Sobre mais prazo para restrições, infectologista alerta: "horas fazem estrago"
Prefeitura de Campo Grande quer adotar só na segunda-feira providências mais rígidas para conter pandemia
“Horas fazem estrago”, foi a resposta do infectologista Rivaldo Venâncio, da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), quando perguntado sobre a intenção da prefeitura de Campo Grande adiar por 72h, para segunda-feira (14) portanto, a colocação em prática de medidas restritivas de circulação impostas por decreto do governo de Mato Grosso do Sul, para tentar conter o caos na saúde pública em razão da explosão de casos de covid-19. A determinação é de entrada em vigor das regras amanhã, fechando o que não é essencial e aplicando toque de recolher das 20h às 5h para a Capital e mais 42 cidades, classificações.
Em petição encaminhada nesta tarde, porém, o prefeito Marquinhos Trad (PSD), solicitou prazo para organizar a estrutura da prefeitura para a fiscalização. A Secretaria Estadual de Saúde ainda não decidiu.
Para o médico, coordenador de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência da Fiocruz e uma das fontes mais consultadas nacionalmente sobre a pandemia, adiar o aperto nas regras de circulação é dar chance para a situação piorar ainda mais. Existe preocupação generalizada entre os profissionais da área com o fim de semana do Dia dos Namorados.
O histórico da curva da doença mostra que a cada data de celebração, há um repique de contágios dias depois, porque as pessoas acabam abusando do convívio social e colocando o vírus para circular e contaminar mais gente.
Situação muito grave – Na avaliação do infectologista, que também é professor na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e já ocupou cargos na área de saúde por aqui, Mato Grosso do Sul demorou a admitir estar em colapso na saúde.
“E não é colapsinho”, manifesta.
Depois, cita que, aparentemente, "normalizou-se" o fato de a doença levar, todo dia, pelo menos 50 vidas sul-mato-grossenses, como tem ocorrido. Em toda a crise sanitária, já são mais de 7,5 mil óbitos no Estado.
No entender do pesquisador da Fiocruz, precisar de vagas de UTI em outras regiões como está ocorrendo, é situação altamente preocupante. “Quando você consegue uma vaga para esse doente, a probabilidade de ele sobreviver diminui muito, porque são internações tardias”, observa.
Venâncio comentou o paradoxo de Mato Grosso do Sul estar nesse quadro e, ao mesmo tempo, ser o que mais vacina comparativamente a outras unidades da federação. Segundo ele, a imunização, até chegar ao patamar de cobertura suficiente para controlar a doença, precisa ser feita junto com distanciamento social rígido.
Foi isso, afirmou, que fizeram países como o Reino Unido, onde houve vacinação em massa junto com lockdown. No Brasil, pontua Venâncio, seria necessário algo nessa linha, aliado à ajuda mais ampla para que tanto o setor empresarial quanto o trabalhador possam, de fato, parar para esperar o controle da doença.