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Até com voto de quem pediu cassação, grupo aliado salva mandato de Idenor

Onze vereadores votaram contra tucano, mas seriam necessários 13 votos para cassação de ex-presidente acusado de corrupção

Helio de Freitas, de Dourados | 20/05/2019 21:27
Idenor Machado acompanhou sessão que decidiu pelo arquivamento do pedido de cassação (Foto: Eliel Oliveira)
Idenor Machado acompanhou sessão que decidiu pelo arquivamento do pedido de cassação (Foto: Eliel Oliveira)

O vereador Idenor Machado (PSDB) é mais um dos implicados na Operação Cifra Negra a escapar da cassação na Câmara de Dourados, cidade a 233 km de Campo Grande. Em sessão especial encerrada por volta de 21h desta segunda-feira (20), o Legislativo decidiu pelo arquivamento do pedido de cassação por quebra de decoro.

A cassação recebeu 11 votos favoráveis, para Idenor Machado perder o mandato seriam necessários 13 votos – dois terços dos 19 vereadores.

Só 17 vereadores no exercício do mandato puderam votar, já que os suplentes Toninho Cruz e Marinisa Mizoguchi (os dois do PSB) ficaram impedidos de votar por serem partes interessadas.

Seis vereadores votaram contra a cassação, os mesmos que na semana passada impediram a perda de mandato de Cirilo Ramão (MDB) e Pedro Pepa (DEM), também presos e denunciados por corrupção no âmbito da Operação Cifra Negra.

Curiosamente, votaram contra a cassação de Idenor dois dos três vereadores da Comissão Processante, que na quinta-feira (16) entregaram relatório a favor da perda de mandato – o relator Junior Rodrigues (PR) e o presidente Janio Miguel (PR).

Além deles, votaram contra a cassação Alberto Alves dos Santos, o Bebeto (PR), Juarez de Oliveira (MDB), Carlito do Gás (Patriota) e Mauricio Lemes Soares (PSB).

Foram favoráveis à cassação o presidente da Câmara Alan Guedes (DEM), Elias Ishy (PT), Sergio Nogueira (PSDB), Daniela Hall (PSD), Lia Nogueira (PR), Olavo Sul (Patriota), Silas Zanata (PPS), Romualdo Ramim (PDT), Marcelo Mourão (PRB), Madson Valente (DEM) e Cido Medeiros (DEM), que também fez parte da Comissão Processante.

Apesar da decisão pelo arquivamento, Idenor, assim como Pepa e Cirilo, continuam afastados da Câmara por ordem judicial. Dos quatro vereadores presos em 2018 acusados de corrupção, apenas Denize Portolann (PR), implicada na Operação Pregão, perdeu o mandato. Foi cassada por unanimidade, no dia 7 deste mês.

Choro e aplausos – Após a leitura em plenário da denúncia, das alegações finais e do relatório da Comissão Processante, Idenor Machado ocupou a tribuna para falar em defesa própria. Dezenas de amigos e familiares dele foram à Câmara para acompanhar a sessão e o aplaudiram várias vezes.

Secretário estadual de Educação no governo de Ramez Tebet (1986-1987) e por três vezes secretário de Educação em Dourados, Idenor falou da sua história e do trabalho em prol do ensino desde que chegou ao Estado, em 1971. Chorou em plenário quando falou da família e da prisão.

"A prisão acaba com a pessoa. Você fica arrebentado. É um local tão triste que nem os passarinhos cantam”, afirmou Idenor, com a voz embargada. Preso no dia 5 de dezembro, ele saiu duas semanas depois, mas no fim de janeiro voltou para a cadeia, acusado de descumprir medidas cautelares. Saiu novamente em março.

O vereador contou que, no presídio, mandaram que tirasse a roupa para a revista e entrasse apenas com algumas peças de vestimenta. "Lá você vira ninguém. Meus amigos vereadores entregaram para mim as alianças para que eu entregasse para as esposas, como seu eu fosse sair rápido. É cruel".

Idenor Machado desafiou a provarem que ele tenha recebido propina. "Se eu quisesse roubar teria roubado quando era secretário de Estado de Educação, quando tinha orçamento próprio. Fui para Maceió há três anos, fiquei na casa de parentes e parcelei a viagem em dez vezes no cartão".

Defesa – A defesa em plenário foi feita pelo advogado Felipe Cazuo Azuma. Ele falou por uma hora e meia, sustentou a tese de ausência de provas, disse que até o Ministério Público pode errar e chamou a atenção para o fato de que os contratos foram mantidos em 2017, depois que Idenor deixou a presidência da Câmara.

Citou que a ação judicial originada das operações Argonautas e Telhado de Vidro – usadas como base para a Operação Cifra Negra – “nasceu morta”, pois foi rejeitada na 5ª Vara Federal em Campo Grande em 2016 e depois no STJ (Superior Tribunal de Justiça).

"Não tem prova nenhuma de que Idenor tenha praticado ato de corrupção. A denúncia é vaga. Não há neste processo prova de recebimento de valor ilícito. Idenor foi envolvido porque na operação de agosto de 2013 acharam um arquivo de computador que se referia a 2012 constando os nomes ‘pres’., ‘mesa’ e ‘chapeludo’”, afirmou o advogado.

Também questionou a prova compartilhada pelo Ministério Público com a Câmara. “O próprio MP chama de ‘pretensa quebra de decoro’. O que é pretensa? O dicionário Aurélio responde: pretenso é suposto, imaginado. Ninguém pode ser cassado por pretensa quebra de decoro”.

Azuma mostrou em plenário, vídeos com elogios de Alan Guedes, Madson Valente e Elias Ishy a Idenor Machado na última sessão dele como presidente, em 2016. “Um homem honesto se transforma num ladrão de uma hora para outra ou estava todo mundo enganado?”, questionou. Os três votaram pela cassação minutos depois, mas o apoio do “grupo dos seis” garantiu o arquivamento.

Idenor abraça o colega Bebeto, que votou contra a cassação de mandato (Foto: Eliel Oliveira)
Idenor abraça o colega Bebeto, que votou contra a cassação de mandato (Foto: Eliel Oliveira)
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