Fazenda de Bumlai é desocupada; rico manda na Justiça, diz sem-terra
Após ordem judicial que determina desocupação da fazenda São Marcos até meio-dia hoje, trabalhadores rurais decidiram voltar para beira de rodovia; líder do MSTB diz que não existe Justiça no país
Pelo menos 250 famílias do MSTB (Movimento dos Sem-Terra do Brasil) começaram na manhã desta terça-feira (14) a desocupar a fazenda São Marcos, localizada na margem da BR-463, em Dourados, a 233 km de Campo Grande. A área pertence aos filhos do pecuarista José Carlos Bumlai, condenado na Operação Lava Jato e amigo do ex-presidente Lula.
A fazenda é usada para plantio de cana, usada para produção de álcool e açúcar na Usina São Fernando, que também pertence à família Bumlai. Com dívida de R$ 1,5 bilhão, a indústria enfrenta vários pedidos de falência e tenta recuperação judicial.
De acordo com o líder do MSTB em Mato Grosso do Sul, Douglas Elias, os trabalhadores rurais decidiram sair pacificamente após a ordem judicial de reintegração de posse determinar prazo até meio-dia de hoje para a desocupação, caso contrário as famílias seriam despejadas com o uso de força policial.
“A ordem do juiz era destruir tudo, meter a máquina dos barracos. Por isso decidimos sair pacificamente. Não vamos jamais enfrentar a polícia”, afirmou.
Douglas protestou contra a decisão da Justiça e afirmou que os ricos mandam cada vez mais no país. “Não estamos ocupando terra de homem trabalhador, de quem produz. Estamos ocupando terra de quem assaltou o país e devem fortunas para a União. Não tem terra de trabalhador, de pessoas idôneas sendo ocupadas. Não vejo o senhor Fernando Bumlai e o senhor José Carlos Bumlai como pessoas idôneas”, afirmou ele ao Campo Grande News.
O líder do MSTB disse que a minoria rica da população manda cada vez mais no país. “A sensação é que os 85% de pobres e os 10% de miseráveis estão perdendo para 5% da elite rica deste país. Esses 5% mandam nos três poderes deste país porque têm dinheiro. Mandam no Judiciário, mandam no Legislativo e mandam no Executivo. Essa é a sensação que os movimentos sociais têm hoje”.
Douglas disse que no país não se vê negada uma reintegração de posse de milionários como José Carlos Bumlai. “É porque eles têm os três poderes na mão”.
Reação – O líder sem-terra afirmou que os trabalhadores rurais prometem responder à ordem de despejo com outros atos de protesto. “Toda ação tem uma reação e cada reação vai vir mais forte que a outra. Eu não sei se existe justiça nesse país, mas enquanto a gente acreditar, pelo menos sonhar que existe justiça, a ação vai continuar”.
Os sem-terra querem a desapropriação da fazenda São Marcos com base em uma portaria do extinto MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário), que destina para a reforma agrária as terras de grandes devedores da União.
Há duas semanas há uma semana eles protestaram em frente à Usina São Fernando, onde ficaram acampados durante todo o dia.
