Fábrica de presidente do Paraguai vende 80% do cigarro que entra no País
Mesmo sem exportar legalmente para o Brasil, a empresa Tabesa (Tabacalera del Este S/A) fornece de 70 a 80% das principais marcas de cigarro vendido ilegalmente no Brasil. De propriedade do atual presidente do Paraguai, Horacio Cartes, a empresa domina a produção do cigarro contrabandeado para as grandes cidades brasileiras.
O levantamento, feito pelo Idesf (Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteira), mostra que mesmo sem exportar para o Brasil, o grupo dominado por Cartes movimenta 3 milhões de dólares por ano vendendo o cigarro que o crime organizado se encarrega de trazer além da fronteira e distribuir aos fumantes brasileiros.
De cada dez maços encontrados em barracas de camelôs, bares e vendedores ambulantes nas ruas de cidades como São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre, oito foram fabricados pela Tabesa, que tem entre suas marcas a Eigth e a Gift, bastante conhecidas de quem fuma, mas não quer pagar o alto preço do cigarro nacional – o dobro do valor de um paraguaio.
Domínio – Luciano Stremel Barros, presidente do Idesf, afirma que as grandes cidades brasileiras estão infestadas pelo cigarro fabricado pela Tabesa. "Eigth e Te são as principais. Acreditamos que de 70 a 80% de todos os cigarros (ilegalmente comercializados) são marcas comerciais da Tabesa”, afirmou.
Segundo ele, com a alta carga tributária brasileira sobre o cigarro – produto mais tributado no Brasil – seria impossível a empresa paraguaia disputar mercado de forma legal. “Os impostos são muito altos, chegando a 150%, o que inviabiliza a exportação legal e incentiva o contrabando; não existe cigarro exportado legalmente para o Brasil, tudo é contrabando", disse Barros ao jornal ABC Color.
Apesar das apreensões recordes de cigarro feitas pela polícia brasileira, a estimativa dos especialistas revela que as 500 mil caixas apreendidas por ano no país não representam 5% do produto contrabandeado vendido no Brasil.
Nem em 300 anos – Quando cobrado sobre o cigarro trazido ilegalmente para o Brasil, Horacio Cartes diz que sua empresa trabalha legalmente e que o contrabando é um problema aduaneiro. Para Luciano Barros, no entanto, Cartes e os diretores da Tabesa não podem alegar ignorância, pois sabem que “nem em 300 anos” a população paraguaia poderia consumir todo o cigarro produzido pela empresa.
Barros disse que o contrabando de cigarro preocupa tanto que já está mudando inclusive a relação de policiais corruptos com os contrabandistas. “No Brasil muitos policiais se recusam a receber dinheiro do tráfico de drogas, mas aceitam do contrabando de cigarro, por considerarem um crime menor”.