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Interior

Em ato, até candidata derrotada cobra nomeação de reitor eleito na UFGD

Liana Calarge, que disputou com Etienne Biasotto, disse que Universidade é única do país a ter reitora fora da lista tríplice

Helio de Freitas, de Dourados | 30/10/2019 13:31
Liane Calarge tentou reeleição, mas ficou fora da lista tríplice e hoje defendeu nomeação de adversário (Foto: Divulgação)
Liane Calarge tentou reeleição, mas ficou fora da lista tríplice e hoje defendeu nomeação de adversário (Foto: Divulgação)

Decorado com balões alaranjados, em alusão às candidaturas “laranjas” do PSL em vários estados brasileiros, o ato realizado nesta quarta-feira (30) na Cidade Universitária de Dourados, a 233 km de Campo Grande, cobrou do Ministério da Educação a nomeação do reitor eleito na UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados).

Vencedor da eleição interna e primeiro nome na lista tríplice encaminhada em março deste ano a Brasília, o professor Etienne Biasotto até agora não foi nomeado pelo Ministério da Educação.

Em junho, o ministro Abraham Weintraub nomeou Mirlene Damázio como reitora temporária. A medida é vista pela comunidade acadêmica como intervenção na autonomia da universidade, que tem 36 cursos de graduação, 29 de mestrado e 11 de doutorado e em torno de dez mil alunos.

Organizado pelo Fórum Unificado das Entidades Representativas da comunidade acadêmica, o ato realizado no Centro de Convivência da unidade 2 reuniu os ex-reitores Damião Duque de Farias e Liane Maria Calarge, adversários políticos na instituição.

Liane Calarge comandou a universidade por quatro anos. Na eleição interna feita em março, tentou a reeleição, mas perdeu a disputa para Etienne Biasotto. Seguindo acordo entre os candidatos, só o nome do primeiro colocado na eleição interna foi incluído na lista tríplice enviada ao MEC. Os outros dois professores incluídos na lista - Jones Dari Goettert e Antonio Dari Ramos – não disputaram a eleição interna. O estatuto da UFGD permite qualquer a professor se inscrever para compor a lista.

Mesmo tendo sido adversária de Biasotto, Liane cobrou a nomeação do candidato vencedor e da vice-reitora eleita Cláudia Lima. “A comunidade acadêmica escolheu o professor Etienne e a professora Cláudia. Eles têm que ser o reitor e a vice-reitora. Eu estou aqui para defender essa democracia, essa autonomia”, afirmou Liane.

Única do país – No discurso, Liane Calarge citou que a UFGD é a única universidade federal do país a ter reitora nomeada fora da lista tríplice elaborada após eleições internas. Nas outras instituições, segundo ele, o nomeado foi o primeiro, o segundo ou o terceiro colocado, mas em nenhum caso houve nomeação de reitor fora da lista, como ocorreu em Dourados.

Damião Duque de Farias, que comandou a UFGD de 2006 a 2014 – primeiro como nomeado e depois eleito para dois mandatos – também citou a nomeação dos vencedores com única saída para restaurar a democracia na universidade.

“O que a gente está vivendo é a própria burrice transformada em ideologia. Não podemos dar trégua nessa luta contra as práticas interventoras em nossa universidade. A luta vai ser vitoriosa ao final, mas a vitória vai começar quando o professor Etienne assumir a reitoria”, afirmou Damião, que é filiado ao Partido dos Trabalhadores, assim como o reitor eleito.

Vencedor da eleição interna e primeiro nome da lista, Etienne Biasotto fala em ato nesta quarta (Foto: Divulgação)
Vencedor da eleição interna e primeiro nome da lista, Etienne Biasotto fala em ato nesta quarta (Foto: Divulgação)

Resistência – Etienne Biasotto também falou no ato desta quarta. “Normalmente governos autoritários restringem a autonomia porque veem nas universidades um inimigo. Em contrapartida, governos democráticos e progressistas enxergam nas universidades os motores para o desenvolvimento e para a inclusão social”, disse ele.

Segundo o professor, a UFGD nasceu para ser autônoma, para contribuir com o desenvolvimento da região e do país. “Essa ruptura que estamos assistindo é passageira. Mas para superá-la o quanto antes, é preciso continuar de mãos dadas, é preciso resistir”.

Etienne citou a inauguração marcada para amanhã pela atual direção da UFGD do sistema de energia solar, construído pela gestão de Liane Calarge.

“Os golpistas apostam no nosso desânimo. Buscam em Brasília orientações para nos desmobilizar, propõem novas eleições, farão inauguração de um sistema de energia solar conquistado na gestão anterior. O que realmente queremos é a reinauguração da democracia em nossa universidade”, afirmou.

Justiça – No início deste mês, a Justiça Federal mandou a UFGD comunicar ao Ministério da Educação que a eleição interna para reitor teve sua validade restaurada. Ao analisar embargos de declaração apresentados pelo MPF (Ministério Público Federal), o juiz Moisés Anderson Costa Rodrigues da Silva, da 1ª Vara Federal em Dourados, reforçou a decisão tomada em agosto.

Naquele mês, o magistrado indeferiu ação civil pública impetrada pelo MPF contra a eleição interna que teve Etienne Biasotto como vencedor e reconheceu a legitimidade do processo de escolha adotado pela UFGD.

O MPF havia questionado o fato de os outros dois integrantes da lista não terem participado da eleição interna. A ação judicial foi apontada pelo MEC como motivo para a nomeação de Mirlene Damázio, em junho. Entretanto, mesmo a Justiça tendo reconhecido a legalidade da eleição, ela é mantida no cargo.

Ato em defesa da nomeação de reitor eleito, hoje de manhã na UFGD (Foto: Divulgação)
Ato em defesa da nomeação de reitor eleito, hoje de manhã na UFGD (Foto: Divulgação)
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