamente. Foi o primeiro desentendimento daquele dia.

Continuaram a beber, usar drogas e continuaram a ouvir músicas, até que Mayara desligou o celular da caixa de som. Ela deixou a sala onde estavam e se deslocou até o quarto. Robinho foi atrás dela questionando o motivo de ter escondido o aparelho até que começaram a discutir seriamente.

Ela entrou no banheiro, ligou o chuveiro e sentou no chão. Quando saiu, Robinho perguntou o motivo de estar daquele jeito. “'Você quer saber Robinho, faz tempo que não quero mais você. Não vou parar de fazer programa'. Uma hora você diz uma coisa, agora diz outra”, reclamou Robinho, que teria sido chamado de corno novamente e foi comparado com os clientes da jovem.

O rapaz relata que neste momento partiu para cima dela, quando viu a moça já com uma tesoura na mão. Ele diz que lutaram sobre a cama. “No impulso bati a cabeça nela, peguei a tesoura e passei no pescoço dela”, relatou.

A menina morreu e ele permaneceu na casa até amanhecer. A residência estava toda trancada e ele desconfiou que ela “deveria estar armando alguma coisa”. O rapaz encontrou a chave da casa dentro de um forno que não era usado. Destrancou a casa, pegou uma bicicleta que era de Mayara, trancou tudo novamente, e foi para a casa da mãe.

A mãe do rapaz foi a primeira a saber do crime. Ele alegou que não matou Mayara por vingança ou ciúmes e sim por um momento de raiva durante a briga. Robinho ainda alegou que Mayara costumava se dirigir a ele com ameaças, dizendo que “você não sabe com quem estou me envolvendo” e “que podia matar ele enquanto dormia”.

Nos siga no Google Notícias