Tio diz que fez teste com mangueira e contesta ações da polícia no caso
Familiar de jovem agredido com mangueira no ânus disse que testou em si mesmo objeto com calça e não ficou ferido; Família diz que agressores tem familiares policiais e os favoreceram no caso
O assessor parlamentar Elsom Ferreira Silva, 51 anos, tio do adolescente, de 17, internado em estado grave na Santa Casa de Campo Grande após agressão sofrida em um lava jato na Vila Morumbi, na sexta-feira (3), diz que testou por conta própria em si mesmo o uso de uma mangueira de compressão de ar.
“É mentira que ele pudesse ter sofrido algum ferimento de calça jeans, como a que estava usando na hora. Eu mesmo fui a um lava jato de um amigo e coloquei a mangueira, de calça, nada aconteceu”, disse o familiar.
Silva diz que decidiu testar em si mesmo o aparelho depois de um menino de 11 anos prestar depoimento na última segunda-feira (6) na DPCA (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente), junto da mãe, alegando que o adolescente estaria vestido, não foi despido à força e que a ‘brincadeira’ seria comum entre ele e Thiago Giovanni Demarco Sena, 20, e Willian Henrique Larrea, 30, acusados de lesão corporal grave.
Aliás, o tio quer também explicações da Polícia Civil sobre a decisão de permitir que os dois, desaparecidos desde o ocorrido, respondam ao crime em liberdade. A acusação de Silva é a de que Sena e Larrea teriam amigos e familiares policiais, que lhes ajudaram tanto no registro do crime (mais leve que a tentativa de homicídio entendida pela família da vítima) como na condução da ocorrência.
“Evidências não faltam. Por que foram liberados após prestarem depoimento na sexta-feira (na delegacia da Vila Piratininga, onde o caso foi registrado inicialmente)? Por que essa história de calças agora, sendo que o próprio Willian contou à mãe que o despiram à força? De onde surgiu esse menino? Tudo foi feito para que desse tempo deles fugirem”, disse o tio.
Em razão das suspeitas, familiares promoverão uma manifestação em frente da DPCA na tarde da próxima sexta-feira, exigindo a mudança de delegacia do caso e a prisão dos acusados.
“Nos vamos brigar até o fim pela Justiça e nossos direitos. Vamos tirar tudo isso a limpo. Eles (polícia) tem muito que nos explicar sobre o que estão fazendo”, disse.
A advogada de defesa da vítima, Katarina Viana, disse que irá pedir ao delegado a prisão preventiva dos suspeitos e que o crime seja tratado como tentativa de homicídio.
Investigação - Em entrevista coletiva dada na segunda-feira (6), o delegado Paulo Sérgio Lauretto, titular da DPCA e responsável pelo caso, alegou que a prisão dos acusados não foi pedida por "não oferecem risco a vítima", além de outros fatores. Ele também reforçou que o crime contra o adolescente não teve conotação sexual, portanto é tratado como lesão corporal grave.
A criança de 11 anos ouvida pela polícia e que disse estar presente alegou que a vítima começou a brincadeira, colocando a mangueira por baixo da porta do banheiro onde Willian estava.
Tanto a mãe da criança, quanto a mãe de um dos acusados, eles mesmo e a mãe e do adolescente ferido confirmaram que brincadeiras 'de mau gosto' entre eles era normal no lava jato, onde a vítima trabalhava há pouco tempo, cerca de um mês.
Histórico - O caso foi denunciado pelo primo da vítima, de 28 anos. No relato à delegacia, ele disse que o adolescente “brincava com os colegas de trabalho”, quando um dos homens o agarrou pelo lombo e o dono do local inseriu uma mangueira no ânus do garoto.
A vitima foi levada por um dos próprios agressores à Unidade de Pronto Atendimento do Bairro Tiradentes, enquanto o outro acusado avisou a família.
O jovem continua internado em estado grave na Santa Casa. Ele teve parte do intestino dilacerado pela mangueira, além de ferimentos nas coxas e passou por cirurgias após sofrer uma série de ataques cardíacos. Há risco de morte.
O Campo Grande News revelou que o lava jato era anunciado à venda cerca de um mês antes do ocorrido. A polícia já realizou pelo menos duas apreensões de drogas no loca, entre 2012 e 2015. Em uma delas, cerca de uma tonelada de maconha foi recolhida. Os crimes não foram ligados ao estabelecimento na época.
Segundo Silva, pessoas próximas dos dois acusados, familiares e amigos, estão chocados e ajudando com informações sobre a localização deles e fornecendo fotos para ajudar na identificação. Sena, por exemplo, estaria na pousada de férias do pai em Rio Verde de MT (a 207 km de Campo Grande).
“O pessoal está chocado”, disse o assessor parlamentar Elsom Ferreira Silva, 51 anos, tio do adolescente. “Estão bastante abalados, por isso estão nos dando bastante suporte, ajudando no que for necessário. É uma surpresa para a gente, surpresa gratificante.”