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Cidades

Na estrutura da Polícia Militar falta o básico, de fardas a viaturas

Nadyenka Castro e Helton Verão | 22/05/2013 16:41
Na casa de Erissom, a porta arrombada por ladrões em plena luz do dia. (Foto: João Garrigó)
Na casa de Erissom, a porta arrombada por ladrões em plena luz do dia. (Foto: João Garrigó)

Os dias de negociações salariais entre PMs e governo trouxeram às rodas de conversas com policiais militares de Mato Grosso do Sul as velhas reclamações das condições de trabalho. Nas ruas, junto à população, também não faltam críticas a atuação dos homens responsáveis pelo policiamento preventivo.

Policiais e população enxergam a situação de ângulos diferentes, mas ambos vêem que falta estrutura. Para a Associação de Cabos e Soldados e Bombeiro Militar, o problema é resultado da falta de administração. “Não é culpa do comandante [da PM], é ingerência da Sejusp [Secretaria de Justiça e Segurança Pública]”, fala o presidente da Associação, Edmar Soares da Silva.

Enquanto moradores reclamam que não há rondas nos bairros e que ladrões se aproveitam dessa situação, os homens de farda justificam dizendo que faltam viaturas e efetivo. “Eles entregam mil e tantas viaturas, mas, onde estão?”, questiona o sindicalista, afirmando que “se tiver 20 viaturas na cidade é muito. Há também as motos”.

“Aqui a gente só vê a Polícia passando quando acontece alguma coisa, antes de acontecer não vê”, diz uma moradora do Jardim Petrópolis que prefere não se identificar. No outro canto da cidade, no Residencial Flores, a crítica é a mesma, com agravante de que quem lá mora, tem medo de sair de casa para não ter surpresa na volta.

O professor Erisson Rodrigues Sanches saiu para trabalhar e ao retornar, encontrou o portão de elevação da residência arrombado, a janela lateral também, o interior do imóvel revirado e viu que havia sido mais uma vítima da violência urbana. Da casa dele foram levados eletrônicos e, para evitar que ladrões entrassem novamente, Erisson afirmou que iria investir em câmeras e alarmes. “Tudo para me proteger”, disse.

Para a Associação de Cabos e Soldados, se tivesse mais viaturas e mais efetivo relatos como estes seriam bem menos freqüentes. Sobre os carros oficiais, Edmar Soares declara que “o que tem está deficiente. Uma não tem extintor de incêndio, outra não tem freio”, exemplifica, culpando também a burocracia como causa de muitos estarem parados. “Para trocar uma pastilha, por exemplo, são 45 dias”.

A PM tem atualmente 1.500 viaturas, 20%, ou 300, paradas para a manutenção. Uma alternativa seria a locação de carro, vetada pelo governo do Estado. Com a locação, advoga policiais, a empresa seria obrigada a substituir os carros estragados em até 24 horas. “É uma proposta maravilhosa”, avalia o presidente da Associação.

No interior, um exemplo da situação crítica é em Coxim, cujo batalhão é responsável também pelo policiamento de Sonora e São Gabriel do Oeste. São quatro viaturas, fabricadas em 2008. Agora, elas passaram a apresentar problemas mais graves: duas estão com motor fundido, mas, uma ainda roda. “A gente faz o atendimento dentro do possível”, afirma um policial que preferiu não se identificar para evitar retaliações.

Viatura abandonada oficina na avenida Filinto Muller, em Campo Grande.
Viatura abandonada oficina na avenida Filinto Muller, em Campo Grande.

Efetivo – Enquanto em 2012 havia cerca de 6,1 mil policiais militares em Mato Grosso do Sul, atualmente são 600 a menos. A média de pedidos para reserva é de cinco por dia, sendo um por tempo de serviço. Os demais saem em busca de emprego melhor. “O policial vai ficando desacochado”, diz Edmar Soares.

Ele acrescenta que o efetivo fica comprometido não só pelas saídas de policiais, mas também devido aos afastamentos. “O policial tem tido problemas psicológicos. Ele reclama do salário, das condições de trabalho”.

Coxim, também é um exemplo da falta de pessoal para trabalhar. “Há quatro anos não entra ninguém aqui. Já saíram 60”, diz outro militar que também preferiu não se identificar.

Enquanto falta gente para trabalhar diretamente em prol da população, Dionathan Celestrino tem diariamente quatro policiais só para ele. Apreendido após matar três pessoas em outubro de 2008, em Rio Brilhante, ele ficou três anos internado legalmente e, desde 2011, protagoniza um impasse: a Justiça determinou internação psiquiátrica, o Estado procura local adequado e, desde 3 e maio, o Maníaco da Cruz está na Santa Casa, em um quarto só para ele, com escolta, que já seria uma guarnição a mais nas ruas.

Fardas e armas – “Se o policial está bem fardado é porque está comprando com dinheiro do próprio bolso”, resume o presidente da Associação de Cabos e Soldados. Segundo Edmar Soares, o governo não dá o uniforme “há mais de três anos”, sendo que, de acordo com ele, “por lei deveriam ser entregue fardas duas vezes por ano”.

Sobre as armas e munições, Edmar declara que há policiais que, cansados de esperar a burocracia, tiram dinheiro do próprio bolso para comprar os equipamentos de trabalho.

Prédios – De acordo com Edmar Soares, “tem prédio caindo, que é um lixo”, resume as condições de vários imóveis onde funcionam unidades da PM no Estado. “Isso é uma obrigação da Sejusp, mas, eu mesmo [sindicato] já reformei alojamento inteiro, com dinheiro do associado”.

O sindicalista cita como exemplos de prédios que precisam de reformas o do 1º Batalhão, na Vila Sobrinho, o posto de Anhanduí e o de Jardim. No interior, mais uma vez o exemplo vem de Coxim: lá, os policiais podem ficar ‘sem endereço’ a qualquer momento. É que o imóvel foi leiloado e para os donos tomarem posse, só falta a ordem judicial de despejo.

A unidade funcionava em outro local, nas proximidades do rio, quando, há 24 anos, houve uma enchente e ‘levou’ o imóvel. Desde então, a sede do 5º Batalhão da PM está no prédio da antiga Santa Casa. Como o hospital tinha cerca de R$ 1 milhão em dívidas – trabalhistas e fiscais -, o imóvel foi a leilão.

Agora, os policiais podem ser despejados a qualquer momento. No entanto, não têm para onde ir. A Prefeitura de Coxim já doou uma área para construção, o projeto já existe no papel. Nenhum tijolo foi erguido.

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