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Interior

Capitão de aldeia tortura irmão a marteladas, grava vídeo e revolta indígenas

Funai já solicitou presença do Estado por meio das forças de segurança pública, mas teve pedido negado

Gabriela Couto | 10/06/2023 18:18

Um vídeo chocante gravado pelo capitão da Aldeia Jaguapiré, Valdenir Romero, foi divulgado nas redes sociais pelo próprio autor, nesta sexta-feira (10).

O território guarani-kaiowá, onde as imagens foram feitas, fica no município de Tacuru, a 427 km de Campo Grande. A denúncia já chegou ao conhecimento da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas).

Conforme o coordenador regional da fundação, Tonico Benites, o capitão da comunidade divulgou em grupos de lideranças indígenas a sessão de tortura com marteladas nos pés e nas mãos do próprio irmão, o indígena identificado como Edvaldo Romero. A vítima segue desaparecida há mais de 24h, o que preocupa a todos.

“Ele compartilhou o vídeo por volta das 17h e ontem à noite já acionei as polícias Civil, Militar e Federal para irem até a área ver o que aconteceu. Mas até agora ninguém atendeu ao nosso pedido. Queríamos que fizessem a prisão em flagrante, mas alegam que só poderão registrar o caso na segunda-feira”, lamentou Tonico.

O coordenador disse ao Campo Grande News que também conversou com o autor do crime. “O próprio capitão, liderança eleita, confirmou o que fez. Justificou a ação alegando que o irmão teria se envolvida com grupo que rouba as coisas da família e troca por droga ou bebida, além de vender entorpecentes. Também reclamou que a polícia demora muito para atender os chamados da comunidade e decidiu resolver do jeito dele”, conta.

A vítima tem problema de saúde mental e física. Ele era cuidado pela mãe dos dois, mas ela faleceu há dois meses e desde então o rapaz se tornou andarilho, em situação de rua. “Expliquei ao capitão que ele cometeu um crime bárbaro e chocante. Como membro da Funai não vou admitir que ninguém faça isso. Não serei conivente com crimes que violam os direitos humanos, não importa quem seja”, acrescentou o coordenador.

No entanto, a informação é que o autor continua muito agressivo, deixando a comunidade revoltada e aterrorizada. O grupo de mulheres que compõem o conselho da Kuñangue Aty Guasu denunciou o caso na internet. Em comunicado público elas afirmam que o povo guarani e kaiowa está cercado de muitas violações dentro e fora dos territórios.

“São inúmeras mortes que acontecem anualmente, já acompanhamos famílias em luto, onde os depoimentos eram que o corpo da vítima já veio a óbito mas o ódio é tão grande que o agressor/violador/assassino seguiu desferindo golpes e golpes até se cansar. Precisamos falar urgente da saúde mental dos jovens indígenas. Esperamos que a autoridades cumpram com seu papel, assim como a assistência social de lá. As violações em territórios não devem jamais ser respondida na violência”, ressaltou.

A prática de tortura com marteladas, corte de dedos e amarração de corpos em pau de arara era utilizada por capitães não indígenas na década de 70 e 80 dentro da reserva indígena.

A medida era uma implementação da ditadura e que mesmo tendo sido abolida, continuam presentes nas aldeias, como a própria imagem mostra. As marcas da violência são tão latentes que o autor até o momento mostrou não estar arrependido do que fez e se quer apagou o vídeo do grupo de líderes indígenas.

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