Após acordo, colheita de soja é retomada em fazenda invadida por indígenas
Acordo foi anunciado pelo deputado federal Vander Loubet; Fazenda Do Inho pertence a dirigente do PT
Após acordo estabelecido na manhã deste sábado (11), foi retomada a colheita de soja na Fazenda Do Inho, no município de Brilhante, invadida há oito dias por indígenas que reivindicam a área como parte do território Laranjeira-Ñanderu.
Firmado entre o proprietário, Raul das Neves Junior, lideranças dos guarani-kaiowá e o procurador da República, Marco Antonio Delfino de Almeida, o acordo foi intermediado pelo deputado federal Vander Loubet (PT). Rauzinho, como é conhecido na cidade, é presidente do diretório do Partido dos Trabalhadores em Rio Brilhante.
A colheita, parada há uma semana, já foi retomada. Colheitadeira, caminhões e tratores foram mobilizados para colher e transportar a soja que permanece nas lavouras e para retirar as bolsas de grãos que estavam no galpão da propriedade.
“Acabamos de acordar para que o proprietário termine a colheita e retire seus equipamentos. Vamos aguardar a decisão judicial, para que tenhamos uma saída sem derramamento de sangue. Tenho certeza que a melhor forma é através do diálogo”, afirmou o deputado em vídeo postado em suas redes sociais (veja acima).
Ao Campo Grande News, Vander Loubet disse que representantes do MPF (Ministério Público Federal) e da PRF (Polícia Rodoviária Federal) vão permanecer na área até a conclusão da colheita e retirada do maquinário e outros pertences.
O inspetor Waldir Brasil Junior, chefe da delegacia da PRF em Dourados, disse que a situação é tranquila na fazenda. Ele esteve na área durante a manhã. Segundo o inspetor, a colheita deve ser concluída até amanhã (12). Equipes da PRF em Rio Brilhante vão permanecer até todo o trabalho ser feito.
Durante a conversa hoje na fazenda, Raul das Neves Junior informou que entrou com pedido de reintegração de posse na Justiça estadual, mas a juíza de Rio Brilhante se declarou incompetente para analisar o caso. A decisão agora caberá à Justiça Federal em Dourados.
Palco de confrontos – Desde 2006 os indígenas reivindicam a demarcação do território Laranjeira-Ñanderu, formado pela Fazenda Do Inho e outras propriedades vizinhas. Por muitos anos eles permaneceram acampados nas áreas de mata nos fundos das propriedades.
Em fevereiro de 2022, os indígenas ampliaram a ocupação e chegaram até a sede, mas foram retirados por policiais do Batalhão de Choque da PM.
No dia 3 deste mês, mais uma vez os guarani-kaiowá avançaram em direção à sede e de novo foram expulsos por policiais militares, mesmo sem mandado de reintegração de posse. Três lideranças foram presas e soltas pela Justiça no dia seguinte.
Com a repercussão do caso até em Brasília e pedido de providências do Ministério dos Povos Indígenas para proteção dos guarani-kaiowá, na quarta-feira (8) o grupo retornou para a sede.
“A situação conflituosa envolvendo indígenas e posseiros de área reivindicada pela comunidade tem motivado ameaças de despejo por parte da Polícia Militar, o que é estritamente ilegal”, afirmou o secretário-executivo da Pasta, Eloy Terena, no ofício encaminhado à Polícia Federal.
Hoje, após Vander Loubet anunciar o acordo para a colheita da soja, Eloy Terena elogiou a ação do deputado petista e defendeu o diálogo. “Diálogo e sensibilidade é fundamental. Seguimos acompanhando e dialogando”.