Preso na fronteira, traficante foragido há 26 anos é sócio de Major Carvalho
Douglas Kennedy Lisboa Jorge foi preso hoje em Ponta Porã após um ano de investigação
Preso nesta sexta-feira (26) na fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai após 26 anos foragido, Douglas Kennedy Lisboa Jorge, 51, o “Biggie”, tem estreitas ligações com dois grandes barões da droga da América do Sul.
Além dos negócios que mantinha com Luiz Carlos da Rocha, o “Cabeça Branca”, na década de 90 – quando tinha menos de 25 anos de idade – “Biggie” é sócio de Sérgio Roberto de Carvalho, o “Major Carvalho”, ex-integrante da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul e considerado o “Escobar brasileiro”.
O Campo Grande News apurou que entre os dois mandados de prisão contra Douglas Lisboa cumpridos hoje, um é referente à condenação por tráfico internacional de cocaína e foi expedido em 9 de setembro de 2020.
Major Carvalho é um dos condenados nesse caso, mas não há detalhes da condenação, pois o processo, em tramitação na 7ª Vara Federal Criminal de São Paulo (SP), está em segredo de Justiça.
Acusado de enviar pelo menos 45 toneladas de cocaína da América do Sul para a Europa entre 2017 e 2019, Sérgio Roberto de Carvalho foi capturado no dia 21 de junho de 2022 em Budapeste, na Hungria. Extraditado para a Bélgica um ano depois, atualmente está recolhido no presídio de Haren, em Bruxelas.
“Biggie” também tinha negócios com o libanês Joseph Nour Eddine Nasrallah, o “Sheik”, apontado como chefe de quadrilha internacional de tráfico de drogas para os Estados Unidos, Europa e África.
Preso em Campinas (SP) em outubro de 2017, “Sheik” ficou conhecido dez anos antes da prisão por construir mansão avaliada em R$ 40 milhões, em Valinhos (SP). Ele foi capturado antes de terminar a obra, projetada com torres de mármore e detalhes em ouro.
Bunker – Douglas “Biggie” Lisboa morava há anos na linha internacional entre Mato Grosso do Sul e o Paraguai. Usando documentos falsos, circulava livremente entre Pedro Juan Caballero e Ponta Porã, onde morava com esposa e filhos em casa de alto padrão, com um “quarto de segurança” com porta de aço maciço revestida de madeira e vidros blindados.
Quando a PF chegou ao imóvel, no início da manhã, Douglas correu para o bunker e trancou a porta. Os policiais tentaram arrombar a porta com a ferramenta conhecida como “aríete”, com grande força de impacto, mas a porta não cedeu. As pancadas causaram apenas arranhões no revestimento de madeira.
Só seria possível arrombar com uso de explosivos, mas Douglas decidiu se entregar. Abriu a fechadura, saiu do quarto e foi algemado. Antes de se entregar, “Biggie” destruiu vários celulares e até um tablet, possivelmente para tentar eliminar conversas com outros integrantes da organização criminosa.
Rota caipira – Segundo a PF, “Biggie” ficou conhecido como um dos grandes traficantes da década de 90, especialista em remessas de drogas da Bolívia e da Colômbia para o Paraguai e do Paraguai para o interior paulista.
Associado a “Cabeça Branca” e “Sheik”, usava trechos de estradas do interior do Brasil para levar a droga produzida nos Andes aos grandes centros consumidores e depois para a Europa. O caminho foi retratado no livro “Cocaína – A Rota Caipira”, do jornalista Alan de Abreu, publicado em 2017.
Na década de 90, Douglas foi preso por tráfico de drogas e levado para a Cadeia Pública de Vila Branca, em Ribeirão Preto (SP). Em novembro de 1998, fugiu com outros cinco presos por túnel de um metro meio cavado sob o muro. Foragido, foi alvo de duas grandes Operações da Polícia Federal - Andorra em 2001 e Estone, em 2003.
Caçada – Mesmo na mira da polícia por quase três décadas, Douglas Lisboa continuava em plena atividade, atuando no tráfico na região do Chaco paraguaio, na capital Asunción e na linha internacional entre Ponta Porã e Pedro Juan Caballero, onde policiais paraguaios estiveram em três endereços ligados a ele, nesta sexta-feira (26).
Hoje, no entanto, a caçada chegou ao fim após um ano de trabalho conjunto envolvendo o CCPI (Centro de Cooperação Policial Internacional), a Polícia Nacional do Paraguai, a Delegacia da Polícia Federal em Ponta Porã e o Ciof (Centro Integrado de Operações de Fronteira).
Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.