Sujeira e assoreamento ameaçam sobrevivência do Córrego Bandeira
Falta de planejamento urbano pode acabar com área alagada e destruir, em poucos anos, os reservatórios de microbacia hidrográfica.
A vegetação e os animais que ainda sobrevivem ao redor do Córrego Bandeira, sudeste de Campo Grande, parecem gritar por socorro. Estão sufocados em meio às garrafas de cerveja, embalagens plásticas, sacos de lixo, esgoto e muita terra, que já invadiu grande parte da área alagada.
É esse o atual cenário quando se percorre o leito do córrego, que está localizado na microbacia hidrográfica do Bandeira e sucumbe às inúmeras construções a seu redor.
A partir da Avenida Três Barras, nos cruzamentos onde é possível acessar suas margens, como na Rua Rio Bonito - prolongamento da Bom Pastor- o Bandeira torna-se um lixão a céu aberto. Bonito ele realmente é, mas basta prestar atenção para perceber pássaros em meio a plásticos, muitas sacolas, latas e até um esgoto que despeja constantemente substância oleosa na água.
Batalha pela preservação - Não muito distante dessa triste paisagem, em uma área com muito verde, “ilhada” por pavimentação, está localizada a nascente do Córrego Bandeira.
A chácara Coqueiro fica entre as avenidas Gabriel Del Pino e Gerval Bernardino de Souza, que começam no entroncamento da Avenida Três Barras. Lá, o cheiro e a umidade de brejo revelam a mata e as minas d'água devidamente preservadas - depois de grande batalha travada entre os proprietários e o poder público, há cerca de 15 anos.
Quem conta a história é Eny Vieira, 82 anos, que reside no local desde 1990. “Me lembro que briguei porque, quando estava sendo construída a Três Barras, tentaram colocar tubulação para que a água da chuva desembocasse na minha propriedade. Não admiti. Lutei até que o traçado foi modificado”, lembra.
De acordo com Eny, o sistema de drenagem foi “estendido” para a rotatória em frente ao Rádio Clube Campo. “Sou leiga no assunto, mas acho que isso contribuiu muito para assorear o lago do clube. Mas na época, eles não tomaram nenhuma atitude, como eu tomei”, acredita.
“Vejo com tristeza essa degradação do meio ambiente. Eu consegui defender uma nascente, mas fico preocupada com outras questões, como as queimadas. Sempre há focos de incêndio", conta, se recordando do “susto” que a família levou no inverno do ano passado, quando o fogo que começou às margens da via quase chegou à sua residência.
Confira, no vídeo, a mata ciliar da nascente do Córrego Bandeira na chácara de dona Eny.
Medidas urgentes - Doutor em ecologia, Paulo Robson de Souza, professor de prática de ensino da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), deixa claro que não conhece o projeto de urbanização e pavimentação nos bairros da região, mas se preocupa com a alta velocidade com que a água da chuva escorre das áreas mais altas.
“Enquanto especialista, percebo que a engenharia civil desses projetos não considera esse fluxo, que é muito mais rápido e forte quando se trata de asfaltamento, porque isso diminui a capacidade de absorção da água”, explica.
Na região, o Córrego Bandeira foi barrado em dois pontos, onde houve a formação do Lago do Rádio Clube Campo e a do Lago do Amor, localizado no campus da UFMS - ambos ameaçados pelo assoreamento.
O reservatório no Rádio Clube, por exemplo, que já cartão postal da região, está praticamente extinto. A principal causa é a quantidade de obras na região e falta de drenagem urbana adequada, afirmam especialistas.
A microbacia é formada pelos córregos Bandeira, Portinho Pache e Cabaça, contempla os bairros Carlota, Dr. Albuquerque e parte dos bairros Tiradentes, Aero Rancho, Piratininga, Parati, Jockey Club, América, Jardim Paulista, TV Morena, Vilas Boas, Rita Vieira, São Lourenço, Pioneiros e Universitário.
A Planurb (Agência Municipal de Meio Ambiente e Planejamento Urbano), e a Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Gestão Urbana) vem buscando viabilizar, em conjunto com a UFMS, estudo da bacia do Bandeira.
"A finalidade é traçar um diagnóstico da atual situação do córrego, com seus problemas mais estruturantes para que sejam desenvolvidos projetos para recuperação da área. A análise será realizada por meio físico, biótico e meio sócio-econômico", disse Rodrigo Giasante, diretor de meio ambiente da agência.
Confira, na galeria abaixo, outras imagens da área degradada do Córrego Bandeira e da chácara onde sua nascente é defendida com "unhas e dentes" pela família de dona Eny.
Confira a galeria de imagens: