Escalada do crime faz Paraguai parecer Colômbia de Pablo Escobar
Principal jornal colombiano compara guerra do tráfico na fronteira com MS aos anos de terror vividos por Medellín, na década de 80
Com execuções quase diárias no meio da rua, carros alvejados com arma de guerra, pessoas decapitadas, esquartejadas e queimadas, o Paraguai de 2017 faz lembrar os episódios sangrentos vividos pelos colombianos na década de 80, quando o lendário narcotraficante Pablo Escobar aterrorizava Medellín, a segunda maior cidade da Colômbia.
A comparação, que divide a opinião dos paraguaios, foi feita pelo jornal El Espectador, um dos principais da Colômbia, que aproveitou o atentado com quatro mortos e 11 feridos em uma boate de Pedro Juan Caballero, na madrugada de segunda-feira, para relembrar dos tempos de Pablo Escobar.
"O narcotráfico tem ocupado posições políticas, a violência continua e o estado parece não ter capacidade de responder à ameaça", diz trecho da reportagem “Paraguai se tornou a Medellín de Pablo Escobar”, publicada na edição de ontem.
Narcopolítica – Assim como acontecia na Colômbia quando Pablo Escobar controlava a remessa de cocaína para os Estados Unidos e comprava poder e controlava a polícia e a Justiça, nas eleições de 2013 um grande número de chefes da máfia foi eleito para mandatos legislativos no Paraguai.
“A vinculação deles com o narcotráfico é de conhecimento da população. A ausência do Estado, a falta de políticas de saúde, de educação de bem-estar em geral, levam o cidadão a votar em quem lhe assegura trabalho e comida”, afirma o jornal colombiano.
Neneco – Para o El Espectador, o fenômeno da narcopolítica instalada na Colômbia nos anos 80 se repete no Paraguai, três décadas depois. O jornal cita o assassinato do jornalista Pablo Medina, em 2014, perto da fronteira com Mato Grosso do Sul.
Na época, o mandante do crime, Vilmar Acosta, o Neneco, era prefeito de Ypehú, cidade vizinha de Paranhos (MS). Neneco teria ordenado o assassinato porque Medida, repórter do jornal ABC Color, investigava a ligação do político com o narcotráfico.
Preso em Mato Grosso do Sul em março de 2016, Neneco foi deportado para o Paraguai no final do ano passado, por determinação do STF (Supremo Tribunal Federal).
Sem controle – Entrevistado pelo jornal colombiano, o ex-ministro do Interior do governo de Horácio Cartes, Francisco de Vargas, afirma que a falta de controle nas fronteiras é o grande motivo do aumento das atividades criminosas, principalmente narcotráfico.
“Os registos criminais nos departamentos de fronteira não mudaram em dez anos. Amambay, Canindeyú e Alto Paraná são as áreas onde existem todos os tipos de crimes: tráfico, contrabando, falsificação e roubo de gado. Há postos de controle, mas não funcionam. As pessoas se movem de um lado para outro da fronteira, como se estivesse andando pelo quintal”, afirmou.
Para Francisco de Vargas, o PCC (Primeiro Comando da Capital) é a maior ameaça ao Paraguai, já que o país tem 50 mil presos, o dobro do número de policiais. “Toda polícia paraguaia tem 25.000 efetivos, as Forças Armadas têm 11.000 soldados. O PCC se organiza nas cadeias, ou seja, a polícia, ao cumprir a lei, está fornecendo soldados para a facção criminosa”.