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Interior

Morte de indígena há 1 mês também motivou retomada de área em Amambai

Jovem, de 18 anos, foi assassinado com 5 tiros no mês passado, em fazenda de Coronel Sapucaia

Mirian Machado | 24/06/2022 16:09
Comunidade da reserva indígena Taquaperi decidiu retomar a fazenda onde o jovem teria sido morto. (CIMI-MS)
Comunidade da reserva indígena Taquaperi decidiu retomar a fazenda onde o jovem teria sido morto. (CIMI-MS)

O assassinato do indígena Alex Recarte Vasques Lopes, de 18 anos, também motivou, como forma de protesto, a retomada de parte do território chamado de Guapoy, no município de Amambai, a 360 km de Campo Grande. O crime ocorreu no dia 21 de maio deste ano, em uma fazenda em Coronel Sapucaia.

A área onde o rapaz foi assassinado também virou acampamento indígena após a morte. Desde então, o clima na região era de tensão. Os  guarani e kaiowá cobraram apuração federal do assassinato e temiam serem alvos da violência de policiais e fazendeiros.

Segundo Matias Benno Rempel, coordenador do Cimi-MS (Conselho Indigenista Missionário), Alex é o 4° da mesma família assassinado na região. O jovem morreu dentro da reserva de Taquaperi, em parte que, segundo o Cimi, foi grilada por fazendeiros anos atrás. "O mesmo aconteceu em Guapoy em Amambai onde também houve subtração de limites", afirma Matias.

Assassinato- Alex teria deixado a reserva Taquaperi, onde morava, junto com dois outros jovens guarani kaiowá para buscar lenha no entorno da terra indígena, quando foi assassinado. O corpo foi levado para o lado paraguaio da fronteira, que fica a menos de dez quilômetros dos limites da reserva indígena. Foram identificados ao menos 5 ferimentos por arma de fogo. Segundo lideranças, Alex foi assassinado na fazenda que foi retomada, vizinha à Terra Indígena (TI) Taquaperi, como retaliação.

Por conta da morte do indígena, o povo guarani e kaiowá entrou em uma fazenda, onde ocorreu o assassinato em Coronel Sapucaia, na fronteira com o Paraguai, na madrugada do dia seguinte, em 22 de maio.

À tarde, o acesso à retomada, denominada pelos indígenas de Tekoha Jopara, foi impedido por um bloqueio realizado por viaturas do DOF (Departamento de Operações de Fronteira). A barreira foi posicionada na rodovia MS-286, que atravessa a TI Taquaperi e também dá acesso a outras comunidades indígenas da região – que ficaram, na prática, isoladas.

Adolescente guarani kaiowa caida no chão, após ser baleada em Amambai (Foto: CIMI)
Adolescente guarani kaiowa caida no chão, após ser baleada em Amambai (Foto: CIMI)

Conflito- Os indígenas unificaram as duas questões - a morte de Alex e diminuição de reservas - como justificativa para retomada do que reivindicam como território ancestral, também em Navirai e Amambai, ontem (23). “Eles foram expulsos por força. Não houve reintegração de posse. A Polícia chegou por volta das 10h e os indígenas sofreram ataques da PM”, informou.

O Cimi reclama da ilegalidade da ação. “Primeiro que quem deveria ter ido é a Polícia Federal e a Funai, por prerrogativa da questão ser indígena e segundo que não existe reintegração de posse. Deixaram 6 feridos, dois deles gravemente”, afirmou.

Coordenador do CIMI regional afirma ainda que os povos disseram que não sairão do local. “Como houve conflito com a PM, perdeu qualquer capacidade de interlocução com os policiais. Eles pedem investigação da PF no local”, disse.

Feridos- O confronto entre indígenas e policias militares deixou 9 pessoas feridas em Amambai e 3 indígenas desaparecidos em Naviraí. Os casos mais graves de feridos são de 6 jovens guarani kaiowá, 5 deles, menores de idade.

Vídeo feito no local mostra uma adolescente de 14 anos sangrando, com ferimento no abdome. A situação dela é considerada o mais perigosa. A garota está no Hospital Regional de Amambai, precisa passar por cirurgia, mas depende de vaga para transferência em Ponta Porã.

Outra adolescente, de 17 anos, teve fratura no fêmur, provocada por arma de fogo. Da mesma idade, o Hospital de Amambai atende outros 3 adolescentes indígenas feridos a bala.

A única indígena maior de idade, vítima do confronto, tem 22 anos e foi atingida por tiro de raspão na testa.

Com ferimentos leves, também são atendidos no local 3 policiais do Batalhão de Choque de Campo Grande. Os nomes não foram informados, mas eles têm 41, 38 e 26 anos, todos atingidos de raspão.

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