Vereador confessa e entrega "farra" de presidente com dinheiro público
Adriano José Silvério, vereador mais votado nas eleições de 2012 e um dos dez presos na Operação Atenas acusados de fazer parte de um esquema de corrupção em Naviraí, a 366 km de Campo Grande, afirmou que o presidente da Câmara daquela cidade, Cícero dos Santos, o Cicinho do PT, recebia retornos de empresas que prestam serviço para o Legislativo.
Segundo ele, Cicinho fazia questão de falar “em voz alta” para todos na Câmara que ficava com parte do dinheiro pago a três empresas, contratadas depois que ele assumiu a presidência.
O Campo Grande News teve acesso exclusivo à cópia do depoimento que Adriano José Silvério prestou à Polícia Federal e ao Ministério Público, no dia 14 de outubro, seis dias após ser preso na Operação Atenas. Ele já estava recolhido no presídio de Naviraí quando pediu para prestar novo depoimento e abriu mão inclusive da presença de seu advogado.
O vereador é mais um dos acusados de fazer parte do esquema de corrupção montado por Cicinho do PT a denunciar o “ex-chefe”.
Ex-assessor da Câmara, Rogério dos Santos Silva, o “Dill”, homem de confiança de Cícero dos Santos, revelou em depoimento à Polícia Federal que até as cirurgias para implante de silicone na mulher do presidente da Câmara, Mainara Géssika Malinski, teriam sido pagas com dinheiro público. Dill também confessou que recolhia dinheiro de empresários para entregar a Cicinho.
Assim como Cícero dos Santos e outros quatro acusados de pertencer ao esquema, Adriano José Silvério está recolhido no presídio estadual de Naviraí desde o dia 8 de outubro deste ano. Ele é um dos 13 réus na ação penal que tramita no Fórum local. Acusado de corrupção passiva e organização criminosa, Adriano pode ser condenado de 5 a 20 anos de prisão.
Eleição comprada – No depoimento ao delegado da PF Nilson Zocarato Zanzarin Ribeiro Negrão, acompanhado pelo promotor Paulo da Graça Riquelme de Macedo Júnior, Adriano José Silvério revelou que Cícero dos Santos conseguiu se eleger para presidente da Câmara em troca de dinheiro, favores e da distribuição de cargos no Legislativo.
Ele também afirmou que o prefeito Léo Matos (PV) apoiou a eleição de Cícero dos Santos e chegou a lhe prometer um emprego para seu irmão para Adriano votar em Cicinho do PT. Segundo ele, após a eleição o acordo não teria sido cumprido. Adolfo José Silvério, irmão de Adriano, chegou a ocupar o cargo de gerente de Meio Ambiente, mas foi exonerado e teve de voltar à função de origem – operador de serviços públicos.
“Cícero falava dentro da Câmara que deu dinheiro para todos os vereadores para ser eleito presidente da Casa. Ao requerido [Adriano], Cícero deu um cargo de diretor, ocupado por Regivan Moraes da Silva, amigo e cabo eleitoral na campanha de vereador. Em troca do voto de Elias Alves, deu o cargo de primeiro-secretário, que recebia verba de gabinete maior que os demais”, afirma no depoimento ao qual o Campo Grande News teve acesso.
Carro oficial – Outra revelação feita por Adriano contra Cícero dos Santos é sobre o uso de carro oficial para fins particulares. Segundo ele, o filho de Cicinho viajava frequentemente para Dourados, onde faz faculdade de direito, no carro da Câmara, conduzido pelo motorista do Legislativo de Naviraí. Adriano afirmou que sempre faltava carro para viagens oficiais dos vereadores porque o veículo estava sendo usado pelo filho do presidente.
Assim como o ex-assessor Rogério dos Santos Silva, o “Dill”, Adriano diz temer por sua integridade e de sua família. O Ministério Público em Naviraí informou que até agora nenhum dos dez acusados de corrupção que estão presos pediu a chamada “delação premiada”, que permite a acusados de crime colaborar com as investigações em troca de uma pena menor.
Corrupção em Naviraí – Os vereadores Cícero dos Santos, Adriano José Silvério, Carlos Alberto Sanches, Marcus Douglas Miranda e Solange Melo foram presos no dia 8 de outubro durante a Operação Atenas acusados de fazer parte de um esquema de corrupção que incluía recebimento de diárias fraudulentas, extorsão de empresários, fraude de licitações e recebimento ilegal de empréstimos consignados feitos por assessores da Câmara. Solange renunciou ao mandato no início deste mês.
Também foram presos os assessores da Câmara Wagner Nascimento Máximo Antônio, Rogério dos Santos Silva, o “Dill”, e Thiago Caliza da Rocha, Carlos Brito de Oliveira, o Baiano, que prestava serviço de sonorização e gravação de vídeo para a Câmara, e Mainara Gessika Malinski, mulher de Cícero. Todos continuam presos.
No dia 31 de outubro, o juiz Eduardo Magrinelli Junior acatou a denúncia do Ministério Público contra as dez pessoas presas e contra os vereadores Elias Alves (Pros), o “Elias Construtor”, Gean Carlos Volpato (PMDB) e Vanderlei Chagas (PSD), que não foram detidos, mas acabaram denunciados pelo MP e já estão afastados dos cargos.
Cícero dos Santos, apontado como o articulador do esquema de corrupção, é o único dos 13 réus que responde por cinco crimes – organização criminosa (pena de 3 a 8 anos), corrupção passiva (2 a 12 anos), peculato (2 a 12 anos), fraude em licitação (2 a 4 anos) e lavagem de dinheiro (3 a 10 anos).
Marcus Douglas, que está em prisão domiciliar por ser advogado, responde por organização criminosa, corrupção passiva e peculato (quando servidor público se apropria de valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desvia em proveito próprio ou alheio).
Solange Melo responde por peculato e organização criminosa e Carlão por organização criminosa e corrupção passiva. Mainara responde por lavagem de dinheiro e organização criminosa e Carlos Brito de Oliveira por fraude à licitação, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Os ex-assessores são réus por peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa.