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Interior

MPF denuncia irmãos Martins e mais 12 por tráfico e lavagem de dinheiro

Dono de empresas em Dourados, Marcel Martins Silva está preso desde maio e Valter Ulisses segue foragido

Por Helio de Freitas, de Dourados | 19/08/2024 16:42
Viatura da PF em frente à loja Primeira Linha Acabamentos, em maio; donos estão presos (Foto: Leandro Holsbach)
Viatura da PF em frente à loja Primeira Linha Acabamentos, em maio; donos estão presos (Foto: Leandro Holsbach)

O MPF (Ministério Público Federal) ofereceu denúncia contra 14 investigados por organização criminosa, tráfico internacional de drogas e lavagem de dinheiro em esquema que movimentou pelo menos R$ 100 milhões em quatro anos.

Alvo da Operação Prime, o grupo baseado em Dourados e Pedro Juan Caballero no Paraguai é liderado pelos irmãos Marcel Martins Silva, dono de empresas em Dourados, e Valter Ulisses Martins Silva. Marcel está preso e Valter segue foragido.

Além deles, foram denunciados Carlos José Alencar Rodrigues (sócio de Marcel na loja Primeira Linha Acabamentos), a esposa de Marcel Evelyn Zobiole Marinelli Martins e o também empresário de Dourados Claudinei Tolentino Marques.

Os outros denunciados são Paulo Ancelmo da Silva Júnior, Mario David Distefano Fleitas, Hector Rodrigo Salinas Esquivel, Eder Mathias Bocskor, Wagner Germany, Paulo Antonio da Silva Viana, Vagner Antonio Rodrigues de Moraes, Elisangela de Souza Silva dos Santos e Paulo Henrique de Faria.

Policiais federais na casa de Marcel Martins, no dia da operação em Dourados (Foto: Divulgação)
Policiais federais na casa de Marcel Martins, no dia da operação em Dourados (Foto: Divulgação)

Luiz Antonio Tolentino Marques, irmão de Claudinei e também preso na mesma operação, não consta entre os denunciados. Outro investigado no âmbito da Prime não incluído nessa denúncia é Antonio Joaquim Mendes Gonçalves da Mota, o “Motinha" ou “Dom”, também foragido. Mãe e pai dos irmãos Martins, também investigados, não estão entre os primeiros denunciados.

De acordo com o MPF, as investigações tiveram início no final de 2020 e se estenderam até maio deste ano. Marcel e Valter, apontados como líderes do grupo, possuíam, segundo a denúncia, grande influência na região e requintada loja de acabamentos de construção civil, empregada como pilar do branqueamento de capitais.

Conforme a denúncia, o grupo criminoso mantinha contato com organizações independentes, inclusive com o PCC (Primeiro Comando da Capital). “O caráter transnacional do bando também se revelou por transações financeiras efetuadas por meio de doleiros paraguaios e do tráfico de drogas provenientes de países como Peru, Bolívia e Paraguai. Além disso, parte dos recursos ilícitos obtidos se destinava ao Paraguai, sendo entregues em casas de câmbio em Pedro Juan Caballero”, afirma o MPF.

O Ministério Público Federal cita que os irmãos Marcel e Valter se utilizavam das casas de câmbio para injetar recursos ilícitos nas empresas por eles controladas, pagar fornecedores de drogas e adquirir bens. Marcel cumpriu pena por tráfico de drogas em decorrência da Operação Enigma, em 2017, no Paraná.

Pelo menos nove empresas eram utilizadas no esquema, dentre elas quatro construtoras e uma transportadora. As investigações apontaram que a organização operava com dois núcleos: lavagem de capitais e logística.

Entre dezembro de 2023 e fevereiro de 2024, a polícia apreendeu meia tonelada de cocaína em três cargas pertencentes ao bando.

Contadora – Elisangela de Souza Silva dos Santos é proprietária de escritório de contabilidade em Dourados, segundo o MPF, responsável por ocultar a origem ilegal dos recursos, orientando seus clientes e fraudando os dados contábeis e fiscais das empresas dos irmãos.

"As investigações apontaram que os dois levavam uma vida de alto padrão, possuindo diversos imóveis urbanos e rurais, veículos de luxo, empresas e criação de gados”, diz trecho da denúncia.

Segundo o MPF, a operação deflagrada pela Polícia Federal em 15 de maio apreendeu celulares, computadores e documentos com planilhas que, junto aos áudios obtidos pelas interceptações telefônicas durante a fase de investigação, mostraram o poder financeiro do bando, contatos no Brasil e em países vizinhos, sobretudo no Paraguai, e “intrincado esquema de lavagem de dinheiro”.

Sordidum - Deflagradas simultaneamente, as operações Prime e Sordidum desmantelaram três organizações criminosas que operavam, especialmente, em Mato Grosso do Sul.

Ao todo, foram cumpridos 64 mandados de busca e apreensão, 25 mandados de prisão preventiva e 11 mandados de prisão temporária em vários estados, além do sequestro de 90 imóveis e o bloqueio de bens e valores de aproximadamente 80 pessoas e empresas envolvidas no esquema.

De acordo com as investigações, os grupos agiam em sociedade para remeter drogas a países da América Central. Em três anos, os criminosos transportaram pelo menos seis toneladas de cocaína.

Outro lado – Em nota divulgada nesta terça-feira (20), o advogado Luiz Gustavo Battaglin Maciel, atuando na defesa de Claudinei Tolentino Marques, informou que a denúncia oferecida contra seu cliente não o acusa de tráfico de drogas, mas de suposta lavagem de dinheiro “decorrente apenas e tão-somente da negociação de veículos”.

Segundo ele, a denúncia contra Claudinei por lavagem de dinheiro ocorre em questões pontuais, não sendo apontado vínculo com outros fatos relatados na investigação.

“A defesa lamenta, ainda, a divulgação genérica da notícia pela imprensa, sem se atentar para as peculiaridades de cada pessoa denunciada, o que gera verdadeiro linchamento virtual, sem oportunidade de defesa”, afirma o advogado.

Conforme o defensor, sobre a compra e venda de três veículos, esclarece que foram negociações normais, travadas no âmbito estritamente comercial, todos documentadas, inclusive com pagamentos realizados nos meios bancários.

“A denúncia oferecida é fruto de açodada investigação, levada a efeito após a desnecessária prisão de Claudinei, que foi ‘preso para investigação’, e carece de um adequado aprofundamento das provas”, afirmou.

Segundo Bataglin, agora, com o oferecimento da denúncia, começa a fase de instrução do processo, “sendo prematura, precária e superficial qualquer afirmação categórica de cometimento de ilícitos, permitindo ao réu o exercício do direito de defesa”.

Por fim, a defesa diz confiar na Justiça brasileira, “o qual, baseado nos direitos assegurados na Constituição Federal, no princípio da presunção de inocência e do devido processo legal, permite a ampla defesa e no qual, ao final, provará que Claudinei Tolentino Marques não cometeu qualquer ilícito, sendo inocente de tais acusações”.

*Matéria alterada e 20/08/2024 para acréscimo da posição da defesa de Claudinei Tolentino.

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