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Interior

Ex-secretário de Saúde cita ‘pessoas acima dele’ em esquema de corrupção

Ameaça de Renato Vidigal a testemunhas foi citada em parecer da Procuradoria da República ao STF contra habeas corpus

Helio de Freitas, de Dourados | 04/03/2020 15:20
Renato Vidigal está preso desde novembro e deve ser levado em breve para presídio federal (Foto: Arquivo)
Renato Vidigal está preso desde novembro e deve ser levado em breve para presídio federal (Foto: Arquivo)

Preso há quase quatro meses acusado de comandar esquema para desviar meio milhão de reais em dinheiro da saúde pública através de empresa de fachada registrada em nome de um “testa de ferro”, o ex-secretário de Saúde de Dourados Renato Vidigal vai ser transferido nos próximos dias, possivelmente para o Presídio Federal de Campo Grande.

Desde o dia 6 de novembro do ano passado, o médico está recolhido no raio I da PED (Penitenciária Estadual de Dourados), mas a Justiça Federal já determinou a transferência dele para uma cadeia federal.

Os principais motivos citados pelo Ministério Público para embasar o pedido foram ameaças feitas por Vidigal a testemunhas e ao ex-testa de ferro Ronaldo Gonzales Menezes, que denunciou o esquema após acordo de delação premiada.

“Gente grande” – No parecer enviado ao STF (Supremo Tribunal Federal) para sustentar a necessidade de manter Renato Vidigal atrás das grades, a subprocuradora-geral da República Cláudia Sampaio Marques cita as supostas ameaças feitas pelo médico a Ronaldo Menezes e ao empresário Marcos Paulo Gabiatti de Souza, outra testemunha arrolada pela acusação.

Trecho do parecer cita o depoimento da testemunha Jefferson Bezerra da Costa, segundo o qual, Renato Vidigal teria afirmado: “isso não vai ficar assim para os x-9” e que “teria muitas pessoas acima dele envolvidas”. Na gíria do submundo do crime, x9 significa delator, “dedo duro”.

Renato Vidigal comandou a Secretaria de Saúde da segunda maior cidade de Mato Grosso do Sul de janeiro de 2017, quando a atual prefeita Délia Razuk (PTB) tomou posse, a janeiro de 2019. Após ser exonerado da Saúde, ele foi nomeado como diretor do Samu (Serviço Móvel de Urgência), onde ficou por nove meses, até ser preso.

O parecer da Procuradoria-Geral da República anexado ao pedido de habeas corpus no STF (Supremo Tribunal Federal) também cita o fato de Renato Vidigal ter sido flagrado com telefone celular na cela, em dezembro. O telefone, segundo o Ministério Público, era usado para contato com o ambiente externo ao presídio e para ameaçar testemunhas.

Ao acatar o pedido de transferência de Renato Vidigal para o presídio federal, a Justiça cita que o médico vinha recebendo auxílio de terceiros na PED, já que teve acesso ao celular. Até agora, a defesa do médico perdeu todos os pedidos de liberdade impetrados no TRF (Tribunal Regional Federal) da 3ª Região e no STJ (Superior Tribunal de Justiça). No dia 20 do mês passado, o ministro Marco Aurélio, do STF, também negou liminar, mas o habeas corpus ainda será analisado em plenário.

Além de Renato Vidigal, a ação penal no âmbito da Operação Purificação – desencadeada pela Polícia Federal em fevereiro e novembro do ano passado – tem como réu o sócio do médico e ex-diretor financeiro da Secretaria de Saúde, Raphael Henrique Torraca Augusto. Ele também está preso.

Os outros três réus são Ronaldo Gonzales Menezes, “testa-de ferro” na empresa Marmiquente – que fornecia refeições para a Secretaria de Saúde – e as ex-funcionárias da pasta, Dayane Jaqueline Foscarini Winck e Sandra Regina Soares Mazarim, mulher de Raphael. Os três estão em liberdade.

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